O Brasil assumiu ante a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) o compromisso global de contribuir para alimentar a população mundial, que deve chegar a 9 bilhões em 2050. O desafio é enorme. É preciso continuar a investir em tecnologia para aumentar cada vez mais a produtividade no campo e nosso potencial de inovação. Sem o binômio tecnologia-inovação, o país não terá como ser o celeiro do mundo, mantendo a eficácia do agronegócio, que responde por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) e, ao mesmo tempo, preservar as florestas.
Os desafios não param por aí. Há que se qualificar os agricultores para que sejam cada vez mais proativos, num dos maiores exemplos de sucesso do Brasil: o agronegócio. Aqui surgiram métodos considerados referência global em inovação, como o plantio de grãos diretamente na palha, criado na década de 1970. Também surgiram iniciativas de integrar a lavoura à pecuária e de plantar até três safras em uma mesma área. Criou-se o termo agricultura tropical, expressão que sintetiza as dificuldades de manter padrão de qualidade e eficácia em clima predominantemente quente e úmido. Nenhum país grande produtor de alimentos enfrenta realidade semelhante no campo. Some-se a isso os renitentes problemas de infraestrutura e logística.
Não obstante, a agropecuária brasileira vem superando tais desafios com a vantagem competitiva apoiada em ciência e tecnologia. Não é novidade que nossa balança comercial tem no agronegócio o seu principal porto seguro. Se há anos, na pauta de exportações, estão dezenas de produtos do campo — do café ao açúcar; do frango à carne bovina, suína e aos pescados — que alcançam as agroindústrias, gôndolas dos supermercados e mesas do mundo inteiro; nos tempos recentes, a soja se destaca como principal item, tornando o Brasil o segundo maior produtor e o primeiro exportador mundial do grão. De janeiro a agosto deste ano, o complexo soja representou 13,8% de todas as exportações brasileiras. Para se ter uma ideia do que isso significa, o segundo produto da pauta, o minério de ferro, representa 7,4% do total exportado pelo Brasil em 2015. Em crises, como a que vivemos neste momento, tal desempenho é decisivo para o equilíbrio das contas externas.
Porém, o “Brazil não conhece o Brasil”, como diz a música que nos encantou na voz de Elis Regina. A realidade é desconhecida da maioria dos moradores das cidades — quase 85% da população. Essa é seara onde as discussões são pautadas muito mais pela visão de mundo de grupos de formadores de opinião, distantes das vicissitudes das lavouras, do que por fatos, pesquisas e ciência. Dessa forma, o Dia da Alimentação, comemorado mundialmente pela FAO em 16 de outubro, constitui boa oportunidade para incluir, na pauta nacional, questão estratégica: a necessidade de alimentar a nossa população e de contribuir para alimentar o planeta.
Para celebrar a data, no Brasil, a FAO lançou o Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos para o Futuro Sustentável, que propõe traçar, por meio de palestras e estudos, os cenários para o Brasil enfrentar melhor o desafio de alimentar. A iniciativa envolve a parceria de setores da sociedade civil; organizações não governamentais; do agronegócio — como a Associação Nacional de Defensivos Vegetais (Andef) e a Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) — da academia e da pesquisa agropecuária, como a Embrapa, instituição que está na base do nosso sucesso no campo.
Neste ano, o Fórum realiza a sétima edição com um motivo especial a comemorar: a FAO completa 70 anos de existência. Por isso, justifica-se o fato de que, na edição deste ano, o Fórum será celebrado, pela primeira vez, em Brasília, em sessão solene no Senado Federal, em 13 de outubro. Ao trazer o tema para o coração do poder no país, esperamos chamar a atenção para a importância do campo e seu papel no desenvolvimento virtuoso, na geração de ganhos tecnológicos, mas sobretudo em relevantes avanços sociais e econômicos. Como presidente da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e senadora de um estado agrícola, o Rio Grande do Sul, convido os brasileiros a assumirem seus postos nesse desafio e a entenderem como — mesmo em tempos de desesperança e crises — o campo é o caminho no qual cada um de nós deve acreditar e se orgulhar.