A presidente Dilma Rousseff, seu partido e o ex-presidente Lula não precisaram mais do que 10 minutos em rede nacional de tevê, na quinta-feira, para convencer a sociedade de que não fazem e não farão esforço algum para merecer a confiança das demais lideranças políticas do país. Nem mesmo para buscar saídas para a crise vigente. Para quem anda pregando a importância da compreensão das pessoas para as dificuldades econômicas e chega a falar no apoio das outras correntes políticas para o Brasil vencer a travessia de 2015, o programa em horário gratuito do PT reafirmou a posição de confronto própria de quem não desceu do palanque eleitoral.
Com a mesma arrogância dos tempos em que desfrutavam de popularidade, os protagonistas do show de inverdades e visões fantasiosas da realidade repetiram velhas agressões aos governos passados. Pior e mais preocupante: repisaram diagnóstico propositalmente equivocado sobre a situação econômica nacional. Preocupante porque, se o governo e seu grupo de poder se recusam a reconhecer que a inflação alta, a recessão da economia e o desemprego são bem mais sérios do que problemas passageiros provocados pela conjuntura internacional, é porque corremos o risco de não os enfrentar tão cedo.
Não importa que órgãos do próprio governo, como o Banco Central, a Fundação Getulio Vargas e o IBGE, todos com credibilidade muito mais alta do que os eventuais ocupantes da cadeira presidencial — mais ainda na atual quadra —, informem que a economia está recuando ao ritmo de 2% do Produto Interno Bruto este ano. Milhares já estão desempregados. As famílias que tinham experimentado alguma elevação no padrão de consumo nos últimos anos estão vendo a renda ser corroída pela infl ação anual de dois dígitos. A fantasia acabou e não é outra a explicação para o resultado da última pesquisa do Datafolha, que mostrou Dilma com 71% de reprovação.
Em vez de assumir e explicar à população as razões do ajuste fiscal, a presidente e o principal líder de seu partido preferem manter o escapismo de afirmar que o ajuste fiscal de hoje é menos ruim para o trabalhador do que o que fi zeram outros governos. É claro que, a esta altura, a maioria das pessoas medianamente informadas já sabe que foi a condução irresponsável dos gastos (com truques e pedaladas para maquiar a realidade) que levou o governo Dilma a fechar as contas públicas no vermelho no ano eleitoral de 2014. Tampouco se ouviu uma só palavra sobre a enxurrada de denúncias que surgem diariamente no noticiário sobre a Operação Lava-Jato e os cerca de 20 optantes pela delação premiada.
É como se não fossem do PT o todo-poderoso ministro de Lula, José Dirceu, e o tesoureiro João Vaccari Neto, ambos presos e respondendo a processos por desvio de dinheiro público. Enquanto isso, a crise se agrava e assusta empresários e investidores, tomados pelo pavor da incerteza. É urgente reagir, mas não será com fantasias de marqueteiros e com desrespeito à inteligência das pessoas — as que bateram e as que não bateram panelas na quinta-feira — que se vai chegar a uma saída mais rápida e menos traumática do buraco a que o país foi atirado.