EDITORIAL

Sem trocar seis por meia dúzia

Armou-se no Brasil a tempestade perfeita. Duas crises se dão as mãos. De um lado, a econômica. De outro, a política. Com a popularidade abaixo dos dois dígitos, a presidente Dilma Rousseff não consegue administrar a base no Congresso nem apresentar respostas aptas a estancar a sangria que debilita as forças nacionais. O desequilíbrio fiscal […]

Armou-se no Brasil a tempestade perfeita. Duas crises se dão as mãos. De um lado, a econômica. De outro, a política. Com a popularidade abaixo dos dois dígitos, a presidente Dilma Rousseff não consegue administrar a base no Congresso nem apresentar respostas aptas a estancar a sangria que debilita as forças nacionais.
O desequilíbrio fiscal é de tal ordem que o país não pode nem pagar os juros. Criou-se, com isso, clima de desconfiança que afugenta investimentos internos e externos. Sem acreditar em melhoras no cenário, ninguém gasta, nem empresários, nem consumidores. A economia para.
Não só. Ao lado do crescimento negativo, a inflação explode. Trata-se do cenário sombrio que alimenta pesadelos, a estagflação, soma de todas as incompetências que levaram à desorganização do sistema produtivo, à elevação da taxa de juros e ao salto do desemprego.
Por seu lado, a Operação Lava-Jato desvenda sofisticado esquema de corrupção que alimentou o poder nas diferentes esferas. Milhões de reais, que deveriam reforçar o orçamento de setores-chave como educação, saúde, segurança e infraestrutura, engordaram contas bancárias de ladrões do erário sem compromisso com o bem comum. Membros do Executivo e do Legislativo estão mergulhados no lamaçal.
Não por acaso, vozes se levantam contra o estado de degradação nacional. Entre elas, a da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “O povo não aguenta mais tanta corrupção”, disse o presidente, D. Sergio da Rocha, em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense. Ele avalia com cautela lúcida a proposta de pacto pela governabilidade. Com razão não aceita a troca de seis por meia dúzia.
O combate à corrupção deve continuar sem complacência. Mais: o arcebispo de Brasília critica a reforma política, aprovada com açodamento pelo Congresso, sem discutir pontos importantes capazes de frear a relação escusa entre os poderes político e econômico. É o caso do financiamento de campanha. Condena também o jeito corporativista de fazer política. “O bem do povo”, frisou ele, “deve estar acima de qualquer interesse, particular ou partidário.” Sonho? Talvez. Mas capaz de se tornar realidade com a crescente participação popular.
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