EDITORIAL

É hora de certezas e definições

De um lado, denúncias de corrupção, rebaixamento do rating do país e um Congresso Nacional sem qualquer vontade política de apoiar o Planalto. De outro, um governo titubeante, fraco na hora de cortar e valente quando o assunto é colocar o cidadão como principal fonte de receita. Um país, entre atônito e revoltado, assiste aos […]

De um lado, denúncias de corrupção, rebaixamento do rating do país e um Congresso Nacional sem qualquer vontade política de apoiar o Planalto. De outro, um governo titubeante, fraco na hora de cortar e valente quando o assunto é colocar o cidadão como principal fonte de receita. Um país, entre atônito e revoltado, assiste aos acontecimentos que levam o Brasil a um buraco difícil de sair. O contribuinte e o mercado, neste momento, não esperam um milagre para que a nação desvie dessa cratera. Na verdade, a esperança não é mais um sentimento em moda com relação a políticas econômicas ou a mudanças necessárias para a volta do crescimento. O fundamental, agora, é o pé no chão, a certeza na decisão e a transparência. As próximas semanas serão essenciais para mostrar o caminho a ser seguido.
A pasmaceira do Executivo na hora de tomar as rédeas da economia é um dos principais problemas enfrentados pelo país hoje. A falta de definição e de força para o ministro Joaquim Levy fez mais do que a reavaliação para baixo da agência Standard & Poor’s. A nova nota e a reação do mercado financeiro mostram somente uma realidade sentida pelo setor produtivo desde 2012 e pela população em geral desde meados do ano passado. No primeiro caso, o recuo dos investimentos é o quadro mais notável e importante para indicar por que o Brasil parou de crescer. No segundo, mesmo com a desaceleração inflacionária em agosto, o cidadão sente no bolso o aumento dos preços, que pode chegar a 10% até o fim do ano.
A nota conjunta feita pelas federações de empresários de São Paulo e Rio de Janeiro (Fiesp e Fierj) resume muito bem a situação a que chegou o Brasil: “A perda do grau de investimento foi o desfecho de uma série de hesitações, equívocos e incapacidade de lidar com os desafios de uma conjuntura econômica cujo esfacelamento é resultado de incontáveis erros cometidos ao longo dos últimos anos”. Erros esses que vão desde a falta de habilidade de lidar com as denúncias surgidas com a Operação Lava-Jato e o diálogo truncado — quando há — com o Congresso Nacional.
O início da resolução da crise não veio em bom tom. Levy chama a população para “fazer a sua parte”. Chama o aumento de impostos de “investimento” e joga para deputados e senadores a responsabilidade de aceitar o “remédio amargo”. O ministro é diferente, mas o governo é o mesmo há praticamente cinco anos — com a boa vontade de considerar os primeiros oito anos do PT no poder como corretos. Um governo que sabia da crise mundial, que foi avisado dos riscos do rebaixamento e da necessidade de reajustes fiscais e arrochos para a economia andar na linha.
O resultado disso é um futuro em que desemprego, inflação alta e mais falta de investimentos se desenham de forma clara. Se aumentar impostos fosse a solução definitiva, o ministro Levy estaria certo e a população aceitaria. Mas a falta de esperança em um governo sem rumo fala mais alto, e ninguém mais aceita sacrifícios a fim de manter um projeto de poder que se afastou de todas as camadas da população. Não é mais hora de incertezas e decisões titubeantes, promessas e explicações pouco realistas. Se o momento é de cortar na própria carne, que todos, e não só a população, sintam a dor.
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