Na reta final para as eleições municipais, em todas as cidades maranhenses os partidos lutam para alcançar êxito no pleito de outubro e ampliar sua rede de influência nos redutos eleitorais. Para isso, a aposta, muitas vezes, é na continuidade ou retomada do poder por grupos políticos de expressão regional. São sobrenomes já conhecidos da população, que muitas vezes se confundem, no imaginário popular, com a própria história de determinadas cidades.
Os filhos, netos e apadrinhados dessas famílias tradicionais da política maranhense nasceram e cresceram em um ambiente cercado por tios, primos, avós que “fizeram carreira” como políticos. O que poderia ser entendido como um caminho “natural” é, na opinião de estudiosos, a expressão dos traços oligárquicos que sempre estiveram presentes na política brasileira.
Vários trabalhos de âmbito nacional já se debruçaram sobre a questão oligárquica brasileira, e, em contexto local, seus estudos apresentam-se como norteadores à compreensão da maneira como se processam essas relações.
A cientista política e advogada Marcella Vieira Gomes entende que o controle dos partidos, de recursos necessários para a condução de campanhas esses grupos políticos tornam muito complicada a tarefa daqueles que tentam ocupar ou renovar a esfera política sem o seu apoio.
“As famílias reduzem as chances renovação da política e os partidos não conseguem incorporar esses jovens que estão na rua ‘atuando’ politicamente, como é o caso dos que se destacam em redes sociais, ou no movimento estudantil, por exemplo, o que é bastante nocivo para o processo democrático”, destacou.
Em seu livro Teias do Nepotismo, o cientista político, sociólogo e professor da UFPR, Ricardo Costa de Oliveira, investiga, entre outras questões, as relações de parentesco entre os membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Segundo a sua obra, mais de dois terços dos senadores são membros de famílias políticas e metade dos deputados federais pertence a clãs influentes politicamente. Em contato por e-mail, o pesquisador destaca o crescimento deste fenômeno em todo o país.
“Em minha análise, que tem como recorte a esfera federal, é possível observar que os jovens deputados federais, aqueles com menos de 35 anos, quase todos também pertencem a famílias políticas, e os nossos dados de pesquisa mostram que esse é um fenômeno em crescimento em todo o Brasil”, afirmou.
O cientista político e professor Alfredo Souza Brito destaca a existência de processos de renovação após a década de 1980, com a redemocratização, e, recentemente, com a eleição de Flávio Dino ao governo do estado em 2014. Ele destaca que, no entanto, pode estar em curso apenas uma alternância de grupos, mas não da lógica de poder. “Quem entra no poder acaba se fechando. Pode notar que boa parte da política brasileira ainda é comandada por quem já comandava no início da redemocratização. Os novos grupos surgem, mas também se solidificam. A lógica de proximidade, de amizade e pouco focada na ideologia continua imperando nas relações políticas, sobretudo nos municípios menores”, ressaltou.
Buscando entender e traçar um panorama das famílias que dominam a política no interior maranhense, O Imparcial levantou dados sobre alguns clãs que permeiam o ambiente político em nosso estado e, claro, estarão presentes na disputa de outubro.
FAMÍLIA MACEDO
Presentes há cerca de 20 anos no cenário político, a família Macedo conta em 2016 com Hernando Macedo, que é candidato à reeleição, tendo a companhia de Pablo Macedo, como candidato a vice-prefeito, em Dom Pedro. Na política, a família também com o deputado estadual Fábio Macedo (PDT), irmão de Hernando, que já exerceu o cargo de presidente do diretório do partido em Dom Pedro e secretário de Administração municipal. Dedé Macedo é quem comanda a família, embora não dispute cargos eletivos atualmente.
FAMÍLIA PONTES
Raimunda Maria Pessoa Menezes (PSD) é apoiada pela família Pontes em Chapadinha. O pequeno clã construído por Antonio Pontes de Aguiar, que iniciou sua carreira como vereador, foi prefeito da cidade em duas ocasiões, deputado estadual por seis mandatos consecutivos e novamente vereador, domina a política local há mais de 30 anos. Embora não lancem um candidato com laços familiares diretos, atualmente o deputado estadual Levi Pontes (PCdoB) representa a família que também teve a figura histórica de Hilton Pontes, que exerceu mandato de vereador na cidade por cinco mandatos consecutivos.
FAMÍLIA FUFUCA
Há cerca de 20 anos ocupando espaços na vida política maranhense, a família Dantas é representada atualmente por dois principais nomes.
O ex-deputado estadual Francisco Dantas Ribeiro Filho (PMDB), mais conhecido como Fufuca Dantas, é candidato mais uma vez a prefeito em Alto Alegre do Pindaré, cargo que já ocupou em duas legislaturas. Além de Fufuca pai, atualmente seu filho, André Fufuca, é deputado federal pelo PV.
FAMÍLIA ROCHA
Uma das mais tradicionais famílias da história da política maranhense, iniciou seu domínio com Luís Rocha, que chegou ao governo do estado e ao Senado representando o Maranhão. Seu filho, Roberto Rocha, é atualmente senador pelo estado e tenta emplacar seu filho, Roberto Rocha Júnior, como vice-prefeito de São Luís, na chapa capitaneada por Wellington do Curso.
O irmão de Roberto Rocha, Luiz Rocha Filho (PSB), não será candidato à reeleição em Balsas, onde é prefeito, devido a problemas de saúde. Caso se restabeleça, deverá concorrer a uma vaga de deputado em 2018.
FAMÍLIA GONÇALO
A família Gonçalo conta com o médico Hilton Gonçalo buscando mais uma vez a cadeira de prefeito em Santa Rita. Sua esposa, Fernanda Gonçalo é candidata pelo PMN à prefeitura de Bacabeira. Já a irmã de Hilton, Iriane Gonçalo de Sousa Gaspar é a atual prefeita de Pastos Bons, e tenta reeleição pelo Solidariedade. Antônio Elizabeth Gonçalo, irmão de Hilton e Iriane é ex-prefeito de Pastos Bons, mas atualmente apenas se empenhará no apoio aos dois candidatos a prefeito.
FAMÍLIA TELES
Em Barra do Corda, Manoel Mariano de Sousa, o Nenzim, que já foi prefeito da cidade, construiu um grupo que está na política há cerca de 20 anos. Seu filho, Júnior do Nenzin, é a tentativa da família para retornar ao comando da prefeitura Junior é irmão de Rigo Teles, atualmente deputado estadual e Pedro Teles, que já concorreu em outros pleitos.
FAMÍLIA MURAD
Outra família tradicional na política maranhense, os Murad têm em Coroatá um dos últimos redutos eleitorais. A atual gestora do município, Tereza Murad (PMDB), tenta a reeleição em 2016. Andréa Murad (PMDB), filha de Tereza é atualmente deputada estadual. Nome de maior destaque da família, já tendo sido candidato à prefeitura de São Luís e exercido mandatos como deputado estadual, Ricardo Murad atualmente concentra esforços para a reeleição da esposa.
FAMÍLIA COUTINHO
Leonardo Barroso Coutinho (PSB) tenta a reeleição para o cargo de prefeito de Caxias. Ele é neto de Eugênio de Sá Coutinho, que deu início à vocação política da cidade. O tio de Leonardo, Ferdinando Coutinho “Grandão”, é candidato a prefeito em Matões pelo PSB, onde atualmente é vice-prefeito e já ocupou a cadeira de presidente da Câmara Municipal. O patriarca Eugênio de Sá Coutinho também é pai do atual deputado estadual Humberto Coutinho e de Edmundo Coutinho, que já foi vereador na cidade.
