Amigo de Dirceu confessa ter mentido e fará novo interrogatório
Moura aproveitou o depoimento da sexta-feira para fazer novas afirmações que favorecem o ex-ministro
Moura alegou que mentiu por ter se sentido vítima de uma “ameaça velada”. “Saí do despachante, uma pessoa me abordou: Oi, tudo bem? Como estão seus netos no Sul. Fiquei completamente transtornado”, afirmou Moura, que chegou a cogitar mudar todo o seu depoimento, mas não citou nomes.
Divergências
O trecho dos relatos de Moura que irritou os procuradores é relativo ao motivo de sua saída do País, em 2005, supostamente por sugestão de Dirceu – réu e preso da Lava Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Na delação que firmou para se ver livre da prisão, o empresário afirmou em agosto de 2015 que “resolveu se mudar para Paris após receber a ‘dica’ de José Dirceu para ‘cair fora'”.
Na sexta-feira, em audiência no processo em que é réu, Moura deu versão diferente. Moro perguntou: “O sr. mencionou que na época do mensalão deixou o País por qual motivo?”. O delator respondeu: “Eu deixei o pa… aí nessa declaração, até aí que depois que eu assinei que eu fui ler, eu disse que foi o Zé Dirceu que me orientou a isso. Não foi esse o caso. Eu, eu saí, porque saiu uma reportagem minha na Veja, em março de 2005.”
Moro lembrou ao empresário que, na delação, ele deu aquela versão, atribuindo a Dirceu a ideia de deixar o País. “Falei isso?”, questionou Moura. “Falou”, disse Moro. “Assinei isso?”, perguntou o empresário, rindo. “Devem ter preenchido um pouquinho mais do que eu tinha falado. Mas, se eu falei, eu concordo.” “Não, não é assim que a coisa funciona”, repreendeu Moro. “Se eu falo e depois é colocado no papel, eu nem leio. Eu até pergunto para o advogado, ‘é isso aqui?'”, afirmou.
Para investigar a contradição, os procuradores abriram “procedimento de apuração de violação de acordo de colaboração premiada”. “Todos os fatos revelados por ocasião da colheita desses termos de colaboração no dia 28 de agosto de 2015 são verdadeiros, ao contrário do que foi dito por ele em seu interrogatório judicial.”
Para os procuradores, “a contradição entre as informações prestadas pelo colaborador no anexo de seu acordo com as declarações que foram prestadas em juízo é evidente”. Eles sugerem que Moura seja ouvido novamente hoje, mesmo dia do depoimento de Dirceu.