Saída do PMDB abre espaço para “um novo governo”, diz Jaques Wagner
Para o governo, ao anunciar de forma tão rápida a decisão, o partido “ignorou” os anos de aliança entre as siglas
O ministro-chefe do Gabinete Pessoal da presidente Dilma Rousseff, Jaques Wagner, disse, nesta terça-feira (29/3), que a saída do PMDB do governo abre espaço para uma “repactuação” e um “novo governo”. Segundo o ministro, até sexta-feira, deve haver um novo desenho no ministério e já há conversas com partidos aliados para assumirem cargos no lugar da legenda do vice-presidente Michel Temer. O diretório nacional do PMDB oficializou nesta tarde a debandada do partido, em aclamação feita pelo vice-presidente do partido, Romero Jucá (PE), em menos de cinco minutos.
Para o governo, ao anunciar de forma tão rápida a decisão, o partido “ignorou” os anos de aliança entre as siglas. Na entrevista, oficialmente, Wagner disse que terá uma relação “educada”, mas “politicamente interditada” com Temer, responsável por articular o desembarque. “O governo recebe com naturalidade a decisão interna do PMDB. Agradece a todo esse tempo de colaboração que tivemos ao longo de cinco anos e meses. E creio que a decisão deles chega numa boa hora, porque oferece a presidente Dilma uma ótima oportunidade de repactuar o seu governo. Pode-se falar de um novo governo, portanto, abre espaço político para a repactuação do governo”, disse Wagner.
O ministro não soube dizer com quantos ministérios está conta para redistribuir. Mas, além das pastas, há também cargos de segundo escalão, como diretorias de estatais. Segundo o ministro, é importante para o processo de impeachment que Dilma enfrenta no Congresso que o governo possa acomodar aliados e repactuar com novas forças políticas. “Claro que essa é uma agenda do governo, conquistar votos no Congresso. Conquistar ou ampliar espaços de aliados, isso é só o que posso falar. Até sexta espero que possamos dar mais concretude ao termo que estou usando como repactuação”, afirmou.
Wagner informou que o governo conversa desde ontem com partidos aliados da base para recompor o miistério. “Serão chamadas legendas que já fazem parte da base e outras que tem acompanhando, sem participar do governo, mas que podem passar a fazer parte com a repactuação. Estou muito confiante que esta oportunidade será uma boa para a caminhada de Dilma (…) Acreditamos que podemos ter essa negociação fechada até sexta-feira.”
Dos sete ministros do PMDB que ocupam pastas, dois já manifestaram a intenção em ficar nos Ministérios e pedir uma eventual licença da sigla. Podem ficar os ministros da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera e da Saúde, Marcelo Castro. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, também deve ficar, mas disse que sairá do partido. Ontem, o titular do Turismo, Henrique Eduardo Alves, foi o primeiro a pedir exoneração.
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A aclamação do voto, no lugar de uma votação com a manifestação de cada diretório estadual, foi encarada como uma forma de evitar que a parcela descontente do PMDB se manifestasse. Temer e seu grupo foram os responsáveis por articular a debandada e construir acordo para que houvesse a aclamação. Wagner não opinou se o vice deveria ou não renunciar diante da decisão do partido falou sobre o relacionamento com o peemedebista: “Será uma relação educada, mas politicamente interditada”, afirmou Wagner.
O governo avaliou que ocupando sete ministérios, o partido dava de 25 a 35 votos. Agora, é possível buscar a substituição com aliados para garantir uma maioria, não necessariamente absoluta, para votar contra o impeachment. A busca será por 230/240 votos dos 172 necessários para evitar que o processo passe para o Senado.
Outra estratégia será atrelar a imagem de Temer à do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que responde por denúncias de corrupção e abrir diálogo com a parcela do partido que não rompeu. Inicialmente, o governo conta com pelo menos 3 ou quatro ministérios.
Lula
Como outras estratégias para frear o processo de impeachment, Wagner falou sobre os atos preparados a favor do mandato, como as manifestações que ocorrerão na próxima quinta-feira. Na avaliação de Wagner, hoje há a construção de uma unidade maior de segmentos em torno da “democracia”. Caso venha a assumir, Wagner acredita que a gestão não será fácil. “Se alguém que vem carregado com 54 milhões de votos já tem dificuldade, eu creio que alguém que não vem com essa mesma legitimidade terá dificuldade ainda maior”, disse.