EDITORIAL

Não basta boa intenção

Conflitos entre gangues, tráfico e uso de drogas, brigas entre jovens, bullying, agressões a professores e diferentes formas de violência comprometem o ambiente escolar em Brasília e na maioria das unidades da Federação. O Brasil está no topo do ranking mundial em relação à insegurança nos colégios, segundo pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), divulgada em agosto do […]

Conflitos entre gangues, tráfico e uso de drogas, brigas entre jovens, bullying, agressões a professores e diferentes formas de violência comprometem o ambiente escolar em Brasília e na maioria das unidades da Federação. O Brasil está no topo do ranking mundial em relação à insegurança nos colégios, segundo pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), divulgada em agosto do ano passado. A sondagem envolveu 100 mil docentes e diretores de unidades de ensino de 34 países.
Na segunda-feira, adolescente de 17 anos foi morto, a golpes de canivete, por um colega de 16, no Centro de Ensino Médio 2, em Ceilândia. O episódio pautou a mídia nacional e recolocou na ordem do dia o debate sobre a violência no ambiente escolar. Depoimentos preliminares de alunos sugerem que a tragédia foi motivada por bullying. O agressor respondeu, de forma desmedida, à provocação da vítima.
O crime reforça o quanto o ambiente escolar se tornou inseguro. Jovens vão às aulas armados —com canivetes, facas, revólveres —, o que não condiz com a finalidade do espaço de aprendizagem, criado para elevar o nível de conhecimento formal e sociabilidade entre pessoas. O fato não pode ser tratado como ato isolado — seria mascarar e negligenciar a realidade. A insegurança não é restrita à escola de Ceilândia. É fenômeno nacional, reflexo do que ocorre fora da escola.
A solução não passa pela colocação de policiais armados dentro dos colégios, como se os alunos fossem infratores ou jovens prontos a delinquir. As estratégias de segurança devem visar aos espaços externos, evitando que a escola seja contaminada pela violência existente ao redor. Ao poder público compete promover ações que tornem o ambiente de estudo atraente, com instalações físicas adequadas e limpas — bibliotecas, quadras de esporte, espaços para expressões de arte e cultura — e dotado de equipamentos que permitam aos docentes oferecer aulas com técnicas inovadoras que seduzam o estudante.
A unidade educacional deve ser aberta à família e torná-la aliada de primeira hora para construir o processo de formação dos jovens. Os pais não podem se furtar a participar da vida escolar dos filhos. “Educação vem de berço”, ensina velho ditado popular. Portanto, cabe ao docente complementar, mas bons modos são responsabilidade de pai e mãe. Os professores devem ser motivados ao exercício profissional, conscientes do importante papel que têm na formação do cidadão. Partilhar o conhecimento não pode ser gesto mecânico, mas instrumento que propicie a consolidação de cultura de paz, com impacto em todos os ambientes — dentro e fora do local de trabalho — e capaz de promover mudanças em toda a sociedade. Não faltam instrumentos e mecanismos para que a educação seja prioridade no país. Inexiste, sim, compromisso efetivo do poder público para trazer ao mundo real o que nunca não passa de boas intenções.
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