EDITORIAL

Saúde pública precisa de novo paradigma

A saúde encabeça o ranking das preocupações dos brasileiros sem distinção de região ou nível de escolaridade. Levantamentos de diferentes institutos comprovam a unanimidade, seguida da segurança e da educação. O temor não é de hoje. Na campanha eleitoral do ano passado, os candidatos tinham em mão pesquisas que indicavam com clareza a crescente apreensão […]

A saúde encabeça o ranking das preocupações dos brasileiros sem distinção de região ou nível de escolaridade. Levantamentos de diferentes institutos comprovam a unanimidade, seguida da segurança e da educação. O temor não é de hoje.
Na campanha eleitoral do ano passado, os candidatos tinham em mão pesquisas que indicavam com clareza a crescente apreensão da sociedade com a degradação do setor. Prometeram melhorias e apresentaram planos capazes de tirar da UTI hospitais, ambulatórios e centros de saúde.
Série de reportagens publicadas pelo Correio Braziliense nos últimos dias confirma que a inquietação continua sem resposta. Os problemas existentes nas unidades da capital da República se repetem, em maior ou menor intensidade, nos estados de norte a sul do país.
Longas filas, instalações deterioradas, atendimento precário, falta de remédios e equipamentos, escassez de leitos e de UTIs, procrastinação de exames e cirurgias são dramas que se tornaram rotina no dia a dia de crianças e adultos. O resultado não poderia ser outro: agravam-se as enfermidades, incapacita-se para o trabalho, desperdiçam-se vidas.
Mesmo avanços exitosos nos quais o país sobressai correm risco de retrocesso. É o caso de transplantes. O Hospital de Base, que realizou 28 procedimentos do gênero em 2014, não conseguiu sair do zero este ano. Nada menos de 216 pessoas aguardam novo rim que as livrará da hemodiálise e lhes salvará a vida.
O quadro grave exige novo paradigma. Além da gestão eficiente, comandada por profissionais de ponta qualificados em administração, impõe-se levar em conta a mudança da realidade nacional. Em primeiro lugar, a expectativa de vida. Em 20 anos, ela passou de 70 para 74 anos.
Com o salto, mudou o perfil das enfermidades. Reduziram-se as doenças infectocontagiosas e cresceram as crônico-degenerativas, mais comuns em idosos. Em 1990, registraram-se 61.435 casos de sarampo. Em 2011, 43. No mesmo período, explodiram as ocorrências de diabetes e câncer.
Avesso a planejamentos, o Brasil prefere remediar a prevenir. A prática do correr atrás, porém, se esgotou, como demonstram as cenas revoltantes exibidas pela mídia. É mais barato cuidar da saúde que tratar a doença. Passo inadiável é investir em saneamento básico.
Relatório do Instituto Trata Brasil põe o Brasil em 112º lugar no ranking de 200 nações na questão do tratamento de água e esgoto. Mantido o percentual de investimentos no setor, que encolhe desde 2010, só em 2050 será possível universalizar a cobertura. O descaso cobra preço alto. O mais visível: a vida dos brasileiros.
 
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