BRASÍLIA

PMDB começa a romper aliança com o governo Dilma

Ontem Henrique Eduardo Alves pediu demissão do Ministério do Turismo. Decisão da legenda de deixar base de apoio será oficializada hoje

Foto: Evaristo Sá/AFP .


Evaristo Sá/AFP

Vice Michel Temer e a presidente Dilma Rousseff fizeram reuniões durante todo o dia em busca do apoio de ministros que até ontem resistiam à tese da saída do governo

Brasília – O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, se antecipou ao provável anúncio do desembarque do PMDB do governo Dilma Rousseff esperado para hoje, durante reunião extraordinária do diretório nacional do partido, em Brasília, e entregou nessa segunda-feira (28) sua carta de demissão. A decisão do rompimento será por aclamação, para mostrar uma coesão interna rumo ao pós-Dilma e para esconder do Planalto qual o tamanho do PMDB que ainda pode ser pressionado na batalha para se evitar o impeachment. Principal beneficiário, o vice-presidente Michel Temer nem sequer aparecerá da reunião, para não dar argumentos aos adversários de que é um “conspirador contra a democracia”. O presidente do Senado, Renan Calheiros, que concordou com a decisão por aclamação, também não comparecerá.

Alves é um dos ministros mais próximos de Temer e vinha se debatendo sobre a hipótese de ficar ou não no governo. Foi o primeiro a abrir mão do cargo. Na carta entregue nessa segunda-feira (28) à presidente Dilma, o ministro agradeceu à petista pela confiança e “respeitosa relação” que tiveram por 11 meses, antes de explicar a razão da demissão. “Pensei muito antes de fazê-lo, considerando as motivações e desafios que me impulsionaram a assumir o ministério. Mas o momento nacional coloca agora o PMDB diante do desafio maior de escolher o seu caminho”, afirma Henrique na carta. O peemedebista diz que o diálogo “se exauriu”.

Os ministros que se sentirem constrangidos com o rompimento estão liberados de comparecer ao encontro, mas terão até 12 de abril para deixar os respectivos cargos – é quando se completa 30 dias desde a convenção do partido. Diretores de estatais e de bancos públicos seguirão o mesmo caminho. Apadrinhados do PMDB que estiverem no segundo e terceiros escalões estão autorizados a permanecer onde estão.

O rompimento com o maior aliado representa uma dose extra de preocupação devido à possibilidade de um “efeito dominó” entre outras legendas governistas, com reflexos na comissão especial do impeachment, que analisa o pedido de afastamento da presidente.

Nessa segunda-feira, dia 28, a batalha nos bastidores teve Dilma e seu vice na linha de frente, porém em lados opostos. A presidente reuniu seis dos sete ministros do partido no Planalto, enquanto Temer buscava apoio dos titulares na Esplanada a fim de atraí-los para a tese de romper com governo.

Na conversa com Dilma, os ministros sinalizaram que será muito difícil permanecer no governo caso o partido aprove a saída da base aliada hoje. Dois ministros afirmaram à reportagem que vão anunciar uma decisão conjunta depois que a definição do partido for formalizada. Mesmo aqueles que resistem à ideia de abandonar o cargo reconheceram que ficar no governo será muito difícil se o PMDB realmente optar por deixar a base aliada. Um deles classificou como um “banho de água fria” a decisão do PMDB do Rio de abandonar Dilma, anunciada na semana passada.

O posicionamento de alguns ministros ainda suscita dúvidas no PMDB (veja quadro). A principal incógnita é como se comportará a ministra da Agricultura, Kátia Abreu. Amiga pessoal da presidente, ela tem sido muito pressionada pelos ruralistas a deixar o governo. Poderá até reassumir o mandato de senadora e lutar contra o afastamento da presidente. Mas são grandes as chances de ela deixar o PMDB e retornar ao PSD.

Os outros dois ministros que geram expectativas são Eduardo Braga (Minas e Energia) e Marcelo Castro (Saúde). Braga tem feito discursos explícitos a favor da democracia, mas não deve ter dificuldades em acompanhar a decisão partidária. Não agrada a Castro deixar o ministério, mas ele é presidente estadual do PMDB piauiense e terá dificuldades para justificar o apego ao cargo à base local.

Ex-presidente aposta na dissidência

Em entrevista nessa segunda-feira, dia 28, a 24 correspondentes de veículos estrangeiros, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ver com tristeza a saída do PMDB do governo, mas acredita que ainda há chance de um acordo que mantenha parte da legenda na base de apoio governista. “Pode acontecer o que aconteceu em 2003 de ter uma coalizão sem a concordância da direção”, disse.

Na avaliação do petista, a provável saída do PMDB do governo não significará um abandono total do partido. Lula lembrou o início de seu governo, em 2003, quando parte do PMDB apoiava o seu governo, apesar de a cúpula da legenda não ter fechado uma aliança. O petista, de qualquer forma, lamentou a saída dos aliados. “Vejo com muita tristeza o PMDB abandonar o governo ou se afastar. Pelo que eu estou sabendo, os ministros do PMDB não sairão nem a Dilma quer que eles saiam.”

Segundo peemedebistas, o vice-presidente Michel Temer se encontrou no domingo à noite com Lula, em São Paulo, e teria dito ao petista que não há mais condições de se reverter o quadro. Na conversa, Lula indagou inclusive sobre a possibilidade de adiamento da reunião do diretório marcada para hoje. Mas, segundo relatos de presentes, Temer disse que o resultado pró-rompimento já estava consolidado e que não seria mais possível “segurar o partido”. “O rompimento é definitivo”, teria dito o vice. Lula desembarcou no fim da tarde em Brasília para buscar a maior dissidência possível no partido.

Quem é quem

Confira o que pensa cada um dos ministros do PMDB

Eduardo Braga
Minas e Energia
» Faz um discurso em defesa da democracia, da institucionalidade, mas vai acompanhar o partido sem traumas se a decisão for pelo desembarque

Kátia Abreu
Agricultura
» Está pressionada pela base ruralista, que classifica o atual governo de militantes, após a entrada de Lula. Foi aconselhada a acompanhar o partido, mas pode se recusar a deixar o cargo ou ir para o PSD, pela amizade que nutre por Dilma.

Helder Barbalho
Portos
» Filho do senador Jader Barbalho, que resistia à tese de o partido deixar o governo. Mas, por ser fiel à legenda e à maioria partidária, se a decisão for por aclamação, não deve apresentar empecilhos ao desembarque

Henrique Eduardo Alves
Turismo
» Pediu exoneração nessa segunda-feira (28). Foi para o governo por não ter mandato e para garantir o foro privilegiado.

Celso Pansera
Ciência e Tecnologia
» Indicação pessoal do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Não lhe agrada deixar o ministério, mas não tem força para comprar uma briga com o diretório do PMDB fluminense

Marcelo Castro
Saúde
» Também indicação de Leonardo Picciani. É presidente do diretório estadual do PMDB piauiense e enfrenta pressão das suas bases eleitorais

Mauro Lopes
Aviação Civil
» Está em fim de carreira e já havia dito a interlocutores que ser ministro coroaria a trajetória política. Foi nomeado à revelia da direção partidária. O diretório de Minas apoia o rompimento

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