O líder do MTST, Guilherme Boulos, foi o primeiro a falar nas manifestações “contra o golpismo” em São Paulo. Principal organizador do ato, Boulos abriu com críticas aos grupos que organizam manifestações pedindo impeachment da presidente Dilma Rousseff que, segundo ele, têm “moral seletiva”.
“Eles vão na Avenida Paulista dizer que são contra a corrupção, mas ficam de mãos dadas com o Eduardo Cunha (presidente da Câmara) e com o Aécio Neves”, bradou Boulos em cima do carro de som. O líder do MTST chamou o senador tucano de “playboy de Ipanema que nunca fez nada pelo povo” e também direcionou críticas ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que tachou de “banqueiro prepotente”. “Não viemos aqui para defender nenhum governo, mas viemos rechaçar um ajuste fiscal que esta tirando direitos dos trabalhadores”, afirmou.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, que estava na concentração do ato, no Largo da Batata, minimizou o fato de os movimentos sociais trazerem críticas ao governo Dilma, a Levy e ao ajuste fiscal. Falcão disse não ver “racha” mas diferenças normais em cidades onde grupos mais próximos ao governo e mais críticos se separaram nas manifestações. “Os movimentos sociais estão trazendo suas pautas”, disse o dirigente petista.
Falcão também minimizou a diferença de proporção dos atos pró impeachment no domingo, 16, e contra o afastamento da presidente nesta tarde. No domingo, às manifestações reuniram cerca de 800 mil pessoas em todo o País. Nesta quinta, no Largo da Batata, em São Paulo, maior ponto de manifestação, os organizadores falam em mais de 60 mil, mas não há número oficial da PM.
Falcão disse que o objetivo não é “comparar”. “Não estamos fazendo comparação, estamos defendendo a democracia. O importante é que tem espaço para que a população vá às ruas fazer essa defesa.”
Outras lideranças
Vagner Freitas, da CUT, que polemizou na semana passada ao falar de se pegar “em armas” para defender Dilma, não usou termos tão fortes. Ele disse que é preciso acabar com o “terceiro turno”. “Temos parar com a ideia de golpe, porque o golpe é contra os trabalhadores e contra o Brasil”, afirmou. Freitas também se posicionou conta o “ajuste neoliberal”
João Paulo, porta-voz do MST, fez um discurso “contra a direita” e disse que o tradicional Grito dos Excluídos será maior que as manifestações que grupos pró impeachment possam organizar. “Sete de setembro é o dia do grito dos excluídos não do berro dos ‘coxinhas’.”
O porta-voz do MST também pediu que Dilma deixe de fazer um governo “a serviço do capital e refém de Levy e de Eduardo Cunha”, para fazer um governo a “serviço dos trabalhadores que a elegeram”. O ato tem participação de centrais sindicais, movimentos sociais e estudantis, além de partidos como PCO, PCdoB e do próprio PT.
Há bandeiras com o nome de Dilma e até cartazes curiosos como “Dilma os ter one” (algo como “Dilma é o cara” em inglês), mas a maior parte das palavras de ordem são contra Cunha, contra o PSDB e contra o que os movimentos consideram as pautas conservadoras, como ajuste fiscal, terceirização e redução da maioridade penal.
Ensaiaram-se gritos de “Não vai ter golpe”, mas os que mais ressoaram até agora foram gritos como “Dilma, que papelão, essa agenda é coisa de patrão” ou “Cunha ladrão, seu lugar é na prisão” “Fora já, fora daqui Eduardo Cunha junto com o Levy”.
Entre as manifestações no carro de som também houve falas contra o governador Geraldo Alckmin. Houve protestos por causa da crise hídrica e contra a “polícia que mata trabalhadores e jovens negros da periferia”, em referência à chacina que deixou 18 mortos na Grande São Paulo. Uma das principais hipóteses da investigação é que os crimes tenham sido cometidos por PMs.