A herança maldita que Dilma Rousseff deixou para o segundo mandato é muito pior do que previam os economistas e os cientistas políticos mais pessimistas. Além do desarranjo fiscal, provocado pela gestão irresponsável do gasto público, que está exigindo profundo corte de verbas federais, as consequências da equivocada política econômica adotada no fim do governo Lula e ampliada nos quatro anos de Dilma vieram mais cedo e mais fortes do que esperavam os especialistas.
A inflação de 8,3% ao ano, muito longe da meta de 4,5% fixada para 2015, retira poder de compra dos salários e força a adoção de política monetária mais apertada (juros altos), inibindo o consumo das famílias. Isso contribui para a desaceleração da atividade econômica, que, a esta altura do ano, passa de estagnação para quadro de recessão e desemprego.
É evidente a decepção das pessoas que acreditaram no paraíso pintado pela candidata Dilma Rousseff, orientada por marqueteiros determinados a esconder os sinais do desastre que se armava para 2015. Mais do que isso, a candidata à reeleição negou muitas vezes a necessidade de ajuste fiscal e ainda assustou o eleitorado com mensagens atribuindo a perda dos empregos e a fuga dos alimentos da mesa mais pobre ao estilo de governar dos oponentes.
A percepção de ter sido vítima de propaganda enganosa e o contato direto com a dura realidade provocada por governo que cuidou somente de ganhar a eleição a qualquer custo têm o aditivo da Operação Lava-Jato e as assustadoras revelações. São razões suficientes para levar o eleitorado a manifestar decepção. É o que revelou a última pesquisa do Datafolha: nada menos do que 65% dos entrevistados disseram considerar o governo Dilma ruim ou péssimo, e apenas 10%, bom ou ótimo.
É radical a mudança para quem venceu, ainda que por pequena diferença, as eleições há menos de oito meses. A aprovação da presidente simplesmente mergulhou em poço mais fundo do que a pior fase de Fernando Henrique Cardoso (56%), só se comparando à de Fernando Collor às vésperas do impeachment, em setembro de 1992.
A derrocada não apenas leva consigo o partido da presidente como desvela a fragilidade da agremiação política que, nos últimos anos, cresceu à sombra das benesses do poder e não teve o menor pudor em abandonar as bandeiras para montar alianças e conchavos com partidos que antes combatia e com lideranças que acusava de desonestas.
Agora que a maré virou, a presidente corre o risco de ser abandonada quando mais precisa de apoio dos companheiros de partido. Mesmo seu padrinho e inventor, o ex-presidente Lula, parece pouco disposto a correr o risco de afundar com Dilma. Exercitando a velha esperteza, Lula não tem poupado críticas a ela nem ao partido, como se nada tivesse a ver com o buraco em que o país foi lançado.
É o preço que o PT e a presidente pagam por ter desprezado especialistas experientes e de boa escola que não se cansaram de alertar para o erro da miragem desenvolvimentista que os áulicos do governo apregoavam. O que se espera é que Dilma pelo menos não fuja da responsabilidade de bancar o ajuste das contas públicas, para que não sobre para a sociedade conta maior do que a que já está pagando.