EDITORIAL

Convergência de interesses entre Brasília e Berlim

Bom negócio é aquele no qual todas as partes ganham. Observada no mundo das relações comerciais, a máxima também se aplica ao universo da diplomacia. Serve de exemplo a visita relâmpago de Angela Merkel ao Brasil. A chanceler alemã e a presidente brasileira atravessam momentos de dificuldades internas. Nada melhor do que desviar o foco […]

Bom negócio é aquele no qual todas as partes ganham. Observada no mundo das relações comerciais, a máxima também se aplica ao universo da diplomacia. Serve de exemplo a visita relâmpago de Angela Merkel ao Brasil. A chanceler alemã e a presidente brasileira atravessam momentos de dificuldades internas. Nada melhor do que desviar o foco do problema para mudar de assunto e, consequentemente, aliviar as tensões.
Dilma enfrenta três crises simultâneas – a econômica, a política e a ética. Sem conseguir manter a coesão da base ou tomar medidas convincentes capazes de acabar com o pessimismo e a desconfiança que lhe caracterizam o governo, a presidente encolhe ante a queda ímpar da popularidade e as manifestações de rua que exigem a renúncia ou o impeachment da ocupante do Planalto.
Por seu lado, Merkel se confronta com divisão inédita no próprio partido, a União Democrata Cristã (CDU). O pomo da discórdia: a concessão de nova ajuda financeira à Grécia. O tema provocou desgaste da líder alemã no bloco europeu. Berlim, que protagonizou duas guerras mundiais, que arrasaram o Velho Continente, podia, mais uma vez, desunir a Europa com a adoção de linha-dura contra Atenas. Não só. A imigração, que desafia parte significativa dos membros da União Europeia (UE), também gera insatisfação.
Para estada de menos de 24 horas, Angela Merkel trouxe na comitiva 12 ministros e vice-ministros (quase 60% do gabinete alemão). No topo da agenda, o combate às mudanças climáticas, tema da conferência da ONU marcada para dezembro próximo, na capital francesa. Ambos os países têm interesse no êxito do evento. O Brasil, que já protagonizou os debates sobre o assunto, precisa retomar a vanguarda assumida na Rio 92.
A Alemanha tem exemplos a exibir. Entre eles, medidas que contribuem para a redução dos fatores que levam ao aquecimento global. É o caso da substituição de combustíveis fósseis por energia limpa e renovável – eólica, solar e de biomassa. O Brasil, apesar da abundância de recursos de que dispõe, ainda engatinha no processo que, além de imperativo, contribui para o desenvolvimento tecnológico nacional.
Mais: quarta economia do mundo, a Alemanha importa commodities do Brasil, sobretudo minério de ferro e grãos crus de café. O Brasil, por seu lado, importa produtos com alto valor agregado. Daí a importância de acordos na área de inovação tecnológica voltados para a indústria. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem feito esforços para a abertura do mercado europeu às mercadorias brasileiras. Mas tem esbarrado na qualidade, fruto das nossas deficiências na competitividade global.
O acordo comercial Mercosul-União Europeia, citado pelas duas líderes, deve continuar em ponto morto. Iniciadas há 20 anos, as negociações não avançam porque tocam em item altamente sensível: as concessões agrícolas. O mais acertado, sem dúvida, é investir na colaboração bilateral. O Brasil tem muito a lucrar com a disciplina e a tecnologia germânica.
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