ENTREVISTA

Tia Eron sofreu muita pressão, mas comemora voto: ‘Eu fiz o meu dever’

Em silêncio até ser o voto decisivo no parecer pela cassação de Cunha, deputada diz ter atraído para si ‘toda a cólera do Brasil’

Ao dizer sim à cassação do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no Conselho de Ética, Tia Eron (PRB-BA) foi do inferno ao céu. Durante uma semana, a deputada que tinha o destino de Cunha nas mãos, recebeu todo o tipo de pressão e agressão. As páginas das redes sociais dela nunca haviam sido tão acessadas e os telefones não pararam. Ontem, antes de sua entrevista, a Tia, como é chamada pelos colegas, entrava ao vivo no Facebook. A imensa maioria dos comentários foi de elogios a essa “nega que ninguém manda”, nas palavras da própria Tia Eron. “Ficou feio e todo mundo caiu do cavalo e agora a Tia Eron é consagrada, avançam e depois precisam morder a língua”, diz a deputada. O dia seguinte à votação foi de glória. Apesar de a Tia afirmar que voltou à rotina de trabalho, ela foi procurada pela imprensa, parlamentares e prefeitos. Quanto ao “sumiço”, a baiana de primeiro mandato como deputada federal garante que a decisão estava tomada e foi baseada em provas. “Sem dizer nada, eu já tinha votado e já estava condenada, trucidada e hostilizada. Mais do que o próprio deputado Eduardo Cunha, a Tia Eron atraiu toda a cólera do Brasil para si”, disse. Aos 44 anos, a mãe de Éden e Eva olha nos olhos enquanto fala e garante que não foi procurada por Eduardo Cunha em nenhum momento. “Se eu dissesse que sim, estaria sendo injusta.” Pela coerência, o voto no plenário será o mesmo e acredita que Cunha não tem mais condições de presidir a Casa.
Em um dia, a senhora estava sendo muito criticada, no outro, virou a heroína do Brasil. Como é isso?
É um paradoxo meio camaleônico, algo bem próprio do ser humano. Por isso que eu digo que a política é um lugar excelente para se conhecer gente. Não bote em casa, traz para a política que você vai saber quem é traidor, quem é interesseiro, quem tem caráter. A política, de fato, tem a função maior de revelar as diversas faces deste poder, de despir. Isso é fantástico. Isso não me assusta. É uma experiência enriquecedora e desafiadora. Você tem que se manter imparcial e ter muito cuidado para não abrir esses flancos para não sofrer influência. A partir do momento que você confidencia um voto, você abre para que alguém diga ‘não é bem assim, eu acho que você deveria”, aí acabou. Veja que eu, sem dizer nada, eu já tinha votado e já estava condenada, trucidada e hostilizada. Mais do que o próprio deputado Eduardo Cunha, a Tia Eron atraiu toda a cólera do Brasil para si.
Isso te fez mal?
Olha, isso tudo fere a gente e dá tristeza. Sobretudo por ver o país equivocado e pouco questionador, pouco reflexivo. Acho isso perigoso, porque você vai reproduzindo o que dizem, vai aceitando e não tem a capacidade de elaborar o seu próprio raciocínio.
Os dois lados pressionaram?
Os colegas passaram a entender a minha postura. O primeiro momento foi estarrecedor. Tive meu nome mudado, meu nome era manobra, era aliada, por quê? Porque ela votou no Cunha, ela vibrou com a eleição do Cunha. Ele se elegeu só por minha causa? Isso é senso comum, é lamentável.
E o partido?
O meu partido também foi acusado na pessoa do presidente licenciado, o doutor Marcos Pereira, como se ele não tivesse capacidade alguma de ocupar o cargo de ministro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), como se não tivesse a bancada dos 22 deputados da bancada. Ele precisava do meu voto para ser ministro. Quem foi que plantou isso? Ficou feio, todo mundo caiu do cavalo e agora a Tia Eron é consagrada, avançam e depois precisam morder a língua. Espero que isso sirva de lição do que não se deve fazer.
Por isso a senhora se fechou?
Era necessário, importante. Eu não sou estrela, por que eu quero brilhar? Por que querem me fazer de artista? Não sou dada a esse assédio. Tenho que vir trabalhar. Tem quem goste de fazer do conselho bandeira política. Não é a minha proposta. Eu tenho um trabalho, tenho causas, compromissos, resultados que eu preciso dar e que não é em cima do conselho de ética, em detrimento da vida de A ou de B. É a capacidade de poder olhar aqui nos seus olhos, de poder andar livremente. E se fosse o contrário? De eu ter que absolvê-lo? Faria. Se prova não tivesse. Se não houvesse a fundamentação jurídica.
Mesmo com toda essa pressão?
Deus me livre de brigar com a minha consciência. Não dormiria mais. Consciência é um negócio muito maior do que essa pressão. A opinião não me parece ser razoável para construir um juízo justo, mas a consciência sim.
Eduardo Cunha lhe procurou?
Se eu dissesse que procurou, estaria cometendo uma injustiça. Respeitoso, assim como os outros colegas que estavam buscando a sua cassação. O que acontecia ali no conselho foi muita angústia, muita ansiedade. É pesaroso, porque o que você planta, você colhe. Quem com ferro fere, com ferro será ferido. É a lei natural da vida. O jogo é pesado para todos os lados. O Conselho de Ética não é para aquele que não aguenta descer para o play. É lugar de gente grande.
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