A lista de cerca de 200 nomes de políticos beneficiados com doações ou propinas da Odebrecht tem maranhenses de cacife. Entre os nomes mais importantes estão o da ex-governadora do estado Roseana Sarney (PMDB), do senador Edison Lobão (PMDB), do deputado federal José Sarney Filho (PV) e do empresário Fernando Sarney. A relação foi encontrada após buscas da Operação Xepa, 23ª fase da Lava-Jato.
Todos os papéis e arquivos recolhidos estavam na residência do presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Silva Junior, no Rio de Janeiro. São planilhas de 30 anos, usando codinomes e com valores ligados a obras públicas, recibos de transações bancárias e remessas de recursos ao exterior. Segundo o Ministério Público Federal, a Odebrecht tinha uma ‘estrutura profissional’ de propinas.
Políticos e seus apelidos
Em um farto material, com páginas datilografadas e outras escritas à mão, a PF encontrou repasses de dinheiro para pessoas cujos nomes não eram sempre identificados. No lugar deles, estavam apelidos, que só foram decifrados através de outra relação encontrada junto ao material, chamada de ‘Livro de Códigos’. Uma lista bem organizada, onde cada beneficiário dos favores da construtora tinha um codinome.
Dos nomes relacionados à DGU (nove no total), três são ex-governadores do Maranhão. Roseana Sarney (que aparece como Roseane Murad) é identificada como ‘Princesa’. Já o senador Edison Lobão é chamado de ‘Sonlo’. Epitácio Cafeteira teve apenas o epíteto ‘Epi’ colocado como forma de identificação.
Outros políticos relacionados na mesma lista são ex-deputado Neiva Moreira (morto em 2012), apelidado de ‘Noivo’; Jaime Santana, chamado ‘Jason’; Haroldo Sabóia e Alberico Filho, ambos chamados de ‘Bonecas’.
Outros dois membros da família Sarney estão nos papéis: o deputado federal Sarney Filho (apelidado de ‘Filhote’) e o empresário Fernando Sarney (chamado ‘Filhão’). Os codinomes fazem referência ao pai, o ex-presidente e ex-senador José Sarney.
Quando a referência da relação foi ‘Saneamento Imperatriz’, encontramos o nome de Aderson Lago Filho, chamado ‘Cisne’. Aderson é ex-deputado estadual, foi chefe da Casa Civil do Estado no governo Jackson Lago e, no ano passado, foi nomeado para uma assessoria especial na Assembleia Legislativa.
Antes de fazer oposição ao grupo Sarney, ele era ligado ao ex-senador, tendo sido presidente da Caema no governo de Epitácio Cafeteira. Na referência ‘Transmaranhão’, o nome de destaque é o ex-governador do estado, Luís Rocha, falecido em 2001. O codinome dele é ‘Pedra’.
23ª fase da Lava-Jato – XepaAlvos: João Santana e Monica Moura (marqueteiros das campanhas de Lula em 2006 e Dilma Rousseff em 2010 e 2014) e Benedicto Barbosa Silva Junior (executivo da Odebrecht)
Rendimento
Sete arquivos e inúmeras planilhas e tabelas Planilhas do departamento financeiro da Odebrecht datavam de 1988.
Em nota, Odebrecht diz que irá colaborarA empresa liberou um comunicado chamado “Compromisso com o Brasil” em que diz que a decisão foi tomada após avaliações e reflexões de acionistas e dos executivos. A nota se inicia confirmando sua colaboração com a Justiça. “As avaliações e reflexões levadas a efeito por nossos acionistas e executivos levaram a Odebrecht a decidir por uma colaboração definitiva com as investigações da Operação Lava-Jato.”
Segunda a nota, a empresa se justifica com seu modelo de governança, conforme o sistema de adesão ao Pacto Global, da ONU: “Na mesma direção, seguimos aperfeiçoando nosso sistema de conformidade e nosso modelo de governança; estamos em processo avançado de adesão ao Pacto Global, da ONU, que visa mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores reconhecidos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção; estabelecemos metas de conformidade para que nossos negócios se enquadrem como Empresa Pró-Ética (da CGU), iniciativa que incentiva as empresas a implantarem medidas de prevenção e combate à corrupção e outros tipos de fraudes. Vamos, também, adotar novas práticas de relacionamento com a esfera pública.”
E diz que “Apesar de todas as dificuldades e da consciência de não termos responsabilidade dominante sobre os fatos apurados na Operação Lava Jato – que revela na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país – seguimos acreditando no Brasil.”