CARNAVAL DE SÃO LUÍS

Bloco Afro Akomabu: ancestralidade e tradição

Em entrevista, o cantor e compositor Paulinho Akomabu relatou a origem do grupo e relevância para o público do grupo e para a comunidade negra.

Reprodução

Carnaval é uma das maiores festas do Brasil, e no Maranhão, a folia reúne desfiles, trios elétricos e blocos de rua. Os eventos de pré-Carnaval já começaram e seguem até o fim da festa. Mais do que diversão, o Carnaval maranhense valoriza a cultura e a identidade. Os blocos afros, como o Bloco Afro Akomabu, levam a força da cultura negra para as ruas de São Luís com tambores e tradição. Fundado como o primeiro bloco afro do estado, o Akomabu vai além da folia, promovendo consciência e resistência o ano todo.

Em entrevista, o cantor e compositor Paulinho Akomabu relatou com empolgação a origem do grupo.

“- O Afro Akomabu surge em 1984. E ele surge com a ideia de continuar congregando as pessoas que faziam movimento negro na época. O Centro de Cultura Negra surge em 79. As primeiras reuniões. E quando chegava esse período de carnaval, principalmente, as pessoas se dispersavam e havia uma dificuldade muito grande de se reorganizar, e por quê? Porque cada um ia pra sua agremiação, para sua escola, pro seu bloco, pras suas brincadeiras, né? E aí então, a partir daí surge a ideia, e a gente começou a se organizar, também no periodo do carnaval. A gente pegou e criou o Akomabu, que é uma palavra que significa “a cultura não deve morrer”, em dialeto fon, né? Idealizada inclusive por um africano que tava aqui. Dessa forma, mais ou menos dessa região que surge esse nome. E aí a ideia do bloco é justamente essa, continuar congregando as pessoas no carnaval. ”

Daí, segundo ele, surgiu a ideia de trazer para o Akomabu, temas que tivessem relevância para o público do grupo e para a comunidade negra. Paulinho também relembra o impacto do grupo na época em que foi criado:

“O bloco quando surge no primeiro ano foi um impacto assim, todo mundo ‘que bloco é esse ?’ só preto e só tabarque, cabaça e agogô. Que era uma coisa que era de dentro e que muita gente tinha aquela repulsa, né? Ou então tinha aquele receio e a gente enquanto negão que era da religião, que sabe não, não vamos mostrar e tudo. E quando você chega na avenida ou nas ruas, que ele começa a se apresentar ali pela Praça da Misericórdia, Deodoro, começa a andar aqueles caminhos ali e aí isso começa a se fortalecer.”

Forte ligação com a comunidade

O compositor destaca que, desde o início, as músicas do Bloco Afro Akomabu reforçam identidade e representatividade, com canções como Rainha Negra e 13 de Maio. Essas composições despertaram identificação no público, atraindo milhares de participantes. Em seu auge, o bloco chegou a reunir até 4 mil integrantes, superando escolas de samba locais. Atualmente, o número varia entre 500 e 1.000 membros.

Sobre as atividades do grupo, ele nos informou o grupo realiza ensaios internos e de rua aos sábados e domingos, mantendo forte ligação com a comunidade por meio de espaços religiosos, sociais e associações locais. As atividades são sustentadas por recursos municipais, eventos promovidos pelo grupo e apoio de parceiros.

Além das atividades carnavalescas, o grupo desenvolve projetos sociais e outras atividades. Paulinho nos contou um pouco sobre, feliz com o impacto do grupo na comunidade:

“Então assim, a gente desenvolve trabalho durante o ano todo. Akomabu sempre tá nas escolas, associações, a gente sempre desenvolve oficinas, a gente tem os projetos internos também como “sonho dos erês”, o PED, tem um programa que é voltado para as comunidades negras rurais. Então assim, todos esses projetos, a gente tenta engajar essas pessoas ou trazê-las através deles, entendeu? Então eles participam dos projetos quando chegam aí tem alguns momentos também de informação sobre a própria história da instituição: o que é o Akomabu? que é o centro de cultura negra? Como é que acontece? e aí as pessoas vão se envolvendo “.

Questionado também sobre a participação das novas gerações no bloco, a sensação de ver filhos e netos dos primeiros integrantes fazendo parte do Akomabu. Paulinhos nos respondeu de modo emocionado:

“Isso, isso é muito legal colocar, porque com o fato do Akomabu ter hoje 40 anos, né? De 84 para cá, 40 para 41. Nós temos várias gerações de filhos do Akomabu. Não só é no sentido social dessa coisa do participar, mas também no sentido de se envolver com a luta, de se empoderar a partir da discussão, da informação que ele teve. Então, a gente tem vários filhos nossos formados hoje em universidades; psicólogos, assistentes sociais, cientista mesmo, tudo que você pode imaginar, médico, advogado, tudo que são filhos das figuras que fazem parte dessa instituição.”

Neste Carnaval, o Bloco Afro Akomabu homenageia mulheres operárias e líderes religiosas, destacando sua trajetória nas indústrias têxteis e nas casas de culto, como Casa da Mina e Nagô.

“Então assim, hoje, por exemplo, esse ano vai ter a marcha dos 10 anos das mulheres. Não sei se vocês estão acompanhando que vai rolar em Brasília, que é aquela grande marcha das mulheres negras que rola todo ano, fará 10 anos. Então a gente tá fazendo um link com as mulheres operárias que até hoje também continuam reivindicando, porque com certeza haviam as reivindicações na época de melhor salário, de melhores condições de trabalho, de tudo. Então sempre há um link com a realidade e com a atualidade, né? Todos os temas que a gente traz, a gente tenta trazer para saber como que tá hoje, entendeu?”

O bloco Akomabu carrega há 40 anos o compromisso de transmitir a mensagem do povo negro aos diferentes espaços, garantindo o reconhecimento de lutas e resistência, através da música e da dança, promovendo representatividade para as novas gerações e visibilidade à tradição.

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