Polícia investiga o que está por trás das ampolas com sangue encontradas na Praia do Araçagi
O achado da sacola com as ampolas de sangue tornou-se conhecido na Grande Ilha, após vídeo feito por uma câmera de celular compartilhado nas redes sociais.
A Polícia Civil do Maranhão abriu um inquérito para identificar quem deixou a sacola de plástico branco transparente com ampolas com sangue na Praia do Araçagi, em São José de Ribamar, encontrada no último domingo (7). Já a Prefeitura de São José de Ribamar disse que protocolou na Delegacia de Polícia da cidade uma “notícia-crime”, pedindo que o descarte irregular do material clínico seja investigado, também, como uma “fake news”, de cunho político. Os frascos com sangue são examinados pelo Instituto Laboratorial de Análises Forenses (Ilaf); o resultado deve sair ainda nesta semana.
O achado da sacola com as ampolas de sangue tornou-se conhecido na Grande Ilha, após vídeo feito por uma câmera de celular compartilhado nas redes sociais. Na gravação, é uma voz masculina ao fundo que diz “boa tarde, meus amigos do partido”, e continua: “Vamos investigar isso aí, ‘doutor’ Edson Júnior (pré-candidato a prefeito de São José de Ribamar)”. A mesma voz masculina, ainda na gravação do achado dos frascos com sangue, supõe relação do conteúdo encontrado na praia com possíveis materiais para testes de coronavírus.
O delegado auxiliar na investigação, Henrique Mesquita, informou que as ampolas com sangue foram encontradas por uma criança na beira da praia. “Nessa segunda-feira (8), a Delegacia de São José de Ribamar ouviu o depoimento da pessoa que fala na filmagem. Uma criança foi quem encontrou o material, e, surpresa com o que viu, chamou a mãe dela para também ver a sacola com as ampolas com sangue”, disse Mesquita.
Notícia-Crime
Também na segunda-feira (8), assessores jurídicos da Prefeitura de São José de Ribamar estiveram na delegacia, quando expuseram o possível fato criminoso de que as frascos com sangue tenham sido “plantados” na praia do Araçagi. A Prefeitura Municipal notificou a Polícia Civil para dar início à investigação de fake-news. A essa comunicação dá-se o nome de “notícia-crime”.
No documento da Prefeitura, é relatado que o prefeito Eudes Sampaio recebeu, na noite de domingo (07), no WhatsApp particular do gestor público, mensagens de áudio e texto, de um contato identificado como “Danila de Tal”, supondo que as ampolas com sangue na praia seria parte de uma campanha difamatória contra o atual titular do poder executivo de São José de Ribamar, e para beneficiar supostos adversários políticos.
Entretanto, na própria notícia-crime, a Prefeitura informou que as mensagens de áudio e texto enviados pela “Danila de Tal”, ao Eudes Sampaio, foram apagados, isto, supostamente antes que a polícia tivesse acesso ao conteúdo.
Perícia
A Polícia Forense do Maranhão examina as ampolas com sangue encontradas na praia do Araçagi. De acordo com perito geral da Perícia Oficial do Estado, o perito criminal Miguel Alves da Silva Neto, o material foi levado para o Instituto Laboratorial de Análises Forenses (Ilaf), responsável por identificar se aquilo contido nos frascos de laboratórios era sangue humano ou não.
“O laudo do Ilaf será concluído ainda nesta semana. E, posteriormente, será devolvido, imediatamente, à Delegacia de São José de Ribamar, pois foi esta a autoridade que solicitou a identificação do sangue. Posteriormente, a delegacia deve levá-lo ao Laboratório Central de Saúde Pública do Maranhão (Lacen/MA), pois é o Lacen quem dirá se o sangue está contaminado ou não, inclusive por Covid-19”, informou Miguel Alves da Silva Neto.
Risco ambiental do lixo hospitalar
De acordo com um estudo feito pelo Hospital Albert Einstein, o maior risco ambiental do lixo hospitalar é representado pelo chamado lixo infectante. Caracteriza-se pela presença de agentes biológicos como sangue e derivados, secreções e excreções humanas, tecidos, partes de órgãos, peças anatômicas; além de resíduos de laboratórios de análises e de microbiologia, de áreas de isolamento, de terapias intensivas, de unidades de internação, assim como materiais perfurocortantes.
Uma vez que esses materiais entram em contato com o solo ou a água, podem causar contaminações no ambiente e danos à vegetação. Também podem haver sérios problemas caso esses materiais contaminados entrem em contato com rios, lagos ou até mesmo com lençóis freáticos, pois dessa forma a contaminação irá se espalhar com maior facilidade, prejudicando qualquer ser vivo que entrar em contato com essa água.
A infectologista Maria dos Remédios Freitas Carvalho Branco, que tem residência médica em infectologia no Hospital Emílio Ribas em São Paulo, mestrado em Saúde e Ambiente pela Universidade Federal do Maranhão (Ufma), e doutorado em Medicina Tropical e Saúde Internacional no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo da Universidade de São Paulo (USP), informou que a cada hora que passa, o risco de contaminação diminui.
“Vários microrganismos são transmitidos pelo sangue como HIV, vírus da hepatite B e C, entre outros. Porém, esses vírus vão morrendo com o passar das horas e perdendo a capacidade de infectar as pessoas. Para alguém se contaminar também é preciso que exista contato com o sangue em mucosa, ou que o sangue seja inoculado na pele com um objeto perfurocortante, como uma agulha contaminada com sangue”, informou Maria dos Remédios.