EDITORIAL

Ajuste, sim, mas sem CPMF

Os muitos motivos que levaram o dólar a disparar ontem — no começo de mais uma semana difícil para a economia e a política brasileira –, encostando nos R$ 4 (bateu em R$ 3,972 no meio da tarde), podem ser resumidos na falta de confiança dos agentes econômicos na capacidade do governo de superar a […]

Os muitos motivos que levaram o dólar a disparar ontem — no começo de mais uma semana difícil para a economia e a política brasileira –, encostando nos R$ 4 (bateu em R$ 3,972 no meio da tarde), podem ser resumidos na falta de confiança dos agentes econômicos na capacidade do governo de superar a situação de instabilidade e incertezas por que passa o país. No fim do dia, a pressão cambial acabou cedendo, mas ninguém no mercado se iludiu: a expectativa de dias ainda piores permanece. Motivos não faltam.
Ainda ontem, o Boletim Focus, organizado pelo BC e que calcula a média das projeções de 100 analistas financeiros do setor privado do país, elevou pela primeira vez a previsão para o câmbio em 2016 para R$ 4. Para 2015, a média dessas projeções pularam de R$ 3,70 (da semana passada) para R$ 3,86.
A autoridade monetária também produziu um dado preocupante, ao divulgar prévia do Produto Interno Bruto (PIB) relativa a julho, medida conforme o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Houve queda de 0,02% em relação a junho. Foi uma queda menor do que a dos últimos meses, mas, ainda assim, é o índice mais baixo para o mês de julho desde 2012.
Mesmo observando critérios e prazos diferentes dos utilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão responsável pelo cálculo da evolução do PIB trimestral anual, o IBC-Br de julho mostra preocupante confirmação de que as previsões de resultado negativo nas taxas de crescimento da economia brasileira em 2015 estão se confirmando. De fato, nos 12 meses encerrados em julho, o índice do Banco Central revela recuo de 1,93% em relação aos 12 meses anteriores e, pior ainda, registra retração de 2,74% acumulada entre janeiro e julho, taxa muito difícil de ser revertida.
Especialistas acreditam que a retomada da confiança na condução da política econômica depende de passagem que, até agora, ninguém consegue vislumbrar: a superação da dificuldade do governo para completar o ajuste fiscal. Pelo contrário, parece cada vez mais distante o dia em que o governo da presidente Dilma Rousseff vai conseguir apoio político para evitar o deficit primário de R$ 30,5 bilhões previsto para 2016.
Sem força para enfrentar o desgaste de fazer os cortes necessários para conter o crescimento do gasto público — em disparada desde o ano eleitoral de 2014 —, a presidente tenta saídas para a crise pelas portas da receita. Ela calcula que o desgaste de empurrar mais impostos sobre a sociedade é menor do que o de enfrentar o corte de benefícios e privilégios pagos pelo Tesouro Nacional.
Mas Dilma parece estar errada. São claras as manifestações de empresários e de lideranças políticas contra a volta da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF). E é raro encontrar, nas feiras e supermercados, um consumidor disposto a aceitar passivamente a volta desse tributo, derrubado em memorável sessão do Senado Federal, em dezembro de 2007. Suportando carga tributária de 35% do PIB, uma das mais altas do mundo, em troca de precários serviços públicos de saúde, educação e segurança, a cidadania parece pouco disposta a pagar ainda mais para um governo no qual a maioria não mais confia.
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