EDITORIAL

De volta para o passado

Crise é sinônimo de oportunidade. Modelos antigos, sem condi- ções de responder aos desafi os que se apresentam, precisam ser substituídos. É aí que se abrem portas para a renovação. Não é outra a razão por que guerras estimulam saltos na medicina, na tecnologia, nos processos de produção. Passado o apuro, a nação emerge melhor […]

Crise é sinônimo de oportunidade. Modelos antigos, sem condi- ções de responder aos desafi os que se apresentam, precisam ser substituídos. É aí que se abrem portas para a renovação. Não é outra a razão por que guerras estimulam saltos na medicina, na tecnologia, nos processos de produção. Passado o apuro, a nação emerge melhor — mais moderna, mais produtiva, mais sintonizada com as exigências contemporâneas.
Transformar a adversidade em ocasião para avanços requer medidas acertadas. Não é, ao que tudo indica, o caminho escolhido pelo Brasil. No discurso de posse, há oito meses, a presidente Dilma Rousseff cunhou o slogan Pátria Educadora. Os quatro anos do segundo mandato dariam impulso à correção de rumos do mais grave descaminho nacional — a negligência com a educação.
A promessa mereceu aplauso de aliados e opositores. Com razão. Nenhuma nação galgou os patamares do desenvolvimento com educa- ção subdesenvolvida. Lamentavelmente, porém, as palavras não se tornaram fato. Ao contrário. O Ministério da Educação foi vítima de cortes horizontais que atingiram as demais pastas. Projetos importantes, que miram o futuro pós-crise, não escaparam da tesoura.
No programa de governo, a presidente se comprometeu a investir na qualidade da educação e na ampliação do acesso ao ensino. Três iniciativas mereceram destaque. Um delas: o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Desde 2011, o Pronatec manteve ritmo de crescimento constante. Em 2014, ofereceu 3 milhões de vagas. Em 2015, o cálculo é de 1,3 milhão.
Outra: o Ciência sem Fronteiras (CSF). A promessa divulgada em prosa e verso era de oferecer 100 mil bolsas até 2018. A prática, porém, mostrou cifras modestas. Em 2014, atender 42.209 estudantes no exterior exigiu o montante de R$ 3,42 bilhões. A previsão para 2015 é de R$ 3,3 bilhões. Assim, em vez de avançar, o CSF regride. A internacionalização da universidade — essencial no mundo globalizado, em que impera a sociedade do conhecimento — fica irremediavelmente comprometida.
Por fim, mas não menos importante, o Fundo de Financiamento Educacional (Fies) também sofreu corte drástico. Em 2014, a rubrica contou com R$ 731 mil contra R$ 314 mil em 2015. Desde o início do ano, jovens que contavam com a ajuda governamental para pagar o curso superior viram o sonho se transformar em pesadelo. Muitos, impossibilitados de arcar com a mensalidade escolar, desistiram dos estudos.
É lamentável. A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) sintetizou as consequências da iniciativa tacanha: “A saída para a crise deveria ser exatamente o contrário, a retomada do crescimento a partir do fortalecimento das universidades, do ensino técnico, do desenvolvimento humano e profi ssional”. Em português claro: o Brasil sairá da crise menor do que entrou. Pior: sem condições de alcançar os que continuam avançando, apesar do tsunami momentâneo. Trata-se de prova de que subdesenvolvimento não se improvisa. Cultiva-se.
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