Igreja Católica

Entendendo a Quaresma

Para os católicos praticantes em todo o mundo é iniciado todos os anos com uma missa especial na quarta-feira de cinzas

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O período de observação da Quaresma, 40 dias que antecedem o domingo de Páscoa, para os católicos praticantes em todo o mundo é iniciado todos os anos com uma missa especial na quarta-feira de cinzas. Este ano, o chefe da Igreja Católica Romana, o papa Francisco, falou em sua celebração na Basílica de Santa Jacobina sobre a conversão, usando como exemplo o profeta Joel: “Voltai-vos para mim de todo o coração, e convertei- vos ao Senhor”.

Conversão e meditação também são observadas nesses 40 dias por fiéis católicos de São Luís, jovens que encontraram na Quaresma, em seus rituais como jejum e rezas, uma forma de se aproximar de Deus. São pessoas como o historiador de 29 anos, Elias Ribeiro, que mesmo tendo nascido em família católica, sendo sua mãe inclusive catequista da Pastoral Familiar, sentiu o que chamou de “despertar da fé” há 10 anos, quando entrou para a Fraternidade Maria Mãe de Deus. Lá, segundo ele, recebeu a orientação de “viver a Quaresma de forma diferente e se sensibilizar com a dor que Jesus passou nesse período que antecedeu a sua morte”.

Elias, que é casado e observa o período junto com a esposa, procura respeitar o jejum “todas as sextas-feiras”, a redução do consumo de carne vermelha e praticar um cronograma de orações. “No cronograma há orações até às 3 horas da manhã, em alguns anos. Também rezamos o Terço da Misericórdia pelas pessoas que sofrem no mundo e pelas almas no purgatório”, contou. Para o historiador, o momento mais interessante são “as penitências internas e externas” que realizam na Fraternidade.

“As penitências internas são aquelas que fazem com que nós melhoremos como pessoas; elas vão atingir nosso orgulho, vaidade, inveja, preguiça, impaciência. Para isso são direcionadas orações e atitudes que venham a fazer com que confrontemos esses defeitos”, explicou Ribeiro.

A administradora Patrícia Araújo, 29 anos, começou a prática da Quaresma há seis anos. Ela conta que sempre foi católica, “mas não era praticante”. Assim como Elias, foi a proximidade com um grupo de pessoas, da Fraternidade Maria Mãe de Misericórdia. Patrícia rejeita o termo “ritual” para as práticas durante a Quaresma, preferindo “abstinência” e “sacrifício espiritual”. Ela conta que faz “abstinência de carne vermelha, guloseimas, escutar música”, além de desativar redes sociais e demais mídias, se permitindo apenas acompanhar o noticiário na TV, e jejua toda sexta-feira. “Faço essas abstinências para me voltar mais às orações do Terço do dia ou o Rosário, a leitura da Palavra de Deus e práticas da caridade”, contou.

Questionada sobre como se sente no período, Araújo contou que é um desprendimento do mundo e proximidade com o espírito. “Sinto-me menos apegada às coisas materiais, mais dispostas a ajudar as pessoas”, disse. Para ela, a Quaresma é também uma grande oportunidade de “conhecer e estudar a fé católica”. Ela contou aqui, que sente uma maior proximidade dos jovens com a Igreja, sendo ela mesma uma jovem, assim Elias. “O mundo está muito imediatista, e na maioria das vezes os jovens não recebem direção espiritual, mas acredito que mais jovens tem se aproximado das questões da fé”, comentou. Durante a Páscoa a Igreja recomenda que os fiéis se confessem e comunguem, participando dos ritos que são pouco praticados no resto do ano. É um convite, não uma imposição, mas um convite importante, dizem os fiéis.

A Irmã Maria Rita, há três anos integrante da Fraternidade Missionária Maria Mãe de Deus, que conta hoje com 48 membros, contou sobre como o grupo se reúne para viver a Quaresma. Na Fraternidade, segundo ela, há tanto religiosos como leigos associados, e os dois grupos vivem o período de comunhão e reflexão. “Entre os religiosos há toda uma ambientação que fazemos em nossas casas, em que os altares são voltados a temática da Quaresma com tons mais escuros, que simbolizam esse período de recolhimento no qual somos chamados a vivenciar. Desta forma predomina o roxo, cor litúrgica do tempo, além do azul escuro, que lembra Nossa Senhora das Dores, como uma Fraternidade mariana temos a presença de Nossa Senhora de forma eminente. Da mesma forma os leigos são convidados a montarem seus altares em suas casas, numa dinâmica semelhante”, explicou a Irmã.

Segundo Maria Rita, a vivência da Quaresma se “aprofunda” com a chegada da Semana Santa. É quando a Fraternidade entra em retiro, com um itinerário semelhante ao dos 40 dias anteriores, “mas de forma mais intensa, evidenciando a Paixão de Cristo, sua morte e ressurreição”.

Entendendo a Quaresma

Os quarenta dias de penitências, restrições e comunhão começam a ser contados na quarta-feira de cinzas, e terminam no Domingo de Ramos, uma semana antes da Páscoa, a Semana Santa.

Durante a Quaresma, a Igreja muda a cor da liturgia, vestindo os sacerdotes em cor roxa, que simboliza tristeza e dor.

Durante a abertura das celebrações, com a missa na quarta-feira, os fiéis são marcados na testa com cinzas, uma maneira de lembrar o fim da mortalidade. A marca deve permanecer na testa até o pôr do sol.

No Antigo e Novo Testamentos da Bíblia Cristã, incluindo os livros do Pentateuco, comuns entre cristãos e judeus, o número 40 é uma simbologia recorrente. Foram 40 anos para o povo de Deus chegar à Terra Prometida, 40 dias para Noé e os seus saírem da arca após o fim do Dilúvio. 40 dias de Moisés no Monte Sinai (antes de receber os Mandamentos), e 40 dias de meditação de Jesus no deserto, período que antecedeu à sua crucificação.

A observação da Quaresma como encontrada hoje foi institucionalizada pela Igreja Católica no ano de 350, durante o pontificado de Júlio I. Antes, 200 anos depois do nascimento de Jesus, os cristãos passaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum.

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