Lula afirma que irá aplicar reciprocidade em caso de taxação dos EUA em produtos
Para o presidente brasileiro, o país norte-americano está se isolando do mundo, mas também necessita de boas relações com outras nações.
Nesta quarta-feira (5), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que vai aplicar o princípio da reciprocidade caso haja uma eventual taxação do governo dos Estados Unidos a produtos brasileiros. “É lógico. O mínimo de decência que merece um governo é utilizar a lei da reciprocidade”, afirmou em entrevista a rádios de Minas Gerais.
O republicano Donald Trump vem indicando que irá aplicar tarifas abrangentes a inúmeros países com superávit comercial com os Estados Unidos (vendem mais do que compram dos norte-americanos), como a China e até nações mais próximas como México e Canadá. Já o Brasil encontra-se em uma situação diferente, tem déficit comercial, ou seja, comprou mais do que vendeu ao país, e até o momento não foi taxado diretamente, no entanto deve receber consequências da guerra de tarifas.
Lula recordou que a Organização Mundial do Comércio (OMC) possibilita a taxação de até 35% para qualquer produto importado. “Para nós, o que seria importante seria o Estados Unidos baixarem a taxa, e nós baixarmos a taxação. Mas se ele, ou qualquer país, aumentar a taxa de imposto para o Brasil, nós iremos utilizar a reciprocidade, nós iremos taxar eles também”, afirmou.
“Isso é simples, é muito democrático. Não há por que ficar tentando colocar uma questão ideológica nisso. O que eu acho é que o mundo está precisando de paz, de serenidade”, acrescentou Lula, destacando que “a diplomacia volte a funcionar” e que a harmonia entre os países será restabelecida.
Para o presidente brasileiro, o país norte-americano está se isolando do mundo, mas também necessita de boas relações com outras nações. “Nenhum país, por mais importante que seja, pode brigar com todo mundo o todo tempo”, afirmou, destacando que o atual governo abriu 303 novos mercados para produtos brasileiros.
Deportações
Lula declarou ainda que o governo irá recepcionar os brasileiros que forem deportados dos Estados Unidos. É previsto que na próxima sexta-feira (7), um novo voo com brasileiros chegue ao país, vindo do estado americano da Luisiana para Fortaleza, no Ceará.
“Nós estamos conversando, com o Itamaraty [Ministério das Relações Exteriores] e a Polícia Federal, para que a gente comece a ter todos esses dados lá em Louisiana, onde eles embarcam, para que a gente possa se preparar para recebê-los aqui e fazer com que eles cheguem no seu destino de origem”, afirmou o presidente.
“Nós estamos muito atentos, a Polícia Federal, Ministério da Justiça, Ministério dos Direitos Humanos e o Itamaraty, para que a gente dê cidadania a esses companheiros quando chegam ao Brasil, inclusive com assistência médica, para saber se as pessoas estão com algum problema de saúde. E nós vamos tratar como se deve tratar um ser humano, com muito carinho e muito respeito”, disse lula.
Ainda de acordo com o petista, o governo brasileiro lida com a situação como repatriação e não deportação. “São companheiros e companheiras brasileiras que foram para lá à procura de um mundo melhor, à procura de sorte, à procura de emprego melhor e que não conseguiram se legalizar, não foram aceitos pelo governo americano”, expressou.
No último dia 24 de janeiro, um avião fretado pelo governo dos Estados Unidos pousou em Manaus com 88 cidadãos deportados. Os brasileiros estavam algemados e alegaram maus-tratos durante o voo. Após os relatos, a Polícia federal fez a intervenção, exigiu a retirada das algemas, e foi determinado que a Força Aérea Brasileira transportasse os viajantes até o destino final do voo, que era o Aeroporto Internacional de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte.
O Brasil concordou em realizar voos de repatriação, a partir de 2018, para abreviar o tempo de permanência de seus cidadãos em centros de detenção norte-americanos, por imigração irregular e já sem possibilidade de recurso. Após tomar posse no início deste ano, Donald Trump declarou que irá intensificar as deportações de cidadãos estrangeiros que permaneçam irregulares nos Estados Unidos.
“Nós tivemos contato com o caso mais grave, que foi o avião que teve problema, na sua pressurização. Esse avião parou em Manaus, e aí as pessoas estavam acorrentadas para descer do avião. E eles queriam levar as pessoas acorrentadas para Minas Gerais”, afirmou Lula.
“Enquanto eles estão dentro do avião no território americano, eles são cidadãos que pertencem à política e à lei dos Estados Unidos, mas, quando eles chegam no território nacional, que o avião abre a porta, eles estão submetidos à legislação brasileira, e disso nós vamos cuidar”, disse o presidente.