Conversar com empresários brasileiros é ter um retrato particular da crise. Eles falam que esperavam uma piora da economia, mas assumem que se espantam com a rapidez da deterioração, mais rápida do que jamais projetaram em seus piores cenários. Lamentam o desalento dos consumidores, que temem demissões que eles mesmos tiveram ou ainda terão de fazer. E avaliam que se empatarem o resultado neste ano estarão no lucro, já que muitos caminham certo para o prejuízo – ou coisa pior.
O Estado ouviu nas últimas semanas seis grandes empresários. Os seus negócios, individualmente, movimentam bilhões de reais por ano. Eles concordaram em falar sem que os nomes fossem divulgados porque não desejam piorar o já comprometido ambiente político do País. A maior angústia para eles é o cenário de indefinição: “Não dá para prever o que vai acontecer nem no dia, quanto mais até o fim deste ou do próximo ano”, explicou um empresário cuja principal atividade é justamente traçar cenários e selecionar oportunidades de negócios. A indefinição, por sua vez, retêm os investimentos e aprofunda a crise. “Há empresa, setores e alguns estados alheios a tudo, mas os empresários que circulam entre Brasília, São Paulo e Rio foram tomados pela paralisia”, definiu o acionista de um grande grupo.
Apesar de atuarem em setores distintos, eles concordam que a crise foi produzida aqui mesmo, pela “gestão equivocada da economia” feita no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff Se dependesse da vontade particular de todos os ouvidos pela reportagem, Dilma não teria aval para ficar no cargo – mas eles sabem que isso não basta. Na hora de responder se quer ou não Dilma na presidência, um experiente empresário usou uma analogia peculiar para definir a sua posição. Pensou em silêncio por alguns segundos, olhou para teto e respondeu sem sorrir, sério: “Meu desejo é dormir com Gisele Bündchen…” E fez uma expressão de desalento, demonstrando que não acredita ter a menor chance de realizar tal proeza.
Ninguém também alimenta a esperança de que ela renuncie por causa do alto índice de rejeição identificado nas pesquisas de opinião. Numa frase, o argumento da maioria: “Foi guerrilheira e não vai se abalar se gostam ou não dela.”
Também há um reconhecimento de que de não se impõem vontades particulares. “Goste ou não, Dilma foi eleita democraticamente e ainda não vimos uma única prova que justifique a sua saída. Forçar o impeachment seria gol de mão e poderíamos cair num impasse institucional: não é bom para ninguém que o País afunde”, declarou outro empresário.
Ausência – Há outra razão para conter os ânimos: a falta de sucessores. “Poder não se entrega, se conquista. O leão está ferido e seria a hora, mas cadê?”, expressou um deles. Eles avaliam que dois fatores são preponderantes no sumiço. O primeiro deles é a Operação Lava Jato. Tem-se a consciência de que a investigação pode comprometer não apenas o PT e a campanha de Dilma, mas qualquer político, partido e até empresário: “A Lava Jato não tem fim, vamos ver a fase número 104 e sabe lá quem vai cair.”
O outro empecilho é a fragmentação interna dos partidos que se oferecem para ocupar a vaga do PT. “No PSDB, há dois candidatos com pretensões opostas: Aécio Neves (segundo colocado na eleição presidencial) poderia se beneficiar agora e até gostaria que ela caísse, mas o Alckmin (Geraldo Alckmin, governador de São Paulo) prefere esperar para poder se candidatar”, disse um empresário. “No PMDB há 10 caciques: não dá para embarcar.”
De certo até agora é que todos defende a permanência de Joaquim Levy como ministro da Fazenda. Levy é visto com o guardião do grau de investimento, o selo de bom pagador do País que, se perdido, levaria a uma deterioração mais acentuada da economia. “Para que tirar Levy? Para colocar outro que vai ser obrigado a fazer o mesmo ou pior, que não faça o que deve ser feito para manter o grau de investimento?”
Todos acreditam que a sinalização do caminho virá nas eleições municipais de 2016. O acionista de empresa aconselha: “Melhor manter a calma, trabalhar e esperar as urnas.”