As investigações envolvendo ações de grupos de extermínio em Goiás serão acompanhadas pelo gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A decisão, divulgada na semana passada, ganhou pouco espaço na imprensa.
Também não motivou discursos inflamados dos parlamentares da bancada da bala, aquela que diz defender os cidadãos honestos de todo tipo de bandido. Mas ela diz muito a respeito da sociedade em que vivemos e àqueles que moram no Distrito Federal, no Entorno e em Goiás.
Os casos de tortura, assassinato e desaparecimento forçado, com vítimas, na maioria dos casos de pessoas em situação de rua ou usuários de drogas, foram praticados com a participação de agentes públicos de 2005 a 2012. Como se tivessem licença para matar, decidir quem merece viver e morrer.
Janot pediu a apuração de oito casos específicos pela Justiça Federal por apresentarem características de violência policial institucional e demora excessiva na investigação ou no andamento dos processos. Com a decisão, os processos passam a ser conduzidos pela Justiça Federal em Goiás, acompanhados pelos procuradores do Grupo de Controle Externo Policial da Procuradoria da República.
A ação criminosa foi denunciada em série de reportagens do Correio Braziliense publicada desde 2009. O jornal elencou mais de 30 casos suspeitos. Entre as vítimas da quadrilha formada por PMs de diversas patentes, estão crianças, adolescentes e mulheres sem envolvimento com a prática de crimes.
Mas, desde 2009, nenhum dos defensores da pena de morte no Brasil, bradando a famigerada frase do “bandido bom é bandido morto”, veio a público se pronunciar sobre os crimes cometidos pelos policiais. Ao contrário.
Alguns dos políticos que pregam a pena capital a criminosos — militares das Forças Armadas, policiais civil e militares, em sua maioria —, acobertaram os PMs, com cargos administrativos na PM de Goiás ou em gabinetes, como costumam fazer com policiais acusados de todo tipo de crime. Para essa gente, bandido bom é bandido morto, desde que não seja bandido amigo.