POLÍTICA MUNICIPAL

Eleições 2016: O poder da intenção do voto

Até onde pesquisas em período não eleitoral refletem a verdade? Resultados podem influenciar intenção de votos do eleitorado

A pouco mais de dois meses para o primeiro turno das eleições municipais de 2016, o cenário desenhado pelas pesquisas de intenção de voto a prefeito de São Luís é de incerteza. Quatro institutos de pesquisa já divulgaram seus resultados, entre abril e julho deste ano, e três pré-candidatos figuram com chances numéricas de disputar um eventual segundo turno.
Até que ponto, porém, a divulgação dos resultados obtidos nas pesquisas de preferência do eleitorado em um período anterior à formalização das candidaturas nas convenções partidárias pode ser considerada válida ou somente uma estratégia de campanha dos postulantes a candidatos?
Buscando esclarecer estes dados, O Imparcial ouviu especialistas para traçar um panorama das pesquisas e os desdobramentos do cenário ora apresentado.
A doutora em Ciência Política pela PUC-SP e professora do curso de Ciências Sociais da UFMA, Célia Motta, alerta para a necessidade de cautela na análise dos resultados das pesquisas no período em que alguns nomes não foram confi rmados no pleito e as convenções partidárias ainda estão em curso. “A divulgação de pesquisas pré-eleitorais é uma estratégia inicial das campanhas. Mesmo não ofi ciais, os nomes são apresentados de forma quase indutiva para a escolha, que se limita a um quadro com uma sequência de nomes, às vezes desconhecidos, restando a quem responde “escolher” ou repetir os indicados. Assim, antecipa-se a ofi cialização dos nomes sugeridos, confirmandos com essa ‘escolha’”, explicou.
O especialista em comportamento político e opinião pública e doutorando em Ciência Política pelo IPOL-UnB, André Bello, aponta que em razão da crise econômica e política, além do aumento dos preços dos produtos e do desemprego, o eleitor torna-se mais conservador, tendendo a arriscar menos. “O eleitor busca candidatos com mais experiência para resolver os problemas da cidade com menos recursos em um momento de indecisões políticas. Nesse contexto, candidatos com menor experiência e visibilidade tendem a ser desfavorecidos”, destacou.
A valsa dos percentuais
Divulgada em 11 de abril, a pesquisa encomendada pelo PMDB ao Instituto Escutec deu início à série de pesquisas registradas pelo TSE para a o pleito de outubro.Nos cenários estudados, a pré-candidata Eliziane Gama (PPS) aparecia em primeiro lugar. Tecnicamente empatados, se considerada a margem de erro, apareciam o atual prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT), e o ex-prefeito João Castelo (PSDB). Em quarto lugar figurava Rose Sales (PMB), seguida por Fábio Câmara (PMDB) e João Bentivi (veja gráficos nesta página).
Realizada entre 4 a 7 de junho, a pesquisa Econométrica/Classmídia já não trazia, em seus dois cenários, o ex-prefeito João Castelo como possível candidato. As duas primeiras posições em intenção de voto permaneciam as mesmas da primeira pesquisa: Eliziane Gama e Edivaldo Holanda Júnior. A novidade foi Wellington do Curso, que apareceu em 3º lugar nas intenções. Estacionada na quarta posição permanecia Rose Sales (PMB).
Apresentada em 18 de junho pelo Instituto Exata, a pesquisa apresentou Edivaldo Holanda e Eliziane Gama empatados nos dois cenários pesquisados. Wellington do Curso se consolidou na terceira posição. A Pesquisa Prever /TV Difusora, divulgada em 23 de junho apontou um novo empate técnico entre os três principais pré-candidatos. Os outros pré-candidatos citados foram Bira do Pindaré, em quarto; seguido por Eduardo Braide (PMN), Rose Sales (PMB), Fábio Câmara (PMDB) e João Bentivi (PHS).
Exatos três meses antes da eleição, foi divulgada a segunda pesquisa realizada pela Escutec. Foram apresentados dois cenários, levando em consideração uma possível desistência de Bira do Pindaré. Sendo candidato, Eliziane lidera seguida por Edivaldo e Wellington do Curso. Bira aparece em quarto. No cenário sem a presença de Bira, não há alteração nas posições dos primeiros em intenção, os retardatários na preferência do eleitorado pesquisado permanecem na mesma ordem, crescendo apenas décimos na pesquisa.
Segundo turno
O consultor André Bello projeta uma grande possibilidade de segundo turno, baseado nos resultados das pesquisas realizadas. “Próximo à definição final dos nomes da disputa, e com o menor tempo de campanha nestas eleições, há uma tendência que nenhum dos candidatos ultrapasse os 50% ainda em primeiro turno em São Luís”, indicou.
Para Célia Motta, a pequena variação das porcentagens que pressupõe a possibilidade de um segundo turno. Contudo, ela aponta que até a data da eleição pode haver alterações no cenário. “Qualquer afirmação seria precipitada neste momento. Nos segundos turnos, geralmente há certa polarização político-partidária, mas, até lá, podem ocorrer escândalos de última hora ou tragédias que causem comoção e alterem o quadro inicial”, observou.
Em comum, os dois cientistas destacam a importância da definição fi nal das coligações partidárias e dos candidatos vice-prefeito, que acontecerá durante as convenções partidárias municipais, no período de 20 de julho a 5 de agosto, para um entendimento real do cenário de campanha.
Rejeição
Ainda que lidere em todas as pesquisas até o momento, Eliziane Gama estagnou seu crescimento nas intenções de voto, ao mesmo tempo em que viu seu índice de rejeição saltar de 3% para 10% no intervalo entre as pesquisas realizadas pela Escutec. Apesar disso, André Bello aponta que a pré-candidata possui margem para crescimento no cenário apresentado. “Eliziane possui um saldo positivo entre seu índice de intenção de voto e rejeição, o que indica que há espaço para crescimento durante a campanha oficial”, afirmou.
André Bello ressalta que o prefeito Edivaldo Holanda enfrenta o alto índice de rejeição como principal desafio a ser superado durante a campanha. Próximo aos 35%, segundo a pesquisa Escutec divulgada em julho, o crescimento de sua campanha está atrelado à diminuição rápida deste índice. “Durante a campanha, Edivaldo terá tempo para mostrar algumas realizações, o que poderá ajudar a diminuir a rejeição ao seu nome”.
O pré-candidato Wellington do Curso surge como terceira via, crescendo no vácuo gerado pela estagnação de Eliziane, e a alta rejeição de Edivaldo. Seu índice de intenção de voto é potencializado entre os eleitores que rejeitam simultaneamente Edivaldo e Eliziane. André Bello destaca que “o saldo entre a intenção de voto e a rejeição é o menor entre os pré-candidatos citados nas pesquisas, mas só durante o período de campanha será possível avaliar a solidez deste crescimento”.
O consultor ainda destaca que Bira do Pindaré pode alavancar seu crescimento na mesma linha do Wellington do Curso, entre aqueles eleitores que rejeitam Edivaldo e Eliziane. O principal desafi o a ser superado é a própria indecisão acerca da candidatura, algo que o prejudica na formação de alianças políticas e abala a confi ança do eleitor. “Se o eleitor não acredita na candidatura, ele não irá dizer que votará no Bira, quando perguntado na pesquisa”, afi rmou André Bello.
Fábio Câmara e Rose Sales. Na análise de André Bello, a intenção de voto dos dois candidatos está em uma curva decrescente. Ele aponta como possíveis motivos a falta de apoio político interno, no caso de Fábio Câmara e a falta de expressividade partidária, no caso de Rose Sales. “O saldo negativo aponta que eles possuem poucas chances”, finaliza.
Saiba como funcionam as pesquisas políticas
• São realizados dois tipos de pesquisas, quantitativas e qualitativas.
• As quantitativas são feitas com público específico, buscando reproduzir no universo abrangido as múltiplas especificidades da população. As pessoas consultadas são selecionadas proporcionalmente por sexo, idade, escolaridade e renda, para que o grupo se aproxime ao máximo das características gerais da população.
• Já as pesquisas qualitativas costumam ser utilizadas para consumo interno das campanhas, composta por um número menor de pessoas, que, por meio de entrevistas aprofundadas e grupos de discussão, apontam virtudes e pontos falhos dos candidatos pesquisados.
• A abrangência defi ne o tamanho da amostra utilizada. Em média são utilizados de 1.000 a 3.000 questionários em pesquisas de cunho eleitoral, independentemente do tamanho da população total.
• A margem de erro é o intervalo entre o resultado obtido no grupo pesquisado e o possível se tomada a população como um todo.
• O intervalo de confi ança representa a probabilidade de ocorrência de um resultado, ou seja, se é estabelecido um intervalo de 5%, de cada 100 questionários respondidos, ao menos 95 apresentarão os resultados na faixa que foi divulgada pela pesquisa.
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