O governo José Sarney (1985/1990) contou com nada menos que três maranhenses despachando como ministros na Esplanada (Renato Archer, José Reinaldo, Vicente Fialho) e mais Roseana Sarney na Secretaria Especial da Presidência. Foram cinco anos de expectativas para tornar o Maranhão o estado mais promissor do Nordeste, o que na realidade não se confirmou. Pelo contrário, pouco alterou o quadro de dramas das históricas e seculares mazelas sociais gritantes, até hoje tidas como pautas emergenciais.
Já no governo de Itamar Franco (1992/95), o segundo vice do PMDB a chegar sem voto ao Palácio do Planalto, após o impeachment de Fernando Collor, a quota do Maranhão na Esplanada minguou para apenas um posto. O senador Alexandre Costa foi despachar no Desenvolvimento Regional, cargo essencial para atacar os problemas do Nordeste. Como diz o ditado que “uma andorinha só não faz verão”, o Maranhão não sentiu qualquer efeito diferenciado em sua relação federativa com o governo central.
“Não imagino que um governo interino e frágil vá se dedicar a fazer perseguições “, Flávio Dino, governador do Maranhão
Já Michel Temer, do mesmo PMDB, chegou ontem à chefia do governo brasileiro, mediante o impeachment da presidente Dilma. Com o país mergulhado numa aguda crise econômica e política (não muito diferente da que derrubou Fernando Collor), novamente os maranhenses ficam a se perguntar: “O que o Maranhão, em particular, tem a ganhar com o novo governo peemedebista?”.
Desigualdade social aumenta
Nos últimos 30 anos, desde quando o Maranhão chegou à Presidência da República com José Sarney, seu quadro social disparatado entre ricos e pobres virou um fosso cada vez mais dramático. Enquanto São Luís e algumas cidades do interior marcam essa desigualdade com suas paisagens arquitetônicas de luxo e uma robusta frota da carrões milionários, disputando o mesmo trânsito com carroças traçadas a jumento, um gigantesco esqueleto de obras inacabadas do governo federal se espalha por vários pontos do estado. A Refinaria Premium, o Polo de Confecção de Rosário, a Duplicação da BR-135, os projetos de diques da Baixada, os agrícolas de Salangô e Tabuleiro de São Bernardo são exemplos de que o Maranhão jamais se fortaleceu nessas três décadas de governos pós-regime militar, em que o grupo Sarney mandou na política local e nacional. Sem falar que o Ceará avançou, como exemplo de superação no Brasil, e o
Piauí já nem é mais o último da fila da pobreza. O Maranhão vive a se revezar nesse posto humilhante, com Alagoas.
Palafitas seculares
Foto: Reprodução.
Tabuleiro de São Bernardo
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Basta percorrer as periferias urbanas, com sua paisagem marcada por seculares conjuntos residenciais palafitados, para se imaginar que uma mudança de guarda no Palácio do Planalto terá pouco ou nada a alterar o cenário maranhense.
Saindo da capital para a zona rural, o quadro é mais grave ainda, com 30 municípios se revezando na lista dos mais miseráveis do Brasil, fato que mereceu a atenção do atual governo do PCdoB, com seu programa piloto “Mais IDH”, o qual muitos adversários torcem para não dar certo.
Se Michel Temer nomear dois maranhenses para sua equipe, só resta à população que mais despejou voto em sua chapa – para Dilma Rousseff – esperar que ele cumpra o seu papel de enfrentar os desafios macros da economia, mas também das regiões e dos estados esquecidos por todos que passaram por sua cadeira temporária no Planalto. O Maranhão, em particular, por ser o mais necessitado, precisa de políticas republicanas.
Dino não imagina perseguições
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Brasília – DF, 25/02/2015. Presidenta Dilma Rousseff recebe Flávio Dino, Governador do Estado do Maranhão. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR.
Como trata-se de uma virada de rumo na política, embora sendo com quase todos os atores protagonistas do enredo petista de 13 anos (exceto PSDB e DEM), a resposta para a indagação acima é simples. Há um risco de o grupo Sarney ressurgir com o motor retificado e partir para retaliar o governo comunista de Flávio Dino, caso obtenha força suficiente para isso. Mesmo levando-se em conta que Sarney e seu grupo foram tão ‘lulistas’ e ‘dilmistas’ quanto Dino. A diferença é que o governador manteve-se na trincheira anti-impeachment.
Flávio Dino disse à BBC, de Londres, que o senador Renan Calheiros “escolheu a opção da moda, seguindo à vontade da maioria qualquer que seja ela, sobre o processo insensato de impeachment”. Ele criticou a posição de Renan em não acolher o polêmico ato do vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão, anulando o prosseguimento do processo para começar um novo. Indagado pelo jornal Estado de S. Paulo sobre a possibilidade de Michel Temer retaliar o seu governo, Flávio Dino não minimizou: “Não imagino que um governo interino e frágil vá se dedicar a fazer perseguições”.
Acrescenta Dino que não é da feição de Temer usar esse tipo de atitude. E se diz tranquilo, porque tem “um governo legítimo, tem apoio popular, cumpre a lei e suas obrigações”. Ele não comentou o fato de Sarney Filho (PV) ser indicado para o Ministério do Meio Ambiente, cargo que já exerceu no governo Fernando Henrique, muito menos fez alusão à especulação da possível (até a manhã de ontem) ida do senador Roberto Rocha (PSB), citado como adversário de Flávio Dino, para a pasta de Minas e Energia.