barulho

Fogos de artificio: desafio para pessoas com TEA e para animais

Estudos estimam que entre 56% e 80% das pessoas com TEA apresentam hipersensibilidade. No entanto, a experiência sensorial varia de pessoa para pessoa.

Reprodução

Todo fim de ano, uma operação especial é montada pela família de J. C. Souza, 14 anos. Ela tem espectro autista e tem hipersensibilidade, uma característica comum do TEA (Transtorno do Espectro Autista), em que o sistema nervoso tem dificuldade em processar estímulos sensoriais e ambientais, como luzes e barulhos.

Estudos estimam que entre 56% e 80% das pessoas com TEA apresentam hipersensibilidade. No entanto, a experiência sensorial varia de pessoa para pessoa e pode mudar ao longo do tempo. Algumas pessoas com autismo podem apresentar hipossensibilidade ou não ter sensibilidade em relação a algum aspecto.

Para pessoas no Transtorno do Espectro Autista (TEA) e suas famílias, como a de J.C., a chegada das festas de fim de ano pode trazer desafios significativos. Entre eles, os fogos de artifício frequentemente se destacam como uma fonte de desconforto, devido ao impacto sensorial causado pelo barulho intenso e pela luminosidade.

“Nós adequamos um espaço para que ela fique tranquila. Ela tem fones de ouvido, porque qualquer coisa fora do normal do mundinho dela, ela fica agitada, nervosa. Então, esse período é muito delicado para a gente, embora ela faça terapias que a ajudem com isso”, diz a mãe de J.C, que preferiu se identificar apenas como Maria Souza.

Nós adequamos um espaço para que ela fique tranquila. Ela tem fones de ouvido, porque qualquer coisa fora do normal do mundinho dela, ela fica agitada, nervosa. Então, esse período é muito delicado para a gente, embora ela faça terapias que a ajudem com isso

Sensibilidade auditiva e visual é comum

A sensibilidade auditiva e visual é comum em pessoas autistas, fazendo com que os ruídos imprevisíveis e as luzes piscantes dos fogos provoquem crises de ansiedade, pânico ou comportamentos de fuga. Essa situação é ainda mais desafiadora quando combinada com outras características das festas de fim de ano, como aglomerações, mudanças na rotina e exposição a estímulos variados, incluindo novos alimentos e interações sociais.

Para o docente do curso de psicologia da Wyden, Raimundo Fabrício Paixão Albuquerque, durante as festas, empatia e inclusão são palavras-chave para proporcionar uma melhor experiência às pessoas autistas. “O ambiente social e físico deve se adaptar a elas, e não o contrário. Para tornar o período mais tranquilo e inclusivo, algumas estratégias podem ser adotadas. A família pode preparar a pessoa autista para as mudanças na rotina do período, explicando o que acontecerá, utilizando histórias sociais, cronogramas visuais ou ilustrações, o que ajuda a reduzir a ansiedade e pode evitar surpresas desagradáveis”, pontua.

O professor explica que, como as festividades podem ser sensorialmente sobrecarregastes, é importante reservar um local tranquilo onde a pessoa possa descansar quando necessário. Deve-se respeitar as preferências da pessoa autista, adaptando atividades, comidas e decorações para que ela se sinta confortável, mesmo que isso implique modificar algumas tradições familiares.

Segundo ele, se a pessoa participar de festas maiores ou encontros, é recomendável introduzir esses ambientes gradualmente, começando com visitas curtas ou com eventos menores antes de participar de celebrações mais longas.


“Se necessário, converse com os participantes sobre as necessidades específicas da pessoa autista. Leve itens que proporcionem segurança, como fones de ouvido para abafamento de ruídos ou brinquedos favoritos, que ajudam a pessoa a se acalmar em momentos de estresse. Embora as festividades tragam mudanças, deve-se manter a rotina habitual, como horários de refeições e sono, pois a previsibilidade traz estabilidade”, frisa.

De acordo com o professor de psicologia, é fundamental que cuidadores reservem momentos para seu próprio descanso e procurem apoio em grupos especializados, reconhecendo que quem cuida também precisa ser cuidado. Além disso, em relação ao uso de fogos de artifício tradicionais, a sociedade deve exercer maior empatia, especialmente com pessoas autistas, idosos e animais, que sofrem grande desconforto com o barulho intenso.


“Em relação aos fogos tradicionais, a sociedade precisa ter mais empatia com pessoas autistas, idosos e animais, pois esses fogos causam grande desconforto em diversos grupos. Na verdade, o poder público já deveria ter criado mecanismos legais para reduzir o uso desses materiais, que, com seus barulhos, só agradam a sujeitos sem empatia”, afirmou.

Animais também se afligem


Recentemente, a discussão sobre o uso de fogos de artifício silenciosos tem ganhado força. Algumas cidades já adotaram medidas que proíbem os fogos com estampido, considerando não apenas as pessoas autistas, mas também bebês, idosos e animais de estimação, que também são afetados negativamente pelo barulho.

No dia da celebração do Natal, o cachorro Charlie, da cantora Anitta, precisou ser resgatado por uma guarnição do Corpo de Bombeiros, após cavar um buraco e se esconder embaixo da casa, no desespero por medo dos fogos de artifício.

Situação parecida, mas não tão grave, enfrenta a professora Kátia Pereira. Todas as vezes que o cão Mussarela ouve o barulho de fogos ele chora, treme, e se enfia debaixo da cama por horas, até conseguir ser retirado de lá. “A gente fica com muita pena. Ele fica muito nervoso. E se tivesse como fugir de casa eu acho que ele fugiria. Acho que isso de fogos com barulho deve ser repensado”, disse Kátia.

Os cães têm a capacidade auditiva maior que a dos humanos e, para eles, barulhos acima de 60 decibéis, que equivale a uma conversa em tom alto, podem causar estresse físico e psicológico, segundo o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
Uma pesquisa do Grupo Petlove realizada com mais de 1200 tutores de cães e gatos, apontou que quase 85% dos pets brasileiros têm medo de fogos de artifício ou de barulhos altos.

A maioria dos pets, segundo os tutores participantes, apresenta mais de um sinal de que algo não vai bem quando esses eventos ocorrem, sendo que 72,7% dos afetados tentam se esconder em algum local mais seguro, 58,1% se mostram assustados ou “perdidos” no ambiente e 52,3% apresentam tremores decorrentes desta situação de pânico.

Quer receber as notícias da sua cidade, do Maranhão, Brasil e Mundo na palma da sua mão? Clique AQUI para acessar o Grupo de Notícias do O Imparcial e fique por dentro de tudo!

Siga nossas redes, comente e compartilhe nossos conteúdos:

VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Negócios
Mais Notícias