Solteiros têm mais chances de ter uma doença mental
O estado civil da pessoa vai além de questões de relacionamento ou convenções sociais – ele pode ter impacto significativo no bem-estar mental.
Pessoas sem um relacionamento formal têm até 80% mais chance de desenvolver depressão do que casados. É o que aponta uma pesquisa recente, publicada pela revista Nature Science Behaviour. No Brasil, são 81 milhões de solteiros e 63 milhões de casados, de acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo é preliminar, e os especialistas indicam a necessidade de investigações adicionais para confirmar uma correlação robusta entre estado civil e transtornos mentais. “É importante lembrar que outros fatores de suporte e estilo de vida podem influenciar essa relação”, ressalta a psicóloga Lara Nepomuceno.
A pesquisa analisou dados de cerca de 106 mil pessoas de diferentes países. Dentre os participantes, aproximadamente 4.486 apresentaram sintomas de depressão, e ao cruzar esses dados com o estado civil dos entrevistados, observou-se que os solteiros, divorciados ou viúvos tinham taxas de depressão significativamente mais altas.
99% dos divorciados têm chances de depressão
O levantamento mostra que pessoas divorciadas ou separadas enfrentam um risco de depressão 99% maior que casados, praticamente o dobro, sugerindo que o fim de um relacionamento formal pode deixar essas pessoas mais vulneráveis emocionalmente. No entanto, a pesquisa também alerta que fatores como a ausência de apoio emocional, menor segurança financeira e outros fatores sociais podem contribuir para esse aumento de risco.
“Eu não passei por isso na minha separação. Foram 8 anos de casados, uma tristeza muito grande com o rompimento, mas eu superei. Agora, imagino quem não tem essa maturidade emocional, porque sair de um relacionamento é muito ruim. Envolve muitas coisas”, opina a professora Eliane Duarte, 49 anos.
Para Lara Nepomuceno, os casados, em média, usufruem de maior suporte emocional e recursos financeiros, fatores que ajudam na estabilidade emocional e contribuem para a saúde mental. Além disso, eles apresentam menores taxas de comportamentos de risco, como consumo excessivo de álcool e tabagismo, fatores que são reconhecidamente prejudiciais à saúde mental. “Ter alguém com quem compartilhar problemas e conquistas faz a diferença”, observa Nepomuceno.
A falta de um apoio familiar piorou muito a situação de Douglas (só quis se identificar assim). Casado há 10 anos, se viu de repente sozinho. “Foi uma barra. Meus familiares não moram aqui e não tinha muitos amigos. Afoguei as mágoas na bebida, quase perdi o emprego. Eu não sei nem como eu consegui sair do buraco. Mas aí eu procurei um psicólogo que me ajudou muito a superar”, conta.
Contudo, Nepomuceno reforça que estar solteiro não é sinônimo de infelicidade ou de saúde mental fragilizada. “O bem-estar não depende exclusivamente de ter um parceiro, mas sim da qualidade dos relacionamentos que cultivamos, sejam eles românticos, familiares ou de amizade”, afirma a psicóloga.
Para ela, solteiros podem desfrutar de uma vida plena e satisfatória desde que cultivem relações significativas e estejam bem consigo mesmos.
Para não ficar refém do status civil, a psicóloga recomenda que as pessoas evitem associar a felicidade ou o sucesso apenas a uma vida a dois. “Cultivar autoestima e valorizar as próprias conquistas são essenciais”, aponta. Investir em hobbies, voluntariado e objetivos profissionais também são formas de viver com propósito e autossuficiência. Assim, a vida se torna equilibrada, e qualquer relacionamento é uma escolha, não uma necessidade.
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