Premiê húngaro defende ação policial contra migrantes

A gravação denuncia as condições desumanas da distribuição de alimentos entre os migrantes

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, defendeu nesta sexta-feira (11/9) o tratamento dado pela polícia de seu país contra o que chamou de “migrantes rebeldes”, mas se negou a comentar um vídeo que mostra as más condições refugiados vivem em um acampamento.
“Eles não querem cooperar com as autoridades. Na realidade, eles se rebelaram contra a lei húngara”, declarou Orban falando à imprensa em Budabest.
Esta semana, em várias oportunidades, inúmeros imigrantes abriram passagem através de cordões policiais perto da fronteira com a Sérvia ou fugiram de um campo instalado para cadastrar as pessoas que chegam ao país.
“Em poucos países a polícia teria aberto mão de usar da força para enfrentar rebeliões deste tipo. Tiro meu chapéu para eles”, afirmou Orban.
A polícia húngara assinalou nesta sexta que ordenou a abertura de uma investigação para determinar os fatos depois da difusão de um vídeo gravado de forma escondida no interior do maior acampamento de refugiados na Hungria, na fronteira com a Sérvia.
A gravação denuncia as condições desumanas da distribuição de alimentos entre os migrantes.
O vídeo, feito de maneira oculta por uma voluntária austríaca que trabalhou no campo de Roszke, mostra 150 migrantes dentro de um cercado em um grande salão.
Eles tentam desesperadamente pegar os sanduíches lançados por policiais húngaros, que usam capacetes e máscaras.
Entre a multidão estão mulheres e crianças, que tentam segurar os sanduíches jogados no local, enquanto as pessoas que estão mais ao fundo tentam chamar a atenção das pessoas que distribuem comida.
“Era como alimentar animais presos em um cercado, como Guantánamo na Europa”, declarou Klaus Kufner, amigo de Michaela Spritzendorfer, a voluntária que registrou as cenas, divulgadas no Youtube na quinta-feira.
Os dois, ao lado de outros voluntários, seguiram para o acampamento para levar comida, roupa e medicamentos.
“Era desumano, e isto também mostra algo sobre estas pessoas (os migrantes), que não brigaram pela comida, embora estivessem com fome”, disse Spritzendorfer.
Na terça-feira, a Agência da ONU para os refugiados criticou as duras condições no campo de Roszke, enquanto a Hungria tenta administrar o fluxo recorde de migrantes que atravessam suas fronteiras como parte da arriscada viagem para a Europa ocidental.
O governo conservador húngaro concluiu em agosto uma cerca de arame ao longo da fronteira de 175 km com a Sérvia, mas isto não parece representar um obstáculo para a chegada dos migrantes.
Uma nova barreira, de quatro metros de altura, está sendo construída e deve ser concluída no fim de outubro ou início de novembro.
Budapeste anunciou nesta sexta-feira que mobilizará até 3.800 soldados para reforçar a barreira anti-imigrantes na fronteira com a Sérvia.
De acordo com o novo ministro da Defesa, Istvan Simicsko, a prioridade é construir a barreira.
Apesar das medidas para impedir a chegada de refugiados, 3.601 migrantes conseguiram entrar no país na quinta-feira, um novo recorde, segundo a polícia.
A decisão de Budapeste na semana passada de facilitar temporariamente o trânsito para a Alemanha dos refugiados que se aglomeravam na capital húngara só fez aumentar a confusão.
O populista Viktor Orban assumiu uma espécie de papel de “vilão” na crise migratória, mas sua linha dura não tem conseguido controlar o enorme fluxo de refugiados que transita por seu país.
De fato, milhares de migrantes continuam a desafiar todos os dias a polícia húngara para cruzar a fronteira da Sérvia, apesar da construção neste verão de uma cerca de arame farpado.
Budapeste, no entanto, espera modificar em breve o fluxo de migrantes com a entrada em vigor, em 15 de setembro, de uma nova legislação que permitirá a implantação do exército na fronteira e que prevê penas de prisão para aqueles que cruzarem ilegalmente a cerca.
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