O Brasil dará inicio a uma recuperação gradual da economia ainda em 2015, o que levará a inflação dos atuais 8% para 4,5% no final de 2016. Foi o que disse nesta terça-feira (26) o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em audiência pública na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO) sobre o cumprimento da política monetária no segundo semestre de 2014. A audiência pública foi realizada conjuntamente com as comissões de Assuntos Econômicos (CAE), de Meio Ambiente, Fiscalização e Controle (CMA), do Senado, e de Finanças e Tributação; de Fiscalização Financeira e Controle; de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, da Câmara dos Deputados.
— Os ajustes de preço pressionam a inflação, no curto prazo. Desde abril, ela recua, mas para atingir o objetivo de 4,5%, no final de 2016, é imprescindível que a política monetária mantenha-se vigilante, em sintonia com o conjunto da política macroeconômica — afirmou.
Tombini disse que a economia brasileira passa por uma serie de ajustes “importantes e necessários”, e que 2015 será um ano de transição e de construção de bases mais sólidas para a retomada do crescimento. A retração atual implica nível econômico mais reduzido, disse o presidente do Banco Central.
No setor externo, Tombini afirmou que o Brasil apresenta balanço de pagamento equilibrado, com a economia atraindo capital estrangeiro para financiar o resultado do déficit das transações correntes. O comportamento do balanço de pagamento “é normal neste e nos anos à frente”, afirmou.
Tombini observou que o governo vem propondo medidas fiscais, como a eliminação de subsídios e o realinhamento de tarifas públicas, para assegurar trajetória favorável à divida publica e o aperfeiçoamento de incentivos econômicos com regras mais sustentáveis para acesso a benefícios sociais.
— As medidas contribuirão para que a transição seja mais rápida e os benefícios comecem a aparecer. O fortalecimento da política fiscal, rigorosamente conduzido, facilita ao longo do tempo a convergência da inflação para o centro da meta — afirmou.
Tombini sustentou que a alta dos juros é um instrumento da política monetária que “infelizmente” tem que ser aplicado para redução da inflação. Ele afirmou que o Brasil cresceu 20%, da crise global de 2008 aos dias atuais, com a adoção de políticas fiscais de injeção de estímulos
— O que estamos fazendo agora é restabelecer fluxos fiscais, ajustar algumas perdas de receitas decorrentes de ajuste da política fiscal do passado. Esse é um conjunto todo para restabelecer as bases da política fiscal e preparar o Brasil ali na frente para um novo ciclo de crescimento econômico sustentável. O governo é afetado em suas receitas, tem que fazer ajuste pelo lado das despesas no momento em que a economia esta vigorosa — afirmou.
Críticas ao otimismo
O otimismo de Tombini em relação ao futuro da economia foi criticado pelos deputados, que apontaram o aumento de impostos, do desemprego, da inflação, da carga tributária, do endividamento das famílias e dos juros no financiamento imobiliário. Tombini evitou responder a perguntas sobre as manobras fiscais do governo, e a tecer considerações sobre o repasse de recursos de bancos públicos ao Tesouro Nacional para pagamentos de benefícios fiscais.
Tombini adiantou, porém, que essas operações não seriam caracterizadas como empréstimos, mas como contratos de prestação de serviços, no entender de parecer emitido pela Controladoria-Geral da União. Ele também garantiu que as instituições financeiras brasileiras seguem os princípios da política de prevenção de lavagem de dinheiro. Ao ser questionado sobre quais seriam as suas três maiores preocupações atuais, em ordem de importância, Tombini citou “inflação, inflação e estabilidade do sistema financeiro’.
Tombini disse que o Banco Central não atua como órgão de controle fiscal e da contabilidade da União, mas observou que metodologia adotada pela instituição acompanha as transações financeiras do governo, tendo detectado os repasses do Tesouro à Caixa Econômica para pagamento de benefícios sociais.
Tombini avaliou que a economia global continua em recuperação, impulsionada pelo crescimento dos Estados Unidos, o que tem contribuído para o fortalecimento do dólar americano perante varias moedas. O nível de recuperação econômica da Europa, no entanto, continua fraco e desigual, mas com tendência de melhoras futuras, afirmou.
— A economia global está em recuperação embora desigual, e essa desigualdade tem se refletido nas respectivas políticas monetárias. O processo de normalização das condições monetárias dos Estados Unidos é complexo, e o Brasil tem que estar com a economia em ordem e estabilizada [para quando esse processo for consolidado], com fundamento macroeconômicos sólidos— afirmou.
Na avaliação de Tombini, os países emergentes têm apresentado perda de dinamismo devido a alguns fatores, entre eles a normalização das condições monetárias nos Estados Unidos e a queda no preço das commodities agrícolas, metálicas e do petróleo das economias emergentes.