franceses vs portugueses

Batalha de Guaxenduba: A história que vai além do Maranhão

Há exatos 410 anos, esse confronto militar marcou a expulsão dos franceses do nordeste brasileiro e a vitória portuguesa sobre os franceses na costa norte do país.

Batalha de Guaxenduba (Foto: Reprodução)

Há 410 anos, na manhã de 19 de novembro de 1614, ocorria, no sítio de Guaxenduba, atual povoado de Santa Maria (município de Icatu), um confronto entre franceses e portugueses pela posse do Maranhão. As forças portuguesas estavam sob o comando do mameluco Jerônimo de Albuquerque e o exército francês sob a liderança de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière. O confronto militar ficou conhecido como Batalha de Guaxenduba e marcou a expulsão dos franceses do nordeste brasileiro e a vitória portuguesa sobre os franceses na costa norte do país.


Entrevistamos o professor, pesquisador e historiador Euges Lima, que reiterou a importância do confronto, não só para estabelecer o território maranhense, mas para que grande parte da Amazônia passasse para o domínio português e, posteriormente, brasileiro.


Para contextualizar, Euges conta que os franceses tentaram ocupar o Maranhão em 1612-1613. A costa Norte, onde fica o Maranhão, foi uma das últimas regiões que os portugueses colonizaram. Os franceses que tinham um sonho de fundar uma colônia na América, no Brasil aproveitaram essa oportunidade, uma vez que o local ainda não era colonizado pelos portugueses.

E aí, em 1612 por uma expedição liderada por Daniel de La Touche tentaram fundar uma colônia que eles chamaram de França Equinocial. Os portugueses, 2 anos depois, em 1614, liderado pelo mameluco, mestiço Jerônimo de Albuquerque que era filho de índia e pai português, junto com Diogo de Campos, vieram para o Maranhão e se instalaram na região de Icatu.

“Lá eles construíram um forte com alicerce de pedra, mas de madeira e do outro lado dessa baía, que hoje é a baía de São José, estavam os franceses, também no seu forte onde fica hoje a região do Palácio dos Leões. Então esse era o cenário dessa batalha. Em um dado momento os franceses percebem que essas tropas portuguesas estavam aqui em São Luís, no Maranhão, e na madrugada do 19 de novembro de 1614, o Daniel de La Touche entende que tinha todas as condições de derrotar os portugueses. Porque os portugueses vieram, mas estavam em menor número de soldados, de índios, estavam mal alimentados, era um exército bastante sofrido, debilitado, eles passavam necessidade de várias obras, tinham tudo para perder a guerra, mas de forma surpreendente eles acabaram vencendo”, conta Euges.

Daniel de La Touche atravessou a baía

Achando que já estavam com a batalha ganha, Daniel de La Touche, percebendo a fragilidade do opositor, se encoraja e atravessa a baía de Guaxenduba, que hoje é a Baía de São José, portando uma esquadra de 50 canoas, cerca de 1.500 a 2.000 índios, 400 homens, vários navios. Achando que não havia necessidade de desembarcar com toda a tropa, manda desembarcar apenas 200 homens para combater os portugueses, mas são surpreendidos pela tropa portuguesa.


“Como explicar essa vitória surpreendente dos portugueses? Essa é uma questão que até hoje os historiadores, deduzem e refletem. Uma série de questões, vários erros estratégicos. Então, primeiro, o Daniel de La Touche estava muito autoconfiante, então, a autoconfiança exagerada em qualquer processo de batalha, de guerra, de confronto, não é aconselhável, porque isso faz com que você acabe errando, e foi isso que aconteceu. Ele desembarcou apenas metade das tropas. E aí, o Daniel de La Touche, europeu, e o Jerônimo de Albuquerque, português, criado no Brasil, acostumado a um tipo de guerra mais aos modos do Brasil, diferente da guerra que o Daniel de La Touche estava acostumado, que é uma guerra mais europeia, portanto, uma guerra totalmente diferente com uma guerra que para atacar era preciso avisar antes, tinha todo um protocolo…. E aí quando as tropas de Daniel de La Touche ainda estavam se preparando para embarcar, ele manda uma mensagem para Jerônimo de Albuquerque dando um prazo para ele se render. Ele entendia que ele ia respeitar esse prazo, só que as tropas de Jerônimo de Albuquerque junto com Diogo de Campos, que era uma espécie de oficial, o segundo no comando, não respeitam esse prazo, essa ética aos modos da Europa, e fazem um ataque surpresa. Então, tudo foi uma questão de estratégia. As tropas portuguesas não deram tempo das francesas se organizarem”, conta Euges.


A estratégia acaba sendo acertada. Em seguida, os portugueses dividem a tropa em duas colunas, sendo que uma vai pela praia e outra por uma colina que existia, de forma que essas colunas acabam cercando as tropas francesas.


“Quando o Daniel de La Touche percebe que seus soldados estão sendo derrotados, ele tenta se aproximar, aí já é tarde demais, porque a maré baixa de tal forma que não dá para o navio chegar próximo da praia. Então esse fator natural, a variação das marés que ocorre no nosso litoral, também foi importante para o resultado favorável aos portugueses”, conta Euges.
O fato de o exército francês ter soldados combatentes, mas também colonos que não tinham experiência em batalhar, também fortaleceu a tropa portuguesa. A batalha durou 1 dia.


“Esse é um episódio importante, uma página importante do período colonial da história do Maranhão. Essa vitória dos portugueses é que determina a posse do norte do Brasil desse território para o Brasil, ou seja, 40% do território brasileiro, que é o norte, ficou no nosso território pertencendo a Portugal, depois ao Brasil, por conta desses episódios. Senão, o Brasil teria 40% a menos do seu território, ou seja, todo o norte do Brasil. Portanto, uma batalha que vai para além apenas da questão do Maranhão, mas todo o norte”, disse Euges Lima.

Como explicar essa vitória surpreendente dos portugueses? Essa é uma questão que até hoje os historiadores, deduzem e refletem

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