Escolas no Brasil: Registros de cyberbullying e bullying aumentam cerca de 12%
Lei aprovada proíbe uso de celulares em sala de aula com o objetivo de resguardar a saúde mental e física das crianças e adolescentes.
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No início deste ano, foi sancionada a lei que regulamenta o uso de aparelhos celulares nas escolas do Brasil, permitindo seu uso apenas para práticas pedagógicas. O objetivo principal é proteger a saúde mental, física e emocional de crianças, jovens e adolescentes, além de incentivar um ambiente escolar mais saudável e equilibrado. A restrição pode também ser útil no combate ao cyberbullying, que está intimamente relacionado a ataques feitos via internet.
Em 2024, os cartórios de notas do país documentaram um aumento de cerca de 12% na média anual de casos de bullying e cyberbullying. Essa elevação foi registrada por meio de solicitações de atas notariais, que comprovam os ataques. Os casos variam de xingamentos e ofensas a agressões físicas mais graves, possivelmente evoluindo para ataques a escolas, homicídios e outros crimes.
“Na escola, muitos adolescentes criam perfis no Instagram, chamados de ‘explana’, para falar mal de alguém sem que a pessoa saiba quem é o autor. É uma forma de contar segredos e expor a pessoa sem ser identificado. Tudo acaba sendo exposto no ‘explana’”, relatou um jovem entrevistado pelo ChildFund Brasil durante a realização da pesquisa intitulada Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet. Mais de oito mil estudantes das redes pública e privada foram entrevistados e alguns relatos, coletados.
Outro adolescente participante da pesquisa acrescentou: “Isso pode gerar brigas entre escolas, como aconteceu aqui no bairro. No ano passado, houve uma briga porque uma pessoa descobriu que a outra falava mal dela no ‘explana’. Eles se encontraram em um local e formaram uma gangue para agredir todos os envolvidos”.
Mudança de comportamento em vítimas
Crianças, jovens e adolescentes que sofrem nestes casos, provavelmente, apresentam sinais. Se o problema acontecer no ambiente escolar, a vítima tende a se recusar a ir para a escola; mas, os sinais de que algo está errado podem ir além disso. Os professores conseguem identificar com maior facilidade, pois passam mais tempo juntos. Quando ocorre no ambiente digital, os pais devem estar atentos à mudança de comportamento, ansiedade, crises de pânico, tristeza, irritabilidade, perda de apetite e até o afastamento social.
No dia 11 de fevereiro, é celebrado o Dia da Internet Segura, uma campanha global que tem como objetivo chamar a atenção para o uso seguro e responsável da tecnologia. A data é também uma oportunidade de recordar a importância de cuidar dos jovens enquanto acessam a internet. “”Bullying é o ato de ameaçar, agredir e intimidar uma pessoa sistematicamente, por conta da sua condição social, aparência física, entre outras características. O cyberbullying, que é quando essa prática acontece na internet, potencializa esses danos naquela pessoa que sofre bullying, especialmente, nas crianças e nos adolescentes, que ainda não desenvolveram totalmente o seu arcabouço psíquico para enfrentar tais questões. O cyberbullying é praticado, geralmente, por pessoas conhecidas, mas, infelizmente, é a ponta de algo muito maior. Os riscos de os adolescentes utilizarem a internet sem monitoramento de pessoas adultas são bem maiores, com a possibilidade de serem vítimas de abusos e violência sexual on-line”, conta Mauricio Cunha, diretor de país do ChildFund Brasil, organização com mais de 58 anos de atuação no Brasil em defesa dos direitos da criança e do adolescente.
Maior proteção
Entender os horários de maior insegurança na rede social, compreender quais aplicativos fornecem menos mecanismos de proteção e monitorar os adolescentes enquanto utilizam a internet são formas de protegê-los. Nos jogos on-line, o cyberbullying é um comportamento bastante comum, principalmente, por ser feito no tom de brincadeira e em um local de distração. No entanto, além disso, os perigos de abuso e violência sexual também existem.
O estudo realizado pelo ChildFund Brasil revelou que 5,6 milhões de adolescentes podem ter sofrido violência sexual on-line, o que equivale a população de países como Congo, Finlândia e Noruega. Outro dado revelado pelo estudo é: adolescentes que mantêm um bom diálogo com a família e cujo acesso à internet é supervisionado pelos pais, têm 40% menos chance de se tornarem vítimas de violência sexual. “As informações destacadas pela pesquisa são muito importantes, pois servirão como base para que nós, poder público e organizações da sociedade civil consigamos mobilizar e criar políticas públicas, a fim de criar mecanismos de proteção para crianças e adolescentes no ambiente virtual”, ressalta Mauricio Cunha.
Outra entrevista realizada durante a pesquisa chamou a atenção. “Minha prima, que tem sete anos, joga Free Fire, um jogo onde é permitido conversar on-line. Durante uma partida, ela estava conversando com um rapaz de quinze anos. Eu consegui o número do telefone dele, para que ela soubesse quem era, já que não o conhecia. Mas, na verdade, esse rapaz era uma pessoa mais velha, para quem a minha prima informou o endereço da casa. Ela e toda a família tiveram que mudar [do bairro] porque corriam o risco de ele ir até lá e fazer alguma coisa errada com a minha prima”, recorda a adolescente.
Para que casos como esse não continuem acontecendo, é preciso que os responsáveis estejam de olho nos sites e jogos acessados, além de ativar o controle parental e verificar sempre com quem os jovens estão conversando e quais conteúdos estão sendo consumidos.