Aos 69 anos, o ex-deputado e ex-ministro do Turismo do primeiro mandato de Dilma Rousseff, Gastão Vieira, hoje, sem cargo no governo, é um franco atirador, atividade que, aliás, sempre exercitou com habilidades. Não pretende, por enquanto, ser candidato a nada nas eleições de outubro. Ele trabalha pelo fortalecimento do PROS, que preside no Maranhão, depois de abandonar o PMDB e dar as costas ao grupo Sarney. “O foco hoje é eleger pelo menos dois vereadores em São Luís”, prospecta, ele.
Em entrevista exclusiva a
O Imparcial, Gastão faz análise da conjuntura política maranhense, não aprofunda as razões de sua debandada do grupo Sarney e arrisca dizer que Flávio Dino, que “tomou” a sua eleição de senador uma semana antes do pleito de 2014 e deu ao então candidato do PSB, Roberto Rocha, pode achar hoje que não deve nada a qualquer partido ou candidato que lhe apoiou. “Ele ganhou sozinho. O momento não poderia ser outro e Flávio soube aproveitá-lo. Portanto, o mandato é dele e fim de conversa”.
O Imparcial – Hoje, o senhor só faz política pelo PROS. Qual o futuro desse partido no Maranhão?
Gastão – A prioridade é a eleição de vereador. Temos 30 filiados com potencial para disputar vagas na Câmara e mais o vereador Beto Castro. Pretendemos ainda discutir São Luís. É a capital mais atrasada do Nordeste em termos de transporte de massa. O seu único transporte público é o ônibus. Como pode viver numa situação dessas, com mais de um milhão de habitantes?
Por que o senhor não vai disputar a prefeitura?
Qual é o político que não gostaria de ser prefeito de sua cidade? Claro que eu gostaria, porém, agora, não me sinto sensibilizado nem estimulado a concorrer. Também não me entusiasmo por alianças com candidatos que estão postos. Eles não levantam questão de profundidade para São Luís. São candidatos que se propõem a resolver os problemas da cidade somente em ano de eleição. O resultado é um monte de obras inacabadas ou de qualidade inferior, por causa da pressa. Sempre se tenta ganhar eleição com asfalto mau feito. O asfalto tem sido, ao longo do tempo, o principal cabo eleitoral de São Luís. Como se poder ver, a cidade é que padece com tantos buracos frutos dessas políticas.
Como o PROS vai fazer?
Podemos até não coligar na majoritária. É que os candidatos postos não propõem nada de novo. É a velha prática: a oposição criticando o ocupante da prefeitura e o dono do poder deixando para mostrar serviço no ano eleitoral, com realizações apressadas, que não duram.
Qual a sua posição em relação ao governo Flávio Dino?
Não ouço nenhum projeto de longo prazo nas áreas estruturantes. Porém, acho que o Flávio Dino não tem só o que se criticar. Ele teve 64% dos votos. Portanto, foi eleito pela população e não por partidos. Ele pode até achar que ganhou sozinho, porque não é perceptível quais foram os grupos ou pessoas que contribuíram, decisivamente, para elegê-lo. Ele entrou na disputa do Senado e me tirou uma semana antes da eleição. Perdi por 183 mil votos, em cinco municípios. O que ficou demonstrada a força política dele naquela eleição. Perdi em Imperatriz, Açailândia, Pinheiro, Santa Luzia e São Luís.
O que isso significou?
Que o Flávio tinha força para ganhar, como ganhou. Portanto, não é devedor de ninguém.
O senhor guarda mágoa por causa da derrota?
Não guardo mágoa de ninguém.
Por que, depois de tantos anos no PMDB, o senhor o abandonou e procurou outro partido, o PROS?
Chegou o momento em que percebi que o PMDB era um partido em que todos mandavam e ninguém obedecia. E cada coisa tem o seu tempo. Por isso saí.
Que avaliação o senhor faz das eleições deste ano, sem dinheiro empresarial, campanha reduzida à metade do que era e tempo de TV também menor?
Olha, não se deve esquecer os agiotas. Sobre eles, o governo do Flávio Dino botou pra quebrar, como nunca se viu. Agora, eles vão ter que buscar outros clientes ou mudar de ramo. Outro fator é saber como a população está avaliando ou compreendendo o momento político. Ninguém sabe com que visão os eleitores de 2016 vão sair de casa para votar em prefeitos e vereadores, diante de tudo que se viu contra gestores municipais maranhenses, além dos escândalos de corrupção nacionais.
Vai ser uma reinvenção das campanhas?
Essas eleições municipais serão de pessoas. Levam vantagens as lideranças tradicionais, conhecidas e experientes sobre o que pensa e como agem os eleitores. No Maranhão, não se deve ignorar que a mensagem de mudança ainda não vicejou do jeito que se esperava na maioria dos municípios. Seja ela do governo ou da oposição.
Finalmente, o que é o PROS no estado?
O partido tinha 63 comissões provisórias e hoje são 182, com mais de 5.500 filiados. E aceitamos conversar sobre alianças.
Na sua opinião, o Grupo Sarney, do qual o senhor participou por muitos anos, morreu com a derrocada de 2014?
Não. Lá todos estão buscando entender o que se passa no Brasil e no Maranhão. Esperam, por exemplo, quem vai ficar de pé depois do terremoto de 2014. No mais, ainda tem a questão nacional. Afinal, é a Operação Lava-Jato que está demarcando o rumo da política no país, dando fim à carreira de muita gente.
Confira abaixo a entrevista em vídeo produzida pela nossa TV Imparcial: