A corrupção não é o tipo de ferida que cicatriza. Ela é uma chaga permanentemente aberta. O quão profunda pode ser é perfeitamente mensurável. Basta olhar ao redor: miséria, fome, falta de saneamento básico, de educação e de saúde, além de violência urbana. Tudo isso é consequência direta dos anos e anos — na verdade, de séculos — de saques sistemáticos aos cofres públicos.
Nunca deixamos de produzir riqueza no Brasil, nunca tivemos catástrofes naturais que destruíssem cidades inteiras, sempre tivemos um povo trabalhador e terras férteis a perder de vista. Mas a pobreza de espírito, a falta de caráter e de noção de civilidade dos nossos políticos e de muitos empresários relegaram ao Brasil a pecha de país corrupto. Sim, somos um país corrupto.
As sucessivas investigações do Ministério Público e as operações da Polícia Federal estão aí para jogar na nossa cara essa realidade. Não há uma só semana em que não tenhamos notícia de uma deslavada roubalheira, de uma fraude, de uma mão molhada, de um nepotismo, e por aí vai. Terminamos a semana com a Operação Acrônimo, que executou mandados em vários estados, apreendeu aeronave, 12 carros de luxo, R$ 100 mil em espécie, US$ 5 mil, entre outros bens e documentos, numa investigação a respeito de associação criminosa em contratos que somam R$ 525 milhões com o governo federal.
É mais um caso degradante. Diante da contestação inequívoca e da profunda raiz do problema, é digna de um milhão de aplausos a iniciativa do Ministério Público Federal (MPF)de lançar uma campanha importantíssima e de grande alcance contra esse flagelo. Chamado “Corrupção, não!”, o movimento, que engloba outros países latino-americanos, pretende envolver toda a sociedade e desenvolver uma cultura de intolerância a todo e qualquer ato ilícito. Também pretende lutar pela transparência na gestão pública em todos os níveis.
Projetos como este podem ajudar o Brasil a colocar cada um em seu devido lugar: corrupto é bandido e quem se associa a ele, bandido é. Para eles, a força da lei e a punição exemplar. Certo de que a impunidade é o motor da roubalheira, o MPF quer não apenas agir para levar à Justiça os ladrões, mas também reforçar que a corrupção não pode ser vista como um costume, uma trivialidade, como se a bandidagem fosse natural e intrínseca ao ser humano. É preciso romper com esse paradigma e criar uma noção de valores civis. Mais transparência e mais envolvimento por parte dos cidadãos para fiscalizar os agentes públicos são fundamentais nessa caminhada. O Correio abraça essa ideia. E você?