Os fatos voltam a desmontar o discurso oficial que tentava minimizar o tamanho do estrago que as trapalhadas do primeiro mandato de Dilma Rousseff causaram na economia brasileira. Não faltou no governo e entre os desenvolvimentistas que apoiavam a política econômica da equipe quem assegurasse que os desarranjos do começo deste ano eram passageiros. Tudo estaria superado no segundo semestre.
Quase ninguém acreditou, pois não eram esses os sinais que a realidade mostrava. Na verdade, nos primeiros meses de 2015, ninguém com pequeno conhecimento de economia ou responsabilidade sobre um negócio ou empregos se arriscava a tomar decisões com base em projeções otimistas. O tempo foi passando e, a cada dia, novos rombos nas contas públicas foram sendo descobertos e mais impactos negativos sobre a inflação, o crescimento da economia e o emprego foram mostrando o tamanho da crise em que o país foi lançado.
O semestre fechou com péssimos indicadores da macroeconomia e, agora, surgem notícias ruins de todos os lados. Dois exemplos colhidos na semana passada não deixam dúvidas: não apenas a crise é muito grave, como tudo indica que vai durar bem mais do que previam os mais pessimistas. É o caso das vendas de smartphones. Depois que os aparelhos passaram da condição de objeto de desejo para a de produto de primeira necessidade, o Brasil ganhou destaque entre os mercados mais cobiçados pelos fabricantes mundiais de smartphones. O país já tem, há pelo menos três anos, mais celulares ativos do que habitantes.
Na contramão da retração do comércio, as vendas de smartphones pareciam imunes à recessão. Pareciam. Dados preliminares da pesquisa de mercado do IDC Brasil (consultoria especializada no setor) revelam que, depois de sete anos seguidos de crescimento, as vendas de smartphones no Brasil fecharam o segundo trimestre com queda de 12% na comparação com igual período de 2014. Os pesquisadores concluíram que, no momento, a baixa confiança na economia está afetando o consumidor mais do que nos anos anteriores.
A conclusão foi confirmada na sexta-feira por pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que ouviu 2.002 pessoas em 141 municípios entre 18 e 21 de junho. O estudo revelou que o Índice de Medo do Desemprego aumentou 5,4% em junho em comparação com março, alcançando 104,1 pontos. É o nível mais elevado desde setembro de 1999. Entre dezembro de 2014 e junho de 2015, o medo de perder o emprego cresceu 32,1%.
É que, este ano, em milhares de famílias passou a haver pelo menos uma pessoa desempregada, procurando e não encontrando colocação no mercado de trabalho. E essa situação acaba provocando um segundo efeito perverso da recessão: a redução da massa salarial. Distante da falta de mão de obra, que marcou o país em anos anteriores, o mercado de trabalho passa a remunerar menos para a reposição das vagas.
Nesse cenário, ao qual se soma o vazio de liderança e de eficiência do segundo governo de Dilma Rousseff, permanece muito difícil animar a retomada do investimento e, sem ele, não há corda para içar a caçamba da economia do fundo do poço. Sobe mais, portanto, o preço que a sociedade paga por ter o governo afrontado a máxima de que dinheiro não aceita desaforo.