LAVA-JATO

Ex-presidente Lula evita pela terceira vez depoimento a Sérgio Moro

Em momento político conturbado, ex-presidente e advogados de defesa do pecuarista José Carlos Bumlai agiram para cancelar oitiva marcada para segunda-feira perante o juiz da operação Lava-Jato

Foto: Ricardo Stuckert / Instituto.


Ricardo Stuckert / Instituto

Essa medida se repete desde o final de janeiro, quando aumentou a crise política ao seu redor, e Lula deixou de comparecer a oitivas

CURITIBA – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu evitar, pela terceira vez consecutiva, prestar um depoimento a autoridades das maiores operações de combate à corrupção do país. Essa medida se repete desde o final de janeiro, quando aumentou a crise política ao seu redor, e ele deixou de comparecer a oitivas. Na quinta-feira, Lula escreveu uma “declaração, como substitutiva” de seu depoimento marcado para a próxima segunda-feira, perante o juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro. O documento foi apresentado ontem a Moro pela defesa do pecuarista José Carlos Bumlai. Com base nisso, os advogados do pecuarista desistiram do depoimento, o que foi autorizado pelo magistrado ainda hoje. Na declaração, Lula diz que Bumlai é um homem “honesto” e seu amigo há 14 anos, com quem nunca tratou de “assuntos políticos”. Disse ignorar os interesses dele em sondas, processo a que responde na 13ª Vara Federal de Curitiba.

Desde o final do ano passado, Lula já foi chamado a prestar seis esclarecimentos espontâneos à Justiça, à Polícia Federal e ao Ministério Público. Nos três primeiros, ele aceitou e fez as declarações, embora de maneira reservada. Depois, pediu para não comparecer a depoimento da Zelotes na 10ª Vara Federal de Brasília, foi ao Conselho Nacional do Ministério Público e à Justiça de São Paulo para não depor perante a Promotoria de São Paulo sobre o tríplex no Guarujá. O ex-presidente foi arrolado como testemunha de defesa pelo próprio pecuarista José Carlos Bumlai.

Segundo Arnaldo Malheiros, chefe da banca que defende Bumlai, a iniciativa de desistir do depoimento foi de Bumlai, mas isso agradou ao ex-presidente. “Evidentemente que gostaram muito da ideia”, afirmou ao Correio.

Malheiros disse que o depoimento do petista, agora, mais atrapalha do que ajuda, porque muita coisa mudou entre a ideia inicial da defesa e o cenário atual. Ele cita a condução coercitiva de Lula, o pedido de prisão feito pela Promotoria em São Paulo e a “bandeira vermelha na porta”, hasteada por militantes do PT quando o ex-presidente está em algum órgão judicial. No entanto, ele rejeita a tese de que a iniciativa foi para “preservar” o ex-presidente. “Eu não estava pensando nele, mas ninguém quer prejudicar ninguém”, disse.

Moro ressalvou que as declarações do ex-presidente “não terão valor probatório para este processo, uma vez que não submetidas ao crivo do contraditório”.

Na declaração, Lula diz que Bumlai é “um homem de bem, honesto e pai de família exemplar”. O ex-presidente diz que conhece o pecuarista desde 2002 e o tem “na mais alta conta”.

Lula ainda afirmou que ignora a acusação de Bumlai intermediou negócio do Banco Schahin para operar navio-sonda da Petrobras, em troca de pagamento de dívida do PT, que foi assinado em nome do pecuarista.

O ex-presidente ignora se o amigo usava seu prestígio em negócios. “Nunca tive notícia de que o sr. Bumlai pudesse ter se valido de sua relação pessoal comigo para obter qualquer vantagem ou benefício”, disse Lula na declaração. Segundo o petista, ele e Bumlai nunca falaram de assuntos políticos e de interesses do amigo no governo nos 14 anos em que se conhecem.

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