As nuvens que se posicionaram em Brasília e dividiu os interesses de petistas e peemedebistas se espalharam pelo Brasil e encontraram no Maranhão uma terra propícia para a bipolaridade política nacional. De um lado estão os quase antigos aliados do Governo Federal. Do outro, os defensores de Dilma Rousseff, orquestrados pelo governador Flávio Dino. No meio de tudo isso, a briga pelo poder nacional e estadual.
Quem convive no meio político, diz que o PMDB nunca se acostumou com o papel de coadjuvante, mesmo estando em tal posição desde a democratização do país. Pela primeira vez, em quase 30 anos, eles podem assumir um papel de destaque, mas, para isso, o PT precisa cair.
Ninguém assume publicamente, mas existe uma expectativa muito grande dentro do Maranhão. Por aqui, as conseqüências podem ser ainda maiores, dependendo de que lado as principais lideranças peemedebistas vão ficar. A tendência é seguir a diretriz nacional. Isso a deputada estadual Andrea Murad já fez. Antes de iniciar o recesso parlamentar, em um dos seus últimos pronunciamentos, ela disse estar decepcionada com o governo Dilma e que não continuaria apoiando a presidente.
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Roberto Costa, deputado estadual (PMDB)
Para o deputado estadual Roberto Costa, por exemplo, a possibilidade de um impeachment deve ser vista como real e legal. “É um processo legítimo [o impeachment]. O que vai determinar é o rito no Congresso Nacional. É uma decisão interna a corporis e o apoio das ruas também terá uma posição muito decisiva”.
A sintonia dentro do PMDB – no Maranhão, escondida apenas pelas principais lideranças – provoca uma expectativa sobre o que realmente interessa nesta briga. E uma queda do PT pode significar mudanças no Palácio do Planalto, com seqüelas em outras casas executivas. Aqui, quem mais sentiria com uma troca de presidentes seria o governador Flávio Dino, atualmente o principal aliado de Dilma fora de Brasília.
Eleito pelo PCdoB, Dino derrotou justamente um candidato do PMDB. Mais que isso: tirou do poder o grupo do ex-presidente José Sarney e da ex-governadora Roseana Sarney. Por isso, uma queda de Dilma tem tudo para não ser defendida pelos rivais do governador. A preocupação vai além, chegando a acreditar em certos prejuízos e perseguições ao governo Dino.
Peemedebistas
Os peemedebistas maranhenses nunca se manifestaram publicamente em defesa da unidade, pelo desejo de paz com os petistas. Já os “companheiros” tomaram uma decisão corajosa, indo compor a base do governo Flávio Dino. A cisão só aumenta a distância de um diálogo – ironicamente proposto pelo governador – para o entendimento.
“O que temos observado é um distanciamento programático do PMDB em relação ao PT. Isto pode ser percebido nas pautas que temos debatido na sociedade”, falou o deputado estadual Zé Inácio (PT), lembrando que cada um dos partidos tem defendido uma tese em pautas de grande interesse social.
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Zé Inácio, deputado estadual (PT)
Sobre de mudanças nos Executivos, Zé Inácio preferiu afirmar que tais possibilidades só podem se tornar reais com o aval popular. “Qualquer partido ou coligação pode assumir o comando do país e do nosso Estado, desde que se submeta às regras democráticas que são as eleições”.
A discussão do comando do país foi parar na justiça, com o Supremo Tribunal Federal (STF) interferindo no processo que já vinha sendo conduzido pela Câmara Federal. Mas outro deputado estadual, Rogério Cafeteira (PSC), líder do governo na Assembléia Legislativa, lembra que a questão nasceu dentro da política e é dentro dela que deve ser definida.
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Rogério Cafeteira, líder do governo na Assembléia Legislativa (PSC)
“Se nós formos ver a história, houveram pedidos [de impeachment] para o presidente Fernando Henrique, para o presidente Itamar [Franco], para o presidente Collor [Fernando Collor de Melo] e esse foi cassado, mesmo depois de ter renunciado, e, posteriormente, foi absorvido pelo Supremo Tribunal Federal. Nenhum desses casos teve sustentação para os recursos de afastamento dos presidentes do cargo. E a história se repete. Por isso, não vejo fatos que possam gerar o impeachment dela [Dilma Rousseff]”.
A idéia dá fôlego às articulações dinistas de enfrentamento à saída de Dilma e, mais que isso, a própria perseguição que ele possa sofrer não tendo no comando do país alguém que tenha ele como um aliado.