ENTREVISTA

Pedro Simon defende pacto nacional contra crise e critica Eduardo Cunha

Ex-senador afirmou que o presidente da Câmara perdeu uma oportunidade política ao desistir de implementar uma agenda de reformas

Foto: Monique Renne/CB/D.A Press.


Monique Renne/CB/D.A Press

Pedro Simon fala sobre o cenário político do país

Pedro Simon pode até estar sem mandato, mas a argúcia de quem tem 60 anos de vida pública faz com que esse gaúcho ainda seja um analista precioso do atual momento vivido pelo país. Ele está preocupado. “Estamos vivendo uma experiência que ainda não tínhamos vivido. É mais difícil do que o período vivido no auge da ditadura”, afirmou, acrescentando que, durante o regime militar, as oposições sabiam o que fazer: lutar pela democracia. “Tem um Congresso funcionando, tem um presidente eleito. Mas nós não sabemos o que fazer”.

Simon afirmou, em entrevista exclusiva ao Correio, que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, perdeu uma oportunidade política ao desistir de implementar uma agenda de reformas na Câmara e optar por fazer as coisas de seu interesse pessoal. “Foi um erro infeliz dele, um erro dramático. Podia fazer uma grande jogada e cometeu uma tolice. Agora, resolveu romper (com a Dilma).”
O ex-senador acredita que o Judiciário vive uma fase épica e elogia o juiz Sérgio Moro. “Ele é uma das figuras mais extraordinárias que apareceram neste século 21 no Brasil”. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Após tanto tempo de vida política, qual a avaliação da atual crise?
Nós já tivemos todo tipo de crise, mas estamos vivendo uma experiência que ainda não tínhamos vivido. É uma situação complexa, com várias origens, vários focos. É mais difícil do que o período vivido no auge da ditadura.
Por quê?
No auge da ditadura, nós não tínhamos direito nenhum, mas tínhamos uma razão para lutar: derrubar a ditadura e retomar a democracia. Estava clara a situação, não tínhamos nenhuma dúvida. No momento em que o MDB conseguiu reunir as oposições em torno das Diretas Já, nós caminhamos. Muita gente chamava a gente de louco, de ridículo, esse MDB lutando contra um regime ao qual a Igreja, a grande imprensa, os empresários e os americanos apoiavam. Foi uma luta, mas nós tínhamos um caminho. Tanto que deu certo.
E hoje, como está a situação?
Está ruim. Tem um Congresso funcionando, tem uma presidente eleita. É certo que não há perigo de golpe. Os militares estão em uma posição neutral, que eles fazem muito bem. Mas nós não sabemos o que fazer.
Falta alguém com lucidez para se pensar em saídas para crise?
No momento de auge da luta contra a repressão, nós tínhamos pessoas lúcidas. Tínhamos Ulysses (Gumarães), Brizola, Tancredo, Teotônio (Vilela), (Franco)Montoro, Lula, a área progressista da Igreja, várias pessoas que integravam esse movimento. Se for olhar agora, não tem ninguém. Não tem um partido que consiga encontrar uma saída para o Brasil. Temos bons governadores, jovens, mas nenhum tem uma liderança.
E no Congresso?
Quem se destaca são os presidentes da Câmara (Eduardo Cunha) e do Senado (Renan Calheiros), pelos cargos que eles ocupam. Mas são políticos que têm problemas pessoais, idiossincrasias pessoais. Parecia que, em um determinado momento, o presidente da Câmara exerceria um papel de fazer um parlamento forte, fazer as reformas, mas faltou grandeza para ele.
Cunha é acusado de atropelar o regimento interno, impor uma pauta conservadora à Câmara e, agora, rompeu com a presidente. Qual sua avaliação sobre ele?
Ele é um homem de uma competência fantástica. Para o bem ou para o mal, não quero discutir. Estou na política há 60 anos e não me lembro de nenhum momento em que o Congresso tenha tido um poder de decisão, escolher a pauta. Ele deveria aproveitar isso, mas não como presidente da Câmara. Esse é o grande equívoco dele. Ele quis fazer as coisas do interesse dele, pessoal, colocar as matérias para prejudicar o Executivo. Foi um erro infeliz dele, um erro dramático. Ele estava no auge dele, podia fazer uma grande jogada e cometeu uma tolice. Agora, resolveu romper. Bem fez o presidente Michel Temer, que falou que ele (Cunha) fala por si só, não pelo partido.
 
Falta humildade ou traquejo político para a Dilma?
Falta traquejo e faltam condições. Quando assumiu o primeiro mandato, a Dilma demitiu seis ministros por corrupção. Mas o que aconteceu? Começou a aparecer o Volta Lula, o sai Dilma, ela foi para o lado de lá e as coisas foram ladeira abaixo. Eu vejo agora esta história do Lula querendo chamar o Fernando Henrique Cardoso para falar sobre a crise.
O que o senhor acha disso?
A rigor, os dois são culpados. Fernando Henrique foi responsável pela maldita emenda da reeleição que detonou isso que está acontecendo. Mas acho positivo fazer reunião. Vamos fazer um entendimento. Não para esconder o que aconteceu. Tem muita gente que está querendo sair deste momento. O que pode ser feito deve ser feito.
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