AJUSTE

Michel Temer pensa em abdicar de coordenação política do governo

Temer sente-se desconfortável com a demora na Casa Civil em agilizar as nomeações para o segundo e terceiro escalões da máquina pública federal

O vice-presidente Michel Temer está cansado das pressões que vem recebendo do PT e de não conseguir emplacar as demandas dos partidos aliados e pensa, seriamente pela primeira vez, na possibilidade de abdicar da coordenação política do governo. O gesto, que ainda não tem data para ser concretizado, poderá provocar uma hecatombe política no governo se o PMDB decidir acompanhar a decisão do vice. Temer sente-se desconfortável com a demora na Casa Civil em agilizar as nomeações para o segundo e terceiro escalões da máquina pública federal; com a recusa do Ministério da Fazenda e do Planejamento em liberar os R$ 500 milhões de emendas parlamentares; e com a dificuldade para tornar real as negociações em torno de projetos em tramitação no Congresso.
Temer tem claro em sua mente que assumiu o cargo de articulador para assegurar um mínimo de paz no Congresso para a tramitação das medidas do ajuste fiscal encaminhadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A última proposta legislativa do pacote econômico foi aprovada na quarta-feira, com a votação do projeto de reoneração da folha de pagamentos no Senado. “Ele sabe que, agora que o debate legislativo em torno do ajuste está concluído, serão intensificadas as pressões e sabotagens aos trabalho dele na articulação política. E ele não parece muito disposto a manter essa situação por mais tempo”, disse um amigo do vice-presidente.
O Correio mostrou, em junho, um movimento idealizado pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de que, tão logo as medidas do ajuste fiscal fossem aprovadas no parlamento, para a coordenação política do governo retornar às mãos do PT. Na época, diante do constrangimento com a articulação, Mercadante e outros ministros petistas fizeram elogios públicos a Temer para evitar um desarranjo nas relações com o Congresso.
A crise — e os críticos — voltaram com toda disposição após a decisão de Temer, há duas semanas, de dizer que o país precisava de uma união nacional para sair da crise. Ele teve que se explicar no dia seguinte a Dilma, chegou a dizer que se ela estivesse insatisfeita ele deixaria o cargo. Dilma respondeu para ele ficar e ele ficou. Durante reunião da coordenação política, teve que ouvir novas insinuações sobre a frase. “É importante lembrar que, após a minha declaração, o governo se movimentou e conseguiu fechar um acordo com o Senado em torno da Agenda Brasil”, lembrou o vice-presidente. Recentemente, Temer queixou-se das dificuldades impostas pela equipe econômica para liberar as emendas parlamentares prometidas para destravar a pauta de votações do Congresso. E do recuo de Joaquim Levy, que não aceitou excluir o setor de Transportes das áreas poupadas da reoneração da folha de pagamento.
Aliados do vice-presidente confirmam o cansaço de Temer, mas evitam definir uma data para ele desembarcar da missão de coordenador político. “Ele também vai pesar o fato de que ganhou uma relevância gigantesca, algo que nunca teve ao longo dos primeiros quatro anos de mandato. Valerá a pena voltar a ser apenas vice-presidente?”, questionou um peemedebista. Muitos defendem que o PMDB como um todo desembarque do governo. “Mas, com certeza, o desembarque não será completo. O PMDB sempre será o PMDB”, ponderou um parlamentar do partido.
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