O que se sabe sobre morte de empresário envolvido com o PCC executado no aeroporto de Guarulhos
Há uma suspeita de que o empresário tenha sido morto por ordem e com envolvimento de agentes de segurança, e não necessariamente por ordem direta do PCC.
O empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, 38 anos, investigado por envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC), foi morto na sexta-feira (8), no Aeroporto Internacional de São Paulo, alvejado com 10 tiros. A Polícia Federal deu ínicio a um inquérito, neste sábado (9), para investigar a morte.
Gritzbach atuava como agente imobiliário na região leste de São Paulo. Ele começou a realizar transações milionárias com Anselmo Bicheli Santa Fausta, mais conhecido como Cara Preta, há anos. Santa Fausta movimentava milhões de dólares comprando e comercializando entorpecentes e armas para o PCC. Segundo o Ministério Público, Gritzbach teria contribuído para a lavagem de R$ 30 milhões provenientes do tráfico de drogas.
Gritzbach, detido, assinou um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público de São Paulo em março deste ano, com o objetivo de revelar crimes cometidos pela facção e por policiais. Ele chegou a solicitar mais segurança aos promotores, pois foi jurado de morte. No entanto, o Ministério Público alegou que o empresário recusou o reforço na segurança e optou por contratar policiais de folga para a proteção.
Suspeita de participação policial
Gritzbach acusou um delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de pedir propina para amenizar a participação do empresário no assassinato do Cara Preta. Além disso, forneceu informações que levaram à prisão de dois policiais civis que trabalhavam no Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc).
Passagem por Guarulhos
O empresário estava acompanhado da namorada. O casal embarcou de Maceió com destino a São Paulo. Eles viajariam para Vitória, no Espírito Santo, neste domingo (10).
Execução de Gritzbach
Gritzbach foi encontrado morto na área de desembarque do Terminal 2 do Aeroporto Internacional de São Paulo, aproximadamente às 16h. Ele ainda tentou saltar a cerca que separa a via, mas acabou caindo logo depois. O empresário recebeu 10 disparos: quatro no braço direito, dois no rosto, um nas costas, um na perna esquerda, um no tórax e um na área situada entre a cintura e a costela.
A ação foi filmada por câmeras de vigilância. Nas imagens, observa-se o empresário carregando uma mala na área externa, onde existe uma fila de carros, quando dois homens encapuzados descem de um carro preto e realizam pelo menos 29 disparos.
Segundo o boletim de ocorrência do caso, a bagagem trazida por Gritzbach da viagem a Maceió continha mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor. Segundo a polícia, as joias tinham certificados de joalherias como Bulgari, Cristovam Joalheria, Vivara e Cartier.
Reportagem Globo
Uma reportagem da TV Globo revelou que Gritzbach pediu mais segurança ao Ministério Público. A emissora teve acesso a um trecho da reunião, sem data informada.
“Tenho comprovantes de pagamento, tenho contrato, tenho matrícula, tenho as contas de onde vinham o dinheiro, então dá pra gente fazer o caminho inverso. Tenho as conversas de WhatsApp com os proprietários. Eu apresento, doutor, mas cada vez mais eu preciso de mais segurança. Então, eu precisava de um amparo de vocês também do que eu vou ter. Se não, vocês estão falando com um morto-vivo aqui”, revela o áudio da reunião divulgado pela emissora.
Para se proteger, o empresário contratou, por conta própria, quatro policiais militares para fazerem sua escolta particular: Leandro Ortiz, Adolfo Oliveira Chagas, Jefferson Silva Marques de Sousa e Romarks César Ferreira de Lima. No entanto, os seguranças não estavam presentes quando Gritzbach foi morto.
Os seguranças particulares afirmaram que uma falha em um dos carros impediu a chegada deles ao aeroporto de Guarulhos antes da execução. Segundo o relato de dois deles à Polícia Civil, o grupo foi convocado para buscar o empresário e sua namorada no aeroporto.
Conforme o depoimento, eles se dividiram em dois veículos. No primeiro, estavam os agentes da lei Adolfo e Leandro. E no outro, estavam os agentes policiais Jefferson e Romarks, juntamente com o filho e um sobrinho do empresário.
Conforme os relatos, aproximadamente às 15h, eles pararam em um posto de gasolina perto do aeroporto para fazer um lanche. Foi nesse momento que o filho de Gritzbach comunicou aos guardas a chegada do pai.
Segundo os policiais, um dos carros teve problema na ignição e não estava mais ligando. O outro carro já estava a caminho, mas, como estava com quatro pessoas dentro, fez meia volta e retornou ao posto para deixar um dos policiais lá e abrir espaço para o empresário e a mulher.
Quando o carro, ocupado por um dos seguranças, o filho e o sobrinho do empresário estava se aproximando do portão de desembarque, ocorreram os disparos. Investigadores desconfiam que os seguranças teriam falhado de forma proposital. Após identificados, eles foram afastados do trabalho.
Os dois carros utilizados pela escolta da vítima e um terceiro, usado pelos atiradores, foram apreendidos, assim como os celulares dos policiais que faziam a segurança e da namorada do empresário.
A Polícia Civil ainda localizou duas armas na tarde de sábado (9) próximas ao local em que o carro foi abandonado, a pouco mais de 7km do aeroporto, ainda em Guarulhos. Segundo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), são as armas usadas no crime.
Por que a PF também vai investigar o caso?
Por ordem do Palácio do Planalto, a Polícia Federal também vai investigar o assassinato. A avaliação é a de que a forma como o crime ocorreu – o suposto envolvimento de facção criminosa e de agentes públicos, além do local do homicídio no aeroporto mais movimentado do país em plena luz do dia – demandam também uma investigação federal.
Além disso, uma equipe de fora de São Paulo será responsável por garantir a segurança das investigações.
Suspeitos
Existe a possibilidade de que o empresário tenha sido assassinado por ordem e com a participação de agentes de segurança, e não necessariamente por um comando direto do PCC.
Outras vítimas
Os disparos contra o empresário atingiram um motorista de aplicativo. Ele foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Geral de Guarulhos, mas não resistiu e faleceu no sábado (9). Celso Araujo Sampaio de Novais, 41 anos, foi atingido por um disparo de fuzil nas costas.
* Fonte: Correio Braziliense