O governo estará nesta semana nas mãos do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A pauta repleta da Casa, somada aos eventos marcados pelo peemedebista para perturbar ainda mais o Executivo, poderá transformar a vida do Planalto em um pesadelo. Duas medidas provisórias delicadas estarão na pauta de votações — a 663, que capitaliza o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com R$ 50 bilhões, e a 665, que altera as regras do pagamento do seguro-desemprego. Além disso, o plenário da Casa analisará a indicação de Luiz Edson Fachin para o Supremo Tribunal Federal, nome que enfrenta a resistência de Renan. Por fim, o peemedebista convidou os 27 governadores para uma audiência na quarta-feira para reclamar da excessiva concentração de receitas nas mãos da União.
“Não vamos conseguir analisar tudo isso. Mas é inegável que será uma semana na qual o governo federal poderá sofrer profundos revezes”, afirmou o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (DEM). Oposicionistas e governistas reconhecem, contudo, que o resultado final desta semana dependerá de um elemento ainda intangível: o humor de Renan. Na semana passada, ele foi paparicado duas vezes. Na segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff convidou-o para voar no avião presidencial para acompanhar o velório do senador Luís Henrique (PMDB-SC). Na quinta, Renan foi anfitrião de um almoço para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Eu não sei qual o resultado prático do almoço de Lula com Renan”, completou um oposicionista. A carona de Dilma, já está comprovado, não deu certo. Após o encontro com o ex-presidente, na residência oficial, Renan voltou a criticar a presidente. “Nossas divergências não são pessoais, são institucionais. A presidente Dilma Rousseff precisa apresentar um plano de governo e de desenvolvimento econômico para o país”, atacou o peemedebista. “Esse governo só pensa no ajuste. As medidas estarão votadas até 2 de junho (quando as MPs perdem validade se não forem aprovadas). O governo vai acabar depois disso? Ainda faltam três anos e meio”, disse Renan a Lula, durante almoço na residência oficial.
As batalhas começam amanhã, com a provável análise do nome de Fachin para o STF. O Correio apurou que, ao contrário do discurso isento que vem fazendo, o presidente do Senado tem recebido informações contra Fachin e mostrado os dados aos outros senadores, na expectativa de reverter votos favoráveis ao indicado pelo Palácio do Planalto. “Renan vai trabalhar para atrapalhar a nomeação de Fachin. Não é simplesmente pelo fato de ele ser indicado pelo PT. É uma disputa por espaço, Renan queria outro nome para a vaga, que acabou não prosperando”, diz um aliado. O preferido de Renan seria o atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Furtado, que tem elogiado, em público, o nome de Fachin.
Publicamente, Renan tem garantido que estará isento. “Meu papel será de isenção. No voto secreto, o que vale é a consciência dos senadores”, alegou o presidente do Senado. Mas petistas reclamaram da intransigência do peemedebista em deixar para esta semana a votação de Fachin em plenário. Os líderes governistas queriam que a indicação fosse apreciada na quarta-feira passada, um dia após a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Naquele dia, o plenário do Senado aprovou a indicação do ministro do Tribunal Superior do Trabalho Lelio Bentes para o Conselho Nacional de Justiça. “Tinha quórum em plenário. Renan não colocou a indicação de Fachin para votar por pura pirraça”, reclamou um aliado do Planalto.