Foto: Folhapress.
O bimotor em que foram encontrados R$ 100 mil em dinheiro vivo esteve em nome do contador José João Appel Mattos
O contador José João Appel Mattos, 60 anos, um dos alvos da Operação Acrônimo na semana passada, foi citado na Operação Lava-Jato como o autor da indicação de um depósito de R$ 6 milhões para um escritório de advocacia envolvido na denúncia de pagamento de propina para o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE). Na Acrônimo, como revelou o Correio no ano passado, foi oficialmente um dos donos do avião em que o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, foi flagrado com mais de R$ 100 mil em dinheiro vivo após passar numa cidade onde acontecia evento de campanha do hoje governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). Appel não é a ligação apenas entre esses dois escândalos recentes. Ele foi o contador do Renan Calheiros no episódio dos bois de Alagoas e ainda atuou para o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, o operador do mensalão, quando precisou retificar notas fiscais em uma “emblemática reunião”, segundo escreveram os investigadores do caso nos autos do processo no Supremo Tribunal Federal.
Procurado ontem pelo jornal em seu escritório em Porto Alegre e em seu celular, Appel não retornou os pedidos de entrevista. Para os investigadores da Acrônimo, ele não fez apenas o serviço normal de contabilidade, mas ajudou a operador os esquemas de Bené — que faturou mais de R$ 500 milhões — a lavar dinheiro. A PF realizou 90 mandados de busca na semana passada, inclusive em endereços do contador, de parentes dele e de pessoas que trabalham com o contador.
Segundo fontes ouvidas pelo Correio, Appel vem a Brasília regularmente. Aqui atende vários clientes. É autor do livro Lavagem de dinheiro, um problema mundial: legislação brasileira, editado pelo Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul e que na capa a logomarca do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Appel é co-autor de Partidas dobradas, um manual para políticos seguirem padrões corretos ao prestarem contas à Justiça Eleitoral, publicação feita em conjunto com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Ele é contador de empresas de Bené, como a PP&I Participações Patrimoniais. Fez parte da Bridge Participações, firma em que estava registrada o avião PP-PEG em que o empresário e mais duas pessoas foram flagradas pela PF no ano passado. Os delegados entendem que a firma é de fachada para esconder a propriedade da aeronave, avaliada em R$ 2 milhões, mas registrada em empresa com capital social de apenas R$ 2 mil. Apontada como funcionária de Appel, Cleusa Centeno foi alvo de buscas porque seria a emissária de “documentos sigilosos” para Bené e uma das ex-sócias da Bridge. A funcionária e o contador foram sócios da Intercontinental Participações, por sua vez dona da Lumine Editora, da qual Bené fez parte. A filha do contador, Christiane Protti Appel também teve endereços devassados pelos agentes. Segundo representação do delegado Guilherme Torres, ela é “proprietária de várias empresas possivelmente fantasmas ou que já tiveram como sócios membros da ORCRIM (organização criminosa)”.