A prefeita de Bom Jardim, Lidiane Leite (PRB) desviou mais de R$ 900 mil reais de merenda escolar da cidade de Bom Jardim, a 275 Km da capital, segundo a Polícia Federal. O pronunciamento foi feito por agentes da Polícia Federal no fim da tarde de hoje, em uma coletiva de imprensa, no auditório da polícia.
Segundo o chefe da Delegacia de Defesa Institucional da Polícia Federal do Maranhão, Ronildo Lages, a prefeitura conseguia fechar recursos e contratos para os agricultores. “Ela fazia com que os agricultores leigos e semi-analfabetos de extrema pobreza sacassem os valores e repassassem para ela em espécie, como uns R$ 300 mil, que apenas 30% do valor foi utilizado para merenda escolar, no total de desvio de um contrato, resulta em no mínimo R$ 900 mil a R$ 1 milhão, valor que pode ser ultrapassado”, contou o delegado.
O esquema de corrupção acontece desde 2013, só após denuncias por moradores e vereadores da oposição, é que a Polícia Federal tomou conhecimento e começou a operação que acontece desde o ano passado.
Os delegados ainda informaram que os seis mandados de busca e apreensão foram dados pela justiça desde o dia 6 de agosto, para ser executado no início de setembro, mas devido à logística, não puderam antecipar a operação. Desconfiados, alguns acusados que estavam sobre investigação de 18 policiais federal, conseguiram prender fuga, logo, foi quando decidiram agir.
O alvo principal da polícia é a prefeita Lidiane Leite (PRB), que ainda está foragida. O ex-marido da prefeita foi preso na manhã de hoje, tentando fugir. “Beto Rocha foi preso em um posto de gasolina, na cidade de Itapecuru, quando tentava fugir para São Luís. Os demais foram presos ainda na cidade, já a prefeita estava ontem, na cidade de Bom Jardim, não dormiu em casa e conseguiu fugir na madrugada. A cada dia ela dormia em um local diferente para dificultar o trabalho da polícia”, disse Ronildo Lages.
Na operação da manhã de hoje, ainda foram presos os ex-secretários de Assuntos Políticos, Humberto Dantas dos Santos, o de Agricultura, Antônio Gomes da Silva, Antônio Cesarino, também presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Bom Jardim (STTR).
Todos são suspeitos por desvios de verbas de merenda escolar, de reforma de escolas, do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
Crianças estavam sendo dispensadas das escolas antes do horário por falta de merenda.
De acordo com o superintendente da Polícia Federal, a ação da polícia é para mudar a história do Estado contra os desvios de verbas da educação e merenda escolar. “Precisamos mudar essa história principalmente na área da educação, os recursos chegam, mas não são investidos em milhares de crianças em extrema pobreza e semi-analfabetas”, disse Alexandre Saraiva.
Ainda segundo o delegado, o ex-marido da prefeita, era quem providenciava as assinaturas e contratos. “Ele providenciava quase tudo, desde os contratos as assinaturas de pessoas leigas e semi-analfabetas em extrema pobreza, ele articulava todo o financeiro da fraude. A prefeita tinha ciência de tudo, chegou a ser divulgado, foi avisada por vereadores da oposição, mas não tomava nenhuma decisão”, disse Ronildo Lages.
Os delegados ainda afirmaram que mais agricultores podem ser presos por assinarem contratos com a prefeitura.
O Ministério Público do Maranhão (MP-MA) e Ministério Público Federal (MPF) já investigavam as irregularidades. Já a policial Federal continua nas buscas da prefeita e demais envolvidos.
Troca de candidato
Em 2012, Lidiane Leite, aos 22 anos, tornou-se candidata porque seu marido, Beto Rocha, então candidato a prefeito, ficou impossibilitado de concorrer ao cargo por ter sido impugnado por meio da Lei da Ficha Limpa. Na época, Lidiane trabalhava em um mercado e assumiu o lugar do namorado como candidata e foi eleita prefeita do município de Bom Jardim.
A prefeita já havia sido afastada do cargo em dezembro de 2014 pela Justiça do Maranhão. Lidiane deveria obedecer à ação judicial para regularização das aulas na educação infantil e fundamental, fornecimento de merenda e transporte escolar. Entretanto, pelo não cumprimento das disposições ela foi afastada pela Justiça. Após recursos judiciais, ela foi reconduzida ao cargo.
No início de 2014, o decreto da prefeita que tornou nulas as nomeações dos excedentes do concurso público homologado em novembro de 2011 foi cassado pela Justiça a pedido do MP-MA.