DESAFIOS

Sob o estigma de 2015, novo ano será complicado para o governo federal

As pendências políticas e econômicas não ficaram para trás e prometem voltar com força. Para a oposição, a única solução para o país é a saída de Dilma Rousseff do poder

Foto: AFP Photo/Evaristo Sá.


AFP Photo/Evaristo Sá

Com a mudança na equipe econômica antes da virada do ano, a presidente Dilma Rousseff começou a planejar a virada de página do ajuste fiscal,

O ano de 2015 foi tão marcante no campo político e econômico que parecia não ter fim. Na verdade, o término foi só no calendário, com a explosão dos fogos de artifício do réveillon em diversas partes do mundo. Os efeitos do ano que passou estarão muito presentes em 2016, e governo e oposição sabem que os riscos do agravamento da crise são concretos. Enquanto o Planalto sonha com uma mudança gradativa de cenário e humor, a oposição aposta no confronto para promover a transição de poder em Brasília.

Com a mudança na equipe econômica antes da virada do ano — a troca de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no comando da Fazenda — a presidente Dilma Rousseff começou a planejar a virada de página do ajuste fiscal, mesmo sabendo que a trajetória será longa e dolorosa. O primeiro passo foi dado antes de 31 de dezembro: a quitação dos R$ 72,4 bilhões das pedaladas e obrigações fiscais de 2015. “É uma forma de deixar claro que não queremos mais discutir o passado e precisamos olhar para a frente”, disse ao Correio um interlocutor palaciano.
A questão não é apenas econômica, mas também política. As pedaladas são, até o momento, o principal embasamento para o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A entrevista dada pelo chefe da Casa Civil, ministro Jaques Wagner, a uma rádio baiana, admitindo que parte da atual recessão que afunda o país foi provocada por erros provocados pelo governo no primeiro mandato também serviria para sinalizar humildade, uma vez que Dilma sempre atribuiu a retração do Produto Interno Bruto (PIB) à crise internacional.
Os dois fatores serão importantes, na visão palaciana, para afastar de vez o temor do impeachment. Tão logo o Congresso retome as atividades, deverá ser composta a comissão especial que analisará o pedido de afastamento da presidente. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) foi considerada positiva pelo Planalto, mas a base aliada terá de assegurar o número de votos necessários — 1/3 na Câmara (171 votos) — para sepultar o impedimento. “O governo pode até conseguir esse número, mas jamais conseguirá recuperar a base parlamentar. Será sempre um governo capenga”, cravou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Estes são os dois objetivos a curto prazo imaginados pelo governo. Caso consiga vencer essa tormenta inicial, Dilma e integrantes da equipe econômica pretendem retomar o plano de concessões de infraestrutura, quer travou por causa da retração econômica e da queda de confiança em relação aos rumos do governo. Dilma nunca escondeu que tem especial apreço pelo setor de infraestrutura. Retomar os leilões de energia, rodovias, ferrovias, portos e aeroportos teria, na opinião de interlocutores palacianos, dois efeitos práticos: o primeiro, recuperar o caixa do governo. O segundo, retomar os trabalhos em uma área estratégica para o país que ficou paralisada pela crise e pelas investigações da Operação Lava-Jato, que afundaram as principais empreiteiras em um gigantesco esquema de corrupção a partir da Petrobras. E, no fim do ano, retomar os investimentos necessários ao país.

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