ELEIÇÕES 2016

O jogo sujo no submundo das campanhas políticas

O 2º turno das eleições para prefeito em São Luís, além das campanhas oficiais, ataques são operados por meio de blogs, redes sociais e aplicativo

O segundo turno da corrida ao cargo de prefeito em São Luís, disputado entre o candidato à reeleição Edivaldo Holanda Júnior (PDT) e o deputado estadual Eduardo Braide (PMN), tem sido marcado não apenas pela disputa acirrada entre os candidatos e seus apoiadores em busca da preferência do eleitorado. Além de propostas para a cidade, e longe das propagandas oficiais no rádio e na televisão, ataques às candidaturas são operados por meio de publicações em blogs políticos, em postagens nas redes sociais e disseminados em aplicativos de mensagens instantâneas.
São ataques constantes simulando falsas denúncias que ensejam crimes de favorecimento, desvios de recursos públicos e também de falsas informações sobre os candidatos.
Além disso, há postagens em blogs que se utilizam de falsas informações sobre o histórico dos candidatos, supostas dívidas com o erário público, explicitação de valores globais de licitações contratadas, sem explicitar o conteúdo das mesmas, entre outros factoides.
Ainda no campo do jogo de bastidores, tornaram-se alvos fáceis os familiares dos candidatos. O deputado estadual Edivaldo Holanda (PTC), pai do candidato à reeleição Edivaldo Holanda Júnior (PDT), e o ex-deputado estadual Carlos Braide são constantemente citados nas postagens, em tentativas de atrelar decisões políticas equivocadas ou denúncias de supostos crimes eleitorais e de agiotagem cometidos pelos políticos, de modo a confundir o eleitor e deslocar o foco do debate dos candidatos.
Em outro polo, formado por disseminação de factoides por meio de aplicativos de mensagens instantâneas como o WhatsApp, apoiadores de campanha utilizando seus perfis em redes sociais, acontece um fenômeno parecido, mas que tem como foco de ataque as esposas dos candidatos. Entre as “denúncias” são alegadas desde a genérica falta de compromisso com a assistência social, até mesmo ataques diretos, como a acusação de má gestão de programas sociais municipais pela atual primeira-dama. Sempre sem comprovação direta.
Para o cientista político e advogado Diogo Guagliardo, existe uma tradição na política local de protagonismo da destruição de imagens nas campanhas políticas. “Pode-se compreender uma tradição em nossa cultura política da destruição de reputações, fruto do personalismo político, da fraqueza ideológica dos partidos e da ausência de perspectivas e propostas sobre modelos de gestão pública. No Maranhão, esse fenômeno é recorrente e remonta ao século XIX, com a edição de panfletos apócrifos que tinham o único objetivo de minar opositores políticos expondo práticas da vida privada ou mesmo atribuindo crimes inexistentes aos protagonistas de campanhas”, assinalou.
O cientista político cita o caso de Ana Jansen, a quem foi atribuída uma verdadeira mitologia de crueldade e corrupção. “Ana Jansen sofreu ao longo de sua vida diversos ataques que lhe atribuíam a imagem de crueldade com os escravos, condutas sexuais improprias para a época, como a existência de múltiplos parceiros e acusações de fraudes e desvios de recursos públicos. Por outro lado, ela também produziu estes factoides, como nos casos em que era questionada a sexualidade de seu opositor, Cãndido Mendes, por este não usar barba, como era padrão à época”, destacou.
Diogo Guagliardo afirma que a permanência dessas estratégias de ataque pessoais permanecem no jogo político em todos os locais, mas em realidades marginais ou periféricas, ganham amplitude. “Até mesmo nas campanhas presidenciais americanas, em que há um debate de ideias mais aprofundados, permanecem resquícios das práticas difamatórias. A diferença é que em outros locais isso é um dos componentes da disputa, em realidades periféricas ou marginais, como a nossa, se torna a regra em todas as disputas”.
No mesmo sentido, a professora e cientista política Marcella Vieira enxerga o protagonismo dos ataques difamatórios nas campanhas políticas no estado. “Com a popularização das redes sociais digitais, há um acirramento da produção e divulgação de factoides nas campanhas políticas locais. Apesar de existir na legislação eleitoral a proibição aos ataques anônimos, ou à produção de informações falsas, a fiscalização é insipiente e poucos casos chegam a ser denunciados e os autores responsabilizados, o que gera uma licença tácita à continuidade do jogo sujo”, disse.
No entendimento da pesquisadora, a mudança desses hábitos passa por uma mudança de cultura política, algo que não acontecerá a curto ou médio prazo. “Infelizmente nossa tradição político-partidária continua sendo pouco pautada nas ideologias, e deverá continuar assim por bastante tempo, devido a questões que perpassam nossa formação cultural. A mudança desse tipo de postura depende do amadurecimento de nossa democracia e de nossas instituições, algo que não se modifica a curto ou médio prazo”, finalizou.
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