Marta Teresa Suplicy, 70 anos, está cada vez mais confortável. É o que ela diz, mas também é o que deixa evidente em cada gesto. Afinal, a senadora agora pode criticar mais diretamente o governo Dilma Rousseff, sem as amarras da filiação ao PT — deixado de lado no fim de abril — e, há duas semanas, oficialmente nas fileiras do PMDB, do vice-presidente Michel Temer.
Durante quase 100 minutos de entrevista ao Correio, na tarde da última quarta-feira, a senadora avançou contra o Planalto, bombardeou o PT — “a corrupção é sistêmica” — e a presidente Dilma. Também detalhou o fim da relação política com Luiz Inácio Lula da Silva e, pela primeira vez, revelou bastidores do rompimento com companheiros da legenda.
De forma clara, disse que vai disputar o posto de candidata peemedebista à prefeitura de São Paulo e criticou o petista Fernando Haddad. Mais discreta e cuidadosa, falou sobre as denúncias envolvendo peemedebistas, incluindo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e sugeriu indiretamente a renúncia de Dilma, reforçando qualidades do vice Michel Temer.
Segundo Marta, a presidente boicotou o trabalho de Temer. “Ele se viu compelido até a sair, e ela foi negociar com o PMDB jovem”, disse, ao lembrar as derrotas do Planalto na última semana. “Tinha orgulho de pertencer ao PT. Foi uma decepção. Era tão ingênua, que, quando penso, fico até constrangida”, atacou Marta, que, durante a entrevista, usou amarelo, sem qualquer adereço vermelho do PT.
A senhora está confortável no PMDB?
Sim, muito confortável, acolhida e com espaço. Posso dizer que estou bem.
Qual a principal diferença entre o PT e o PMDB?
O PMDB é um partido com tantos caciques que não existe um cacique que mande e que enquadre as pessoas. É interessante viver essa experiência em um partido onde quem manda é a política e a conversa. Isso faz diferença.
Quem é o cacique do PT?
O PT tem o Lula, que é símbolo maior do partido, é a pessoa que dá a última palavra. Não existe isso no PMDB. Nunca tinha me debruçado para ver como funcionava. E perceber isso foi perceber uma enorme diferença.
Estas conversas do PMDB não estão mais para conchavos?
Até onde participei, são conversas políticas. Mas tem outra diferença, a corrupção.
Mas há diferença? O PT tem dois ex-tesoureiros que foram presos, enquanto o PMDB tem uma série de políticos investigados. Com uma série de suspeitas.
Aí existe uma diferença entre os dois. Primeiro, que não tem partido de relevância que não tenha pessoas investigadas. A diferença é que no PT existe uma manutenção da estrutura partidária com recursos públicos. E no PMDB não vejo isso, vejo pessoas sendo investigadas, que eventualmente podem se tornar rés, ir para a cadeia. Até agora, não aconteceu isso nesse nível, não é? Mas poderá acontecer. E no PT vemos condenações, pessoas presas, mas principalmente (no PMDB) não há uma transferência de recursos públicos na veia partidária, no sentido sistêmico.
No PT seria mais orgânico?
Mais, não. O PT é. Muitas vezes, me cobram: “Por que você saiu? Você deveria ter ficado e ajudado o partido”. É tão endêmico que serão muitos anos para se fazer (algo), se se conseguir.
E ainda há tempo?
Não tenho ideia, a política é muito imprevisível. Você podia achar que estava madura a situação três meses atrás, quando teve uma mudança radical. Ela não aproveitou várias deixas, como a do Renan (Calheiros, presidente do Senado), que veio com a Agenda Brasil. Ela podia ter aproveitado essa trilha aí, começar a pensar de outra forma. Mas nada é aproveitado. Mexe, faz acordos e mantém o círculo petista de cinco pessoas do lado. Na verdade, não teve mudança. Não consegue pensar grande, pensar o Brasil, pensar o novo. Não é mais uma questão de ajuste, é uma questão estrutural, porque nós chegamos a uma condição estrutural de desacerto. Isso só se faz com união nacional, não se faz com o pequeno, não se faz só com o PT. O PMDB é o partido que tem condição de fazer essa grande coalizão.