ARTIGO

Maranhão Como Paradoxo: Choque de Educação

O Secretário Adjunto de Ciência Tecnologia e Inovação do Maranhão convidou-me, e eu prontamente aceitei, para fazer um depoimento ao Projeto PENSE (Laboratório de Pensamento Estratégico), acerca de alguns indicadores do nosso estado. A conversa foi gravada aqui no meu gabinete na UFC numa sexta-feira à tarde, 17 de julho. No dia 6 de agosto […]

O Secretário Adjunto de Ciência Tecnologia e Inovação do Maranhão convidou-me, e eu prontamente aceitei, para fazer um depoimento ao Projeto PENSE (Laboratório de Pensamento Estratégico), acerca de alguns indicadores do nosso estado.
A conversa foi gravada aqui no meu gabinete na UFC numa sexta-feira à tarde, 17 de julho. No dia 6 de agosto o depoimento foi colocado no youtube, e a partir daí veio a agradável surpresa para mim. Uma grande quantidade de pessoas já acessou e assistiu àquela conversa. Neste momento em que escrevo este texto, sexta-feira, 21 de agosto, antes das cinco da tarde já são 469 visualizações do vídeo. A minha expectativa é que a maioria das pessoas que assistam àquela conversa seja de maranhenses, pois sei de pessoas do Sul, do Sudeste, da Amazônia e, claro, daqui do Ceará que assistiram e mandaram mensagens para mim. Para aqueles conterrâneos que ainda não o assistiram e quiserem fazer, acessem no link: https://www.youtube.com/watch?v=8B9wv3-I2SI. Ou busquem no youtube usando o titulo deste texto como palavras chaves.
Na conversa eu enfatizo que a maior tragédia do Maranhão é a deseducação da maior parte de sua população. Com base nos dados da última PNAD eu estimei que a escolaridade média dos maranhenses é de apenas 6,7 anos. Nas áreas rurais consegue ser pior, e está abaixo dos quatro anos. A taxa de analfabetismo dos maranhenses maiores de 15 anos é de 20%. A maior do Brasil. Atualmente existem aproximadamente um milhão de conterrâneos nesta faixa etária que são analfabetos. O percentual da população maior de 25 anos, que deveria ser a economicamente ativa e que mais poderia contribuir para a geração de riqueza no estado, tem um padrão de educação “dramático”. De fato, 61,5% da população nesta faixa etária não concluiu o nível elementar, o que equivale a nove (9) anos de escolaridade.
No vídeo eu digo que em 160, dos 217 municípios maranhenses, mais de 70% da população maior de 25 anos não concluiu o nível elementar. Agora eu repasso uma nova informação. Em 16 das 21 microrregiões em que o IBGE divide o estado, o percentual da população maior de 25 anos que não concluiu o nível elementar varia entre 70,1%, no Litoral Ocidental Maranhense, a 79,0%, no Baixo Parnaíba. Ali estão ao menos 15 municípios com características de semiárido que o Maranhão insiste em não brigar pela inclusão, e que o Governo Federal não faz o menor caso em incluir. Ora, se aqueles que deveriam ser os maiores interessados não reivindicam, por que os burocratas do Governo Federal iriam se preocupar com isso? Entrementes, aproximadamente um milhão de maranhenses sobrevivem precariamente naqueles municípios.
Portanto, para mudar o Maranhão o grande projeto estruturante é reverter radicalmente os indicadores cruéis de educação. Com os atuais não chegaremos a lugar algum. Não adianta falar só em atração de investimentos físicos ou de outros tipos que, obviamente precisam ser buscados. Com uma mão de obra com este nível de qualificação, com os equipamentos avançados, também deverá vir a mão de obra qualificada necessária que o estado não tem. Óbvio que isso não é interessante para nós.
No vídeo eu falo que a grande vocação do Maranhão é a agricultura. Temos bacias perenes. Temos chuvas em quantidade satisfatória e razoavelmente bem distribuídas. Exceção do Baixo Parnaíba onde se observa os problemas de escassez de chuvas, mas ainda não de escassez hídrica, face às bacias de rios perenes que tem por lá. Temos solos que, se devidamente tratados, podem prover resultados interessantes. No Maranhão não faltam condições para produzir agricultura pujante, produtora de alimentos e de matérias primas. Basta colocar gente competente, e do ramo, para liderar o processo. A agricultura proverá bons resultados se for feita por mãos hábeis, com gente com padrões de escolaridade que lhes possibilite acessar tecnologias rentáveis, com acesso ao crédito rural com juros favorecidos (o Maranhão negligencia o acesso ao PRONAF). De outra forma sobrarão improvisações e os resultados que estão aos nossos olhos. O desenvolvimento rural deve ser a alavanca para começar um circulo virtuoso de progresso no nosso estado. Enquanto isso se prepara, educando, força de trabalho jovem para enfrentar avanços importantes nos demais setores. A inversão desta pauta provoca êxodo rural, inchamento das cidades, caos urbano, desabastecimento.
Nas minhas andanças pelo Maranhão neste ano, trabalhando numa pesquisa que estou assessorando, estive em lugares do Baixo Paranaíba, onde parece que o tempo parou. Num desses locais, encravada num areal onde nem carro tracionado chega, conheci o casebre paupérrimo de uma senhora cujo apelido é “Dona Sabida”. Por ali a luz que chega á noite é de lamparina. Alguém na capital sabe o que é isso? “Dona Sabida”, e mais 51 mil maranhenses, praticamente todos nas áreas rurais do estado, em pleno século XXI, ainda tem esta fonte de iluminação às noites. Isto num estado que pode produzir eletricidade a partir do sol, do vento, do babaçu…
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