José Reinaldo admite provável retorno ao grupo Sarney
Deputado federal José Reinaldo demonstra certo pessimismo em receber o apoio do governador Flávio Dino para as eleições de outubro e não descarta volta ao grupo Sarney
A candidatura ao Senado do deputado federal e ex-governador José Reinaldo Tavares (sem partido) pela chapa do governador Flávio Dino (PCdoB) está por um fiapo. Desde o meado do ano passado que ele vem anunciando deixar o PSB, mas somente agora definiu, para o próximo dia 10 de março, a filiação ao DEM, com a presença de vários nomes nacionais do partido, sem descartar até o presidente ACM Neto, prefeito de Salvador.
Também Rodrigo Maia, presidente da Câmara, está confirmado, talvez até lá como candidato a presidente da República, motivo de suas recentes divergências com o presidente Michel Temer, que já sonha com a reeleição, caso Lula seja preso e inviabilizado. José Reinaldo, que já foi da Arena, do PFL e do PDS, nos bons tempos de Sarney, acabou no PSB, partido socialista que anda longe de suas convicções ideológicas.
A entrada no DEM já provoca enorme barulho no Palácio dos Leões, onde o nome de José Reinaldo para compor a chapa de Dino, como o segundo nome ao Senado, já está praticamente descartada. O próprio José Reinaldo disse ontem (23) a O Imparcial que não conta mais com essa possibilidade, ao admitir, sem indicar nomes, que pode se incorporar a outra candidatura majoritária. O motivo da ruptura: “Vou contar depois, não agora”, afirmou.
“Se o Flávio Dino não me quer, tem quem queira”, brincou José Reinaldo, em tom de ironia. Mas foi evasivo quando indagado se toparia fazer parte da chapa de Roseana Sarney (MDB), com cujo grupo Sarney ele rompeu em 2006, quando ajudou a eleger Jackson Lago governador e apoiou Flávio Dino para deputado. Tudo em meio a um terremoto político, alegando que Roseana, de quem foi vice em 1998, queria tomar conta do governo.
“Na política, tudo é possível. A política é dinâmica e tudo pode acontecer, mas vamos ver mais para frente”, desconversou, ao ser perguntado se estaria disposto a voltar ao grupo Sarney e se incorporar à chapa majoritária de Roseana. Logo em seguida, Reinaldo se corrigiu, ao acrescentar que não apoiará, em hipótese alguma, a candidatura de Roseana.
“Vou cuidar de mim”
“Agora, vou cuidar da minha vida. Pelo andar da carruagem, não serei candidato pela chapa do Flávio [Dino]”. E qual seria o motivo? Ele respondeu: “Por falta de interesse dele [governador]. Não tem demonstrado interesse já há algum tempo”.
Disse que se dá bem com os Sarney e, vez por outra, conversa com o ex-presidente da República, chefe do grupo oligárquico. “Mas não sobre eleição ou candidatura”, atalhou ele.
Sempre em tom lacônico, José Reinaldo acrescentou que, mesmo tendo reatado as conversas com Sarney, garante não estar disposto ao realinhamento político com Roseana. “Devo ir para outra chapa”, arrematou. Sobre o possível alinhamento com o senador Roberto Rocha (PSDB), candidato a governador e inimigo político de Flávio Dino, Reinaldo apenas respondeu com uma frase indefinida: “Também me dou bem como ele. Aliás, me dou bem com todo mundo”. Lembrou que existem outras candidaturas postas, que lhe poderiam servir de abrigo. Não revelou, porém, quais se adequariam ao seu projeto de Senado, fora do tronco Flávio Dino-Roseana Sarney-Roberto Rocha.
As divergências de José Reinaldo com Flávio Dino têm dois eixos: o ideológico, por ele ser declaradamente contra o comunismo, mesmo sendo filiado ao PSB, e o político regional. Votou contra a posição de Flávio Dino no impeachment de Dilma Rousseff, a quem havia prometido ser contra. Depois apoiou todas as medidas de Michel Temer, a quem rasgava elogios com as reformas para salvar o Brasil. Flávio Dino sempre foi contra isso. Agora o ingrediente novo foi o DEM, que o deputado federal Juscelino Filho levou para a aliança com o PCdoB, mas José Reinaldo trabalha no sentido inverso. Sua entrada no DEM está demorando para esperar o desfecho da crise nacional, onde o deputado Rodrigo Maia pode ser o candidato do DEM contra Michel Temer. Como José Sarney foi historicamente ligado ao cacique baiano Antônio Carlos Magalhães, com o DEM agora presidido por ACM Neto, o partido pode ser sacado da coligação comunista para aliança com o MDB de Roseana Sarney.