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Eduardo Cunha alimenta a pretensão de disputar o Executivo federal

Citado na Operação Lava-Jato e envolvido em polêmicas ao longo da carreira, o evangélico Eduardo Cunha alimenta a pretensão de disputar o Executivo federal. No entanto, encontra resistência no próprio partido

Eduardo Cunha em seu gabinete, na Câmara: policial que trabalhava para doleiro preso na Lava-Jato disse, em depoimento, ter levado dinheiro à casa do peemedebista no Rio

Nas últimas semanas, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), empreendeu uma corrida aos estados, levando temas em debate na Casa para serem tratados pela sociedade. No projeto, chamado de Câmara Itinerante, o deputado circulou por capitais das cinco regiões do país e, embora tenha sido alvo de protesto em diversas ocasiões, a publicidade o ajudou a se tornar conhecido em outras praças além do Rio de Janeiro e de Brasília. Mas, na avaliação de cientistas políticos e até de parlamentares que conhecem bem o peemedebista, o roteiro tem uma espécie de “agenda secreta”, cujo destino final seria o desembarque no Planalto. O próprio Cunha já anunciou o sonho de disputar a Presidência da República, apesar de uma série de fatores que pesam contra ele, como a citação na Operação Lava-Jato (veja quadro). Além disso, o deputado não é unanimidade dentro do próprio partido e, por ter forte ligação com a igreja evangélica, encontra resistência de setores menos conservadores da sociedade.

“Ele quer criar condições para que, havendo uma janela de oportunidade, já tenha feito o dever de casa”, acredita o doutor em ciências políticas pela Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto. “A grande oportunidade que se coloca para ele é ocupar um espaço em que o país vive um vácuo de poder. As pessoas até toleram um mau governo, mas não toleram ausência de governo”, pontuou o especialista.
Barreto avalia ainda que Cunha impôs uma agenda forte diante de um “momento de fragilização do Planalto e de debilidade da autoridade presidencial”, que tem assegurado repercussão às decisões do peemedebista. “Essa caminhada pelos estados não só tem a questão de divulgação do nome dele, mas o fato de fazer alianças. Ele não vai divulgar esse objetivo agora, porque ainda não é o momento, mas, se a janela abrir lá na frente, vai ter feito o dever de casa.”
Cunha anunciou que apoiará o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), em uma possível candidatura do partido à Presidência em 2018. Porém, nunca descartou o interesse em disputar a principal cadeira do país. Questionado se desejava a Presidência, na primeira visita itinerante, respondeu com uma passagem bíblica: “Para cada dia, sua agonia. Eu vivo uma agonia de cada vez”, esquivou-se.
À época, Cunha afirmou que “as coisas ocorreram” na vida dele. “Eu sou presidente da Câmara hoje, como já fui líder do PMDB. As coisas que ocorreram, para mim, foram acontecendo, com os espaços se abrindo. Eu não faço política hoje pensando no cargo que vou disputar amanhã”, alegou em 20 de março, em Curitiba, na primeira edição do Câmara Itinerante.
Pauta conservadora
Dentro do PMDB, aliados enxergam potencial na tentativa de o peemedebista alçar voos mais altos, porém enumeram obstáculos. “Ao deixar a presidência da Câmara, daqui a dois anos, Cunha perderá sua principal vitrine e poderá cair no esquecimento”, avaliou um colega de legenda. Outro problema é a rejeição de setores da sociedade a propostas conservadoras apoiadas pelo peemedebista, como a proibição de casais homossexuais adotarem crianças e o “dia do orgulho hétero”.
Se quiser continuar à frente da Casa, terá que ressuscitar uma polêmica proposta de emenda à Constituição que permite alterar as regras para a reeleição à Mesa Diretora no mesmo mandato. “Alguém terá de apresentar essa proposta, que foi derrotada quando o então presidente, João Paulo Cunha (PT-SP), defendeu a reeleição na Casa. Mas nem Cunha nem aliados acham que é o momento para isso”, analisou outro deputado.
Caso consiga aprovar a reeleição, Cunha terá sobrevida até as eleições de 2018. “Outra saída é mirar na presidência do PMDB, que está em destaque hoje”, analisou outro parlamentar. O cientista político Leonardo Barreto avalia, porém, que um fortalecimento do governo federal diminuiria as possibilidades de Cunha ser candidato. “Em uma chapa mais forte, ele perderia espaço. Ele tem os méritos dele, mas a visibilidade é muito mais produto das circunstâncias. Ele conseguiu pular no cavalo que passou embaixo da janela, mas ainda não tem luz própria e depende muito da presidência da Câmara”, disse o cientista político.
Vaia itinerante
Desde que começou a percorrer as unidades da Federação, Cunha esteve em Curitiba, em 20 de março; em São Paulo, em 27 de março; em João Pessoa e em Natal, ambos em 10 de abril; e em Campo Grande e em Cuiabá, também no mesmo dia, em 24 de abril. Em quase todas as localidades, Cunha foi vaiado. Rivais tripudiaram nos bastidores e disseram que a iniciativa do peemedebista deveria se chamar “Vaia Itinerante”. “Isso não atrapalha. Daqui a pouco, as vaias — que vêm de pessoas que discordam da opinião dele em relação aos homossexuais — vão deixar de ser novidade”, avaliou outro deputado.
As controvérsias de Cunha
Confira polêmicas que envolvem o presidente da Câmara
Lava-Jato
» O nome de Cunha foi citado em depoimento do policial federal afastado Jayme “Careca” de Oliveira Filho, que fazia entrega de dinheiro para o doleiro Alberto Youssef. Segundo Careca, em uma ocasião, ele levou dinheiro à casa do peemedebista no Rio.
Documentação falsa
» Eduardo Cunha é investigado no STF pelo suposto uso de documentos falsos
apresentados ao Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.
Furnas
» Há quatro anos, foi acusado de ter relações próximas ao grupo Gallway, que seria originário
do paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Em 2007, a estatal Furnas teria
superfaturado a compra de lotes de ação em negociação com a Gallway.
Fraude tributária
» Inquérito aberto com base em investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro apurava
se o deputado teria se valido do cargo para beneficiar empresários do grupo que controla
a Refinaria de Manguinhos, envolvidos em suposto esquema de fraudes tributárias.
O processo foi arquivado no STF.
Telerj
» Quando Cunha presidia a Telerj, no governo Collor, o peemedebista foi acusado de participar
dos esquemas de corrupção de PC Farias. Em 1989, envolveu-se em um escândalo
por conta de superfaturamento, quando assinou aditivo de US$ 92 milhões a um contrato
da Telerj com a NEC, fornecedora de equipamentos telefônicos.
Cehab
» Presidente da Companhia Estadual de Habitação (Cehab) no governo de Anthony Garotinho (PR)
no Rio de Janeiro, Cunha foi acusado de desviar verbas e acabou exonerado do posto.
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