Em seu pronunciamento na Câmara dos Deputados ontem, o líder do PDT na Câmara, deputado Weverton Rocha (MA), disse que a posição do partido contra o impeachment não representa uma defesa do PT e do governo, mas sim a luta para preservar a Constituição Federal. O PDT foi o décimo primeiro partido a subir à tribuna de sexta para sábado. A justificativa é a defesa da democracia, que não pode tirar do poder quem foi eleita legitimamente pelo voto popular. Em entrevista a O Imparcial, o deputado federal e líder da bancada pedetista no Congresso, Weverton Rocha, falou sobre o momento turbulento em que o país vive e como o PDT se prepara para o pós-votação do impeachment.
O Imparcial – Deputado, o senhor tem se mantido intensamente contra o processo de impeachment. Como líder da bancada do PDT na Câmara, essa é a posição do partido?
Weverton Rocha – O PDT é claramente contra o impeachment, a favor da democracia, porque não há base legal para o impedimento da presidenta Dilma. Não se pode transformar críticas e pontos negativos do governo em argumento para tirar da presidência da República uma cidadã eleita. Vamos nos posicionar e lutar, nossa bancada federal do PDT lutará, e não iremos permitir que o impedimento da presidenta aconteça sem nenhum fundamento legal que justifique essa atitude extremada.
Mesmo o senhor sendo favorável a Dilma, o PDT defende mudanças e até anunciou Ciro Gomes como pré-candidato em 2018. Como o senhor analisa essa posição do PDT?
O PDT desde o início do governo vem se posicionando com críticas claras à política econômica deste governo que ajudamos a eleger e, como bom aliado, temos feito também outras críticas internas. A pré-candidatura do companheiro Ciro Gomes a presidência é fruto de insatisfação com o governo atual, mas com um olhar propositivo. De reais soluções para a crise em que o país se encontra.
Qual a sua opinião particular sobre o processo de impedimento de Dilma? Está orquestrada uma manobra antidemocrática que não se pode aceitar. Mudança de governo se faz é na eleição, pelo voto. Não há crime de responsabilidade praticado pela presidenta Dilma Rousseff, portanto não há base legal para o impedimento da presidenta.
Há um desequilíbrio entre as partes técnica e jurídica da comissão de impeachment?
Sim. É visível que hoje estão preparando um golpe político, sem as devidas preocupações com a legalidade dos atos e suas consequências.
Como o senhor sente o clima na Câmara: mais favorável à presidente Dilma ou não?
Estamos fazendo uma recontagem dos deputados da base aliada e também da oposição que sabem que essa não é a solução. E acreditamos que a Casa terá maturidade pra enfrentar esse momento e dizer não ao impeachment.
Como o senhor vê a saída do PMDB da base do governo Dilma, após tantos anos de aliança?
Percebemos que o PMDB não tem a unidade e o comando que apregoava, ficando bastante diminuído após o anúncio do seu “desembarque”. Por outro lado, o fim desse protagonismo do PMDB vai permitir, como já está acontecendo, o crescimento de outros partidos e a consolidação de novas lideranças no âmbito nacional. Não existe espaço perdido na política, a tendência é ocupá-los.
E quanto ao presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senhor acha que o processo de cassação dele avança?
Se avançar será pelas vias judiciais. É evidente que o deputado Eduardo Cunha tem o controle político das comissões da Câmara e é visível que, por esse motivo, dificilmente ele sofrerá algum tipo de punição na Casa.
Hoje, o que o PDT defende como o melhor para o futuro do país?
O restabelecimento do crescimento econômico e social é uma disputa justa em 2018, onde aí sim os brasileiros julgarão democraticamente os governos do PT.
E como o deputado Weverton analisa o momento atual brasileiro e o futuro do país?
Vivemos um momento muito difícil. O Brasil, depois de 30 anos, vive sua maior recessão econômica que agora se aprofunda numa crise política. E nós temos que ter a responsabilidade de enfrentar essa situação. Eu não posso acreditar que o Congresso, que é o ponto de chegada de muitos políticos que passaram a vida toda militando e contribuindo nos seus espaços, nos seus estados, cheguem num momento como esse, naquela Casa, e comecem a construir uma nova forma de fazer política, a forma mais repugnante que poderíamos ter nesse momento, que a quebra total da convivência e da possibilidade de construir diálogos. A crise política existe e precisa ser enfrentada, mas não pode ser inventada. O clima que se tem em Brasília é que a disputa eleitoral de 2014 ainda não acabou. Quem perdeu ficou inconformado, e quem ganhou não teve a competência de aglutinar forças.
A crise nacional afeta as composições locais para as eleições deste ano?
Não vejo dessa forma. A crise nacional vem afetando negativamente a vida de milhões de brasileiros e com isso, sim, temos que nos preocupar.