Com nova estratégia de comunicação, Lula assume a linha de frente e responde a críticas
Presidente busca se aproximar mais da mídia e, em longa entrevista, rebate críticas e manda mensagens.
Com a popularidade em queda, a inflação elevada e o recuo na fiscalização do Pix, que afetou a imagem do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a liderança para responder às críticas e esclarecer pontos que geraram crises, mirando as eleições de 2026. Sob a orientação do novo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, Lula concedeu uma extensa entrevista coletiva nesta quinta-feira, abordando temas que variaram desde a economia até a política externa.
Lula reconheceu que a insatisfação popular é legítima, afirmando que o governo “não tem cumprido o que prometeu”. Contudo, ele afirmou não se preocupar com os resultados das pesquisas de opinião. “Eu dizia para o Pimenta (Paulo Pimenta, ex-chefe da Secom): não se preocupe com pesquisa, porque o povo tem razão. A gente não está entregando o que prometemos, então, como o povo vai falar bem do governo se não estamos cumprindo?”, explicou.
Apesar disso, o presidente ressaltou que ainda é cedo para avaliar o governo ou fazer previsões sobre as eleições de 2026, dado que a administração tem apenas dois anos. “Cada coisa que eu falar, quero que anotem, porque tudo o que dissermos, vamos entregar”, afirmou.
Um dos maiores desafios do governo tem sido o aumento nos preços dos alimentos, que subiram mais de 8% no ano passado, principalmente devido a eventos climáticos extremos. Lula mencionou reuniões com ministros para discutir a situação e anunciou a redução de tarifas de importação para alimentos mais baratos no mercado externo. Quanto às medidas futuras, o presidente destacou que pretende incentivar a produção agrícola por meio de financiamentos e modernização, além de se reunir com os produtores para entender os motivos da alta, citando a soja e a carne como exemplos. No entanto, garantiu que não tomará medidas radicais.
“Não tomarei medidas de bravata. Não vou fazer cotas, nem sobrevoar fazendas com helicópteros para apreender gado, como aconteceu no Plano Cruzado. O que precisamos é aumentar a produção de tudo o que produzimos”, disse.
Sobre o possível aumento no preço do diesel pela Petrobras, Lula negou ter autorizado o reajuste. A especulação ganhou força após uma reunião entre o presidente e a presidente da Petrobras, Magda Chambriard. “Não autorizei aumento do diesel. Desde o meu primeiro mandato, aprendi que quem autoriza aumento de petróleo e derivados é a Petrobras, não o presidente. Se houver reajuste, ele será menor que o de dezembro de 2022”, afirmou.
Lula ainda comentou a situação dos caminhoneiros, afirmando que, caso se manifestem contra o aumento dos combustíveis, estará disposto a dialogar com a categoria. Além disso, ele lembrou que, neste sábado, o preço do diesel e da gasolina sofrerá aumento devido à elevação do ICMS.
Sobre a gestão da economia, Lula defendeu o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado por ele, apesar de a Selic ter sido elevada para 13,25%. Lula comparou o cenário com o anterior, dizendo que a decisão de aumento de juros já estava praticamente definida pelo governo de Roberto Campos Neto. “O presidente do Banco Central não pode mudar tudo de uma vez. Ele fez o que entendeu ser necessário, e acredito que criará as condições para reduzir os juros quando possível”, afirmou.
O presidente também foi questionado sobre a necessidade de novas medidas de ajuste fiscal após o pacote apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no fim de 2024. “Se for necessário tomar mais medidas ao longo do ano, vamos discutir. Mas, se depender de mim, não haverá outras ações fiscais. O foco agora é no desenvolvimento sustentável do país, com responsabilidade fiscal, sem prejudicar os mais pobres com cortes desnecessários”, disse. Ele ainda destacou que o déficit primário de 0,1% do PIB em 2024 foi motivado pela maior arrecadação, e negou que tenha havido qualquer rombo fiscal durante seu governo.
Lula também rebateu as críticas de Gilberto Kassab, presidente do PSD, que afirmou que o presidente perderia as eleições caso fossem hoje e que Haddad seria “fraco”. “Quando vi as palavras do Kassab, comecei a rir. A eleição é só em dois anos, então não estou preocupado com isso agora”, ironizou. Para ele, a crítica a Haddad seria pessoal e não relacionada à sua atuação no governo. Lula defendeu a importância do ministro na aprovação de pautas como a PEC da Transição e a reforma tributária.
Por fim, Lula enviou recados ao Republicanos, partido que está na base do governo, mas cujos líderes, como Marcos Pereira, têm demonstrado apoio à oposição. “Se o Republicanos vai me apoiar em 2026, vamos ver. Não precisamos antecipar as coisas. Meu foco agora é fazer de 2025 o melhor ano para o governo”, concluiu.
*Fonte: Correio Braziliense